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Chimpanzés e gorilas são vistos entrando em guerra na selva pela primeira vez

Por David Nield
Publicado na ScienceAlert

Chimpanzés e gorilas não são conhecidos pela violência mútua, e as duas espécies de hominídeos vivem pacificamente juntas em certas áreas – por isso, é surpreendente e triste que os pesquisadores tenham testemunhado disputas letais entre eles pela primeira vez.

Dois encontros separados foram observados no Parque Nacional de Loango, no Gabão, em 2019. Ambas as vezes os chimpanzés excediam em número os gorilas e instigaram os ataques, e nas duas vezes um bebê gorila foi morto.

Em um novo estudo que documenta a guerra, os pesquisadores esperam ajudar a esclarecer sobre o que pode estar por trás da agressão incomum – seja disputas territoriais, competição por recursos ou qualquer outra coisa.

“Nossas observações fornecem a primeira evidência de que a presença de chimpanzés pode ter um impacto letal sobre os gorilas”, disse o primatologista Tobias Deschner, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, na Alemanha.

“Agora queremos investigar os fatores que desencadeiam essas interações surpreendentemente agressivas”.

A primeira interação em fevereiro de 2019 envolveu 18 chimpanzés e cinco gorilas (um dorso prateado, três fêmeas adultas e um infante) e durou 52 minutos. Os chimpanzés encontraram os gorilas no caminho de volta de uma excursão aos territórios vizinhos.

A segunda interação, em dezembro de 2019, envolveu 27 chimpanzés (alguns dos quais estavam envolvidos no primeiro incidente) e sete gorilas (um dorso prateado, três fêmeas adultas, um juvenil e dois bebês) e durou 79 minutos. Aqui, os chimpanzés encontraram os gorilas no início de uma patrulha de fronteira do território.

Dois machos adultos da comunidade Rekambo do Projeto Chimpanzé de Loango, no Gabão, verificando a área. Créditos: Projeto Chimpanzé de Loango / Lara M. Southern.

Em ambos os casos, os chimpanzés conseguiram separar um bebê gorila de sua mãe e matá-lo – no segundo incidente, o bebê gorila foi comido pelos chimpanzés. Os outros gorilas escaparam, enquanto alguns chimpanzés foram feridos no primeiro confronto.

Com essas raras batalhas agora registradas, a próxima pergunta é o que poderia ter causado isso. Os pesquisadores acham que os chimpanzés podem ter visto os bebês gorilas como presas, ou que eles estavam competindo por comida, ou que as lutas eram por território.

“Pode ser que o compartilhamento de recursos alimentares por chimpanzés, gorilas e elefantes da floresta no Parque Nacional de Loango resulte em maior competição e, às vezes, até mesmo em interações letais entre as duas espécies de grandes primatas”, disse Deschner.

Observar as interações entre chimpanzés e gorilas não é fácil – por causa da necessidade de dar-lhes espaço e respeito, das grandes áreas envolvidas, da raridade das populações de gorilas, da natureza do habitat e assim por diante.

Com isso em mente, é possível que as matanças entre essas duas espécies sejam realmente mais comuns do que mostram os registros, mas é interessante notar que os encontros letais aconteceram durante partes do ano quando alimentos como frutas estariam menos disponíveis.

O trabalho no Parque Nacional de Loango continua, e os pesquisadores esperam poder aprender mais sobre as atitudes dos chimpanzés e gorilas entre si e com o resto das espécies de hominídeos.

“Estamos apenas no começo para entender os efeitos da competição nas interações entre as duas espécies de grandes primatas em Loango”, disse a bióloga cognitiva Simone Pika, da Universidade de Osnabruque, na Alemanha.

“Nosso estudo mostra que ainda há muito a explorar e descobrir sobre nossos parentes vivos mais próximos, e que o Parque Nacional de Loango, com seu habitat de mosaico único, é um lugar único para isso”.

A pesquisa foi publicada em Scientific Reports.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.