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Cientistas descobriram uma maneira totalmente nova das cobras se moverem

Por Peter Dockrill
Publicado na ScienceAlert

Os cientistas identificaram um modo inteiramente novo de locomoção das cobras. O comportamento de escalada recentemente documentado é algo difícil de ser realizado, mas permite que as cobras subam de forma impressionante em cilindros grandes e lisos.

Os pesquisadores a apelidaram de ‘locomoção do laço’, porque a cobra sobe em postes laçando seu corpo ao redor das estruturas cilíndricas, prendendo-as firmemente em um laço do tronco à cauda.

O fenômeno, que expande o conhecido repertório de escalada de cobras, parece permitir que a cobra-arbórea-marrom (Boiga irregularis) suba por cilindros lisos muito maiores do que em qualquer comportamento de escalada conhecido anteriormente – e pode constituir a primeira forma inteiramente nova de movimento de cobra identificada na história recente.

“Por quase 100 anos, toda a locomoção de cobras foi tradicionalmente categorizada em quatro modos: retilíneo, ondulação lateral, enrolamento lateral e sanfona”, explica uma equipe de pesquisa liderada pela bióloga conservacionista Julie Savidge da Universidade do Estado de Colorado (EUA) no novo paper.

(Créditos: Savidge et al., Current Biology, 2020)

Outro tipo de movimento de cobra, o deslizamento, também é reconhecido por alguns na comunidade científica como uma forma distinta de locomoção e ocorre em superfícies planas. Além disso, alguns sugeriram que as categorizações existentes deveriam ser mais diversas do que as previamente reconhecidas.

Em qualquer caso, a locomoção do laço é bastante diferente de todas as formas reconhecidas de movimento de cobra, e foi uma descoberta casual feita durante um projeto de conservação em Guam, onde a cobra-arbórea-marrom – uma espécie invasora acidentalmente introduzida no território insular dos EUA em meados do século 20 – devastou as populações de pássaros locais (e muito mais).

Ao revisar as filmagens de vídeo de estruturas defletoras de metal experimentais – projetadas para proteger os pássaros evitando que as cobras alcancem as caixas protegidas onde eles estavam – a equipe percebeu algo único.

“Tínhamos assistido cerca de quatro horas de vídeo e, de repente, vimos essa cobra formar o que parecia um laço em volta do cilindro e balançar seu corpo para cima”, explica o pesquisador de medicina selvagem Thomas Seibert .

“Assistimos a essa parte do vídeo cerca de 15 vezes. Foi um choque. Nada que eu já tenha visto se compara a isso.”

 

No movimento observado, as cobras escalaram cilindros lisos e verticais usando a postura corporal distinta em forma de laço, com a cabeça e o pescoço orientados acima da alça corporal posterior que circunda e agarra o cilindro.

Embora a técnica permita que a cobra-arbórea-marrom suba em cilindros com o dobro do diâmetro daqueles onde foram estudados os outros métodos, como o movimento da sanfona – que também envolve agarramento por fricção e é usada para subir árvores e estruturas – não é fácil fazer esse movimento.

“Velocidades lentas, escorregões, pausas frequentes e respiração pesada durante essas pausas sugerem que a locomoção do laço é algo que exige muito esforço”, escreveram os pesquisadores.

“Mesmo que elas possam escalar usando esse modo, elas estão se esforçando bastante”, disse o biólogo Bruce Jayne, da Universidade de Cincinnati (EUA). “As cobras param por longos períodos para descansar.”

(Créditos: Thomas Seibert)

Agora que sabemos sobre a locomoção por laço, os pesquisadores esperam tornar o esforço ainda mais desafiador para as cobras, com novos tipos de barreiras e obstruções projetadas especificamente para conter essa forma inesperada de movimento vertical.

Isso pode soar cruel, mas tudo isso é para dar às populações de pássaros em declínio de Guam – junto com outros membros do ecossistema que dependem deles – uma esperança de sobrevivência em face de uma ameaça mortal que pode rastejar de maneiras que a gente não conhece.

“A maioria das aves nativas da floresta sumiram em Guam”, disse Savidge.

“Esperamos que o que descobrimos ajude a restaurar os estorninhos e outras aves ameaçadas de extinção, já que agora podemos projetar defletores que as cobras não podem enfrentar. Ainda é um problema bastante complexo.”

Os resultados são relatados na Current Biology.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.