Traduzido por Julio Batista
Original de Nora Bradford para o Science News Magazine
Pela primeira vez, cientistas registraram ondas cerebrais de polvos se movendo livremente. Os dados revelam alguns padrões inesperados, embora seja muito cedo para saber como os cérebros dos polvos controlam o comportamento dos animais, relatam os pesquisadores em 23 de fevereiro na Current Biology.
“Historicamente, tem sido muito difícil fazer registros cerebrais de polvos, mesmo que estejam sedados”, disse a neurocientista Robyn Crook, da Universidade Estadual de São Francisco, EUA, que não participou do estudo. “Mesmo quando seus tentáculos não estão se movendo, todo o seu corpo é muito flexível”, tornando complicado prender o equipamento de gravação.
Os polvos também tendem a ser mal-humorados e espertos. Isso significa que eles geralmente não toleram o equipamento desconfortável normalmente usado para registrar ondas cerebrais em animais, disse o neuroetólogo Tamar Gutnick, da Universidade de Nápoles Federico II, na Itália.
Para contornar esses obstáculos, Gutnick e seus colegas adaptaram registradores de dados portáteis normalmente usados em pássaros e inseriram cirurgicamente os dispositivos em três polvos. Os pesquisadores também colocaram eletrodos de gravação dentro de áreas do cérebro do polvo que lidam com o aprendizado e a memória. A equipe então registrou os polvos por 12 horas enquanto os cefalópodes cuidavam de suas vidas diárias – dormindo, nadando, comendo etc. – em tanques.
Alguns padrões de ondas cerebrais surgiram nos três polvos no período de 12 horas. Por exemplo, algumas ondas se assemelhavam à atividade do hipocampo humano, que desempenha um papel crucial na consolidação da memória. Outras ondas cerebrais foram semelhantes àquelas que controlam os ciclos de sono-vigília em outros animais.
Os pesquisadores também registraram algumas ondas cerebrais que dizem nunca terem sido vistas antes em nenhum animal. As ondas eram extraordinariamente lentas, oscilando apenas duas por segundo, ou 2 hertz. Elas também eram extraordinariamente fortes, sugerindo um alto nível de sincronização entre os neurônios. Às vezes, apenas um eletrodo captava as ondas estranhas; outras vezes, apareciam em eletrodos colocados bem afastados.
Observar esses padrões é empolgante, mas é muito cedo para dizer se eles estão ligados a um comportamento ou tipo de cognição específico, disse Gutnick. Experimentos com tarefas repetitivas são necessários para entender completamente como essas áreas cerebrais são ativadas em polvos durante o aprendizado.
A nova pesquisa é empolgante, pois fornece uma técnica para futuros pesquisadores observarem a atividade cerebral em polvos acordados e com comportamento natural, disse Crook. Ela poderia ser usada para explorar a atividade cerebral por trás das habilidades de mudança de cor, visão espetacular, padrões de sono e controle dos tentáculos dos animais.
Os polvos são altamente inteligentes, portanto, ao estudar as criaturas “você pode obter ideias sobre o que é importante para a inteligência”, disse Gutnick. “Os problemas que os animais enfrentam são os mesmos problemas, mas as soluções que eles encontram são às vezes semelhantes e às vezes diferentes e todas essas comparações nos ensinam algo.”