Por Robert Pearlman
Publicado no Space
As circunstâncias que cercam a morte do primeiro homem a ir ao espaço, Yuri Gagarin, que morreu num acidente aéreo em 1968, têm sido envoltas em teorias e boatos. Agora, o primeiro homem a fazer uma caminhada no espaço diz que pode revelar o que realmente aconteceu com seu amigo e companheiro Gagarin.
Alexei Leonov, que em 1965 tornou-se o primeiro homem a sair de uma nave espacial e flutuar no vácuo do espaço, trabalhou durante anos para saber o que levou à morte de Gagarin. Ele finalmente teve permissão e falou sobre os detalhes em uma entrevista divulgada nesta sexta-feira (14 de junho) pela rede de TV estatal russa Today (RT).
Yuri Gagarin fez história no primeiro voo espacial tripulado, em 12 de abril de 1961, na missão Vostok-1. Ele morreu no tímido sétimo aniversário da missão, em 27 de março de 1968, quando o caça militar MiG-15 que ele e o instrutor Vladimir Seryogin foram pilotar num voo rotineiro de treinamento caiu ao redor de uma pequena cidade perto de Moscou.
Leonov, que era responsável pelos treinamentos de paraquedas no dia, estava nas redondezas e ouviu dois fortes estrondos, esse relato serviu na comissão que investigou o acidente. Os resultados oficiais relataram que Gagarin e o instrutor Seryogin tinham manobrado para evitar a colisão com pássaro ou outro objeto não identificado, e como resultado, o caça entrou em parafuso e caiu no chão.
“Esta conclusão é plausível para um civil, [mas] não para um profissional”, disse Leonov, agora com 79 anos, à RT. “Na verdade, tudo foi para baixo de forma diferente”.
A explicação oficial de como Yuri Gagarin morreu não foi aceita por todos, e não foi só Leonov que duvidou. Muitas teorias, desde técnicas até conspiratórias, foram levantadas nas décadas que se passaram.
O governo soviético, militares e até mesmo a KGB (serviço secreto russo) olharam para algumas das minhas alegações, descartando rumores de que Gagarin tinha sido intoxicado, ou que ele e Seryogin tinha ido “atirar em veados selvagens de seu avião, fazendo com que ele ficasse fora de controle”, como Leonov recontada em “Two Sides of the Moon”, a biografia que ele escreveu com o astronauta David Scott EUA em 2004. As investigações do governo também descartaram sabotagem.
Documentos descobertos em 2003 revelam que a KGB suspeitava que controladores de tráfego aéreo tinham contribuído para o acidente, fornecendo inadvertidamente dados do mau tempo. Gagarin e Seryogin foram levados, supostamente, a crer que um banco de nuvens era maior do que deveria ser, deixando-os muito pouco tempo para se recuperar de uma rotação. Contudo uma outra teoria, apresentada por um ex-coronel da Força Aérea Soviética, propôs que o piloto que havia voado no MiG-15 tinha violado ou fechado uma abertura de ar no cockpit (que deveria estar aberta), levando a Gagarin e Seryogin sofrer de falta de oxigênio.
Pela pesquisa realizada por Leonov, ele concluiu que o primeiro grande estrondo que ouviu foi outro jato quebrando a barreira do som, seguido logo depois pelo som de jato de Gagarin bater no chão.
Erro de outro piloto
“Nós sabíamos que um caça Su-15 foi programado para ser testado naquele dia, mas que deveria voar a uma altitude de 10 mil metros ou mais, e não 450-500 metros”, disse Leonov à RT. “Foi uma violação do procedimento de voo”.
Um novo relatório divulgado confirmou que um jato Sukhoi (Su-15) não autorizado voou perigosamente perto do jato MiG-15, pilotado por Gagarin.
“Enquanto a aeronave estava atingindo a velocidade supersônica, o piloto reduziu sua distância de 10-15 metros nas nuvens, passando perto de Gagarin, virando o jato (de Gagarin) e fazendo-o entrar em pirueta – uma espiral de profundidade, para ser mais preciso – a uma velocidade de 750 quilômetros por hora”, disse Leonov na entrevista à televisão.
Ao ver o relatório divulgado, Leonov também percebeu que o seu depoimento daquele dia havia sido registrado incorretamente. O relatório sugeriu que ele ouviu os fortes estrondos com uma diferença de 15 a 20 segundos, quando na verdade foram 2 segundos.
“Isso sugere que os dois jatos deveriam estar a uma distância menor que 50 quilômetros”, disse Leonov.
Armado com dados do relatório, uma nova simulação de computador foi feita, revelando porque o jato de Gagarin caiu.
“Agora, um jato pode começar uma espiral profunda se um outro avião, maior e mais pesado, passar muito perto e virá-lo. E é exatamente isso o que aconteceu com o jato de Gagarin. Esse fato foi o único que correspondia com todos os nossos parâmetros de entrada”, disse Leonov à RT.
Leonov foi autorizado a contar ao público a história, exceto por um detalhe: o nome do piloto do jato Sukhoi (Su-15), responsável pela queda e morte de Gagarin. O piloto, que agora tem 80 anos, disse que está com a saúde debilitada.
“Foi pedido para eu não divulgar o nome do piloto”, explicou Leonov. “Ele é um bom piloto de teste… e isso não vai consertar nada”.