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Cientistas encontraram as primeiras evidências de comportamento social em mamíferos

Por David Nield
Publicado na ScienceAlert

Há quanto tempo os mamíferos são criaturas sociais? Pelo menos, desde o Cretáceo Superior na era dos dinossauros, de acordo com um novo estudo, sendo um comportamento social 10 milhões de anos mais antigo do que sugeriam as evidências anteriores.

Estudando fósseis do pequeno roedor Filikomys primaevus (que significa “camundongo jovem e amigável”), datado de cerca de 75,5 milhões de anos, os paleontólogos descobriram evidências de animais andando e vivendo em grupos.

Não estamos falando apenas de adultos criando seus filhotes – o sítio paleontológico em Egg Mountain, no oeste de Montana (EUA), mostra adultos e animais mais jovens cavando e fazendo ninhos em conjunto, talvez uma das primeiras atividades sociais do tipo na história.

“É realmente incrível, penso eu, ver o quão profundamente enraizadas estão as interações sociais nos mamíferos”, disse o paleontólogo Luke Weaver, da Universidade de Washington (EUA).

“Como os humanos são animais sociais, tendemos a pensar que a sociabilidade é, de alguma forma, única para nós, ou pelo menos para nossos parentes evolutivos próximos, mas agora podemos ver que o comportamento social vai muito longe na árvore genealógica dos mamíferos”.

“Os multituberculados são um dos grupos de mamíferos mais antigos e estão extintos há 35 milhões de anos. No entanto, no Cretáceo Superior, eles aparentemente interagiam em grupos de forma semelhante aos esquilos-terrestres modernos”.

Uma reconstrução natural de F. primaevus. Crédito: Misaki Ouchida.

Pensava-se que esse tipo de comportamento social deliberado se desenvolveu após a extinção dos dinossauros, há 66 milhões de anos, principalmente na classe de mamíferos placentários aos quais os humanos pertencem.

No entanto, de acordo com os fósseis, isso não ocorreu – o tipo de rocha em que foram encontrados, o quão bem foram preservados e as características que o F. primaevus compartilha com os animais escavadores modernos, sugerem que essas criaturas antigas eram felizes ao realizarem atividades em conjunto.

Os pesquisadores não conseguiram encontrar nenhuma evidência de marcas de mordidas nos fósseis, então é improvável que os predadores tivessem juntados esses animais – e se eles tivessem sido movidos pelo fluxo de um rio, os fósseis não estariam tão completos quanto estão.

Um bloco de fósseis analisados ​​da Egg Mountain. Crédito: Luke Weaver.

“Esses fósseis são revolucionários”, disse o paleontólogo Gregory Wilson Mantilla. “Assim como os paleontólogos, que estão trabalhando para reconstruir a biologia dos mamíferos desse período, geralmente ficamos presos olhando para os dentes individuais e talvez uma mandíbula que foi levada pelo rio, mas aqui temos vários crânios e esqueletos quase completos preservados no lugar exato onde os animais viviam”.

“Agora podemos ver como os mamíferos realmente interagiram com os dinossauros e outros animais que viveram nessa época”.

Reconstrução artística de um grupo social de F. primaevus em uma toca. Crédito: Misaki Ouchida.

Hoje, cerca de metade dos placentários se socializam dessa maneira (se as pandemias globais permitissem), e o comportamento social também é observado em alguns marsupiais, como os cangurus.

Os humanos andam juntos por diversos tipos de razões além de reproduzir e criar filhos, mas, em termos evolutivos, o comportamento social pode ajudar a evitar predadores, compartilhar recursos e, sobretudo, proteger-se do frio.

Agora, parece que o comportamento social começou muito antes do que pensávamos. Como grande parte do mundo continua lutando contra as restrições de encontros em grupos, isso é um lembrete de que, no fundo, somos animais sociais – algo que a equipe de pesquisa está bem ciente.

“Foi uma loucura terminar esse artigo exatamente quando as ordens para ficar em casa estavam entrando em vigor – aqui todos nós estamos dando nosso melhor para manter o isolamento e o distanciamento social, e eu estou escrevendo sobre como os mamíferos estavam interagindo socialmente desde os tempos que os dinossauros ainda estavam vagando pela Terra”, disse Weaver.

A pesquisa foi publicada na Nature Ecology & Evolution.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.