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Cientistas descobrem componente do RNA enterrado na poeira de um asteroide

Traduzido por Julio Batista
Original de Michelle Starr para o ScienceAlert

Uma amostra extraída de um asteroide distante da Terra confirmou que nucleobases de RNA podem ser encontradas em rochas espaciais.

A análise da poeira trazida do asteroide Ryugu para casa contém uracila – uma das quatro nucleobases que compõem o RNA – além da niacina, uma forma da vitamina B3, que desempenha um papel importante no metabolismo.

Isso se soma a um crescente corpo de evidências de que os blocos de construção da vida se formam no espaço e podem ter sido pelo menos parcialmente entregues à Terra pelo bombardeio de asteroides no início da história do nosso planeta.

“Os cientistas já encontraram nucleobases e vitaminas em certos meteoritos ricos em carbono, mas sempre houve a questão da contaminação pela exposição ao ambiente da Terra”, disse o astroquímico Yasuhiro Oba, da Universidade de Hokkaido, no Japão.

“Como a espaçonave Hayabusa-2 coletou duas amostras diretamente do asteroide Ryugu e as entregou à Terra em cápsulas seladas, a contaminação pode ser descartada.”

Como a vida surgiu e quão comum esse surgimento pode ser na galáxia da Via Láctea são duas questões para as quais a humanidade adoraria saber as respostas. Uma maneira de investigar isso é procurar os blocos de construção da vida no espaço e explorar os mecanismos potenciais para sua entrega de lá para .

Como estamos descobrindo cada vez mais, os blocos de construção para a vida lá fora são abundantes. Eles foram vistos na poeira de formação de planetas e nas nuvens de poeira de formação de estrelas que envolvem o coração de nossa galáxia. E eles foram encontrados em vários meteoritos que penetraram na atmosfera da Terra e caíram no solo.

Juntas, as evidências sugerem que os blocos de construção da vida podem realmente ter sido alienígenas… mas a certeza permaneceu indefinida até que os cientistas pudessem descartar a permeação de material da Terra em rochas espaciais após sua chegada aqui.

Para descobrir o que havia nas amostras originais que Hayabusa-2 trouxe de Ryugu, Oba e seus colegas empregaram uma nova técnica que desenvolveram para a detecção e identificação em pequena escala de nucleobases em pequenas quantidades.

As amostras obtidas de dois locais diferentes no asteroide. (Créditos: Oba et al., Nat. Commun., 2023)

A equipe pegou as duas amostras, obtidas de locais diferentes no asteroide, as mergulhou em água quente e as submeteu a cromatografia líquida de alta performance acoplada à espectrometria de massa de alta resolução por ionização por eletrospray. Esta técnica, quando empregada no meteorito Murchison que caiu na Terra em 1969, rendeu todas as cinco nucleobases canônicas.

A gama de biomoléculas encontradas em Ryugu foi menor, mas ainda significativa, acreditam os pesquisadores.

“Encontramos uracila nas amostras em pequenas quantidades, na faixa de 6 a 32 partes por bilhão (ppb), enquanto a vitamina B3 era mais abundante, na faixa de 49 a 99 ppb”, disse Oba. “Outras moléculas biológicas também foram encontradas na amostra, incluindo uma seleção de aminoácidos, aminas e ácidos carboxílicos, encontrados em proteínas e metabolismo, respectivamente.”

Infográfico da descoberta de uracila (uracil) e niacina (niacin) em amostras recuperadas do asteroide Ryugu. Tradução da imagem: ácido nucleico (nucleic acid), vitamina B (vitamin B), RNA e cofator de metabolismo (metabolism cofactor). (Créditos: NASA Goddard/JAXA/Dan Gallagher)

Os compostos identificados, que se juntam a cerca de 20 aminoácidos encontrados anteriormente em amostras de Ryugu, diferem dos encontrados em outros meteoritos ricos em carbono que caíram na Terra, mas são amplamente semelhantes. Isso sugere que as biomoléculas podem ser bastante comuns em meteoritos carbonáceos e podem ter pegado carona para a Terra durante os períodos de bombardeio de meteoros.

Quanto à forma como eles chegaram aos asteroides, os cientistas acreditam que os compostos contendo nitrogênio podem ter se formado a partir de moléculas mais simples, incluindo formaldeído, amônia e cianeto de hidrogênio.

Estes não foram encontrados nas amostras de Ryugu, mas provavelmente estariam presentes se, no início de sua história, o asteroide ou seu corpo-mãe fosse um cometa, coberto de gelo rico com essas moléculas.

Ryugu, no entanto, é apenas o começo. A NASA coletou uma amostra de outro asteroide, Bennu, e está transportando-a para a Terra para análise. Os primeiros estudos indicam que também contém materiais orgânicos que são consistentes com os blocos de construção da vida.

“A descoberta de uracila nas amostras de Ryugu dá força às teorias atuais sobre a fonte de nucleobases na Terra primitiva”, disse Oba.

“A missão OSIRIS-REx da NASA retornará amostras do asteroide Bennu este ano, e um estudo comparativo da composição desses asteroides fornecerá mais dados para construir essas teorias.”

Parece que o material estelar de que somos feitos pegou carona por meio de asteroides.

A pesquisa foi publicada na Nature Communications.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.