Traduzido por Julio Batista
Original de Isaac Schultz para o Gizmodo
Por 3.500 anos, um curioso caso médico ficou enterrado sob o chão de uma construção da Idade do Bronze em Israel. Agora, uma equipe de arqueólogos estudou os restos mortais de dois irmãos ricos enterrados lá, descobrindo que ambos provavelmente lutaram contra doenças infecciosas crônicas na infância. Os dois esqueletos apresentavam sinais de porosidade, lesões e inflamações que sugerem alguma doença crônica, como tuberculose ou lepra. O mais interessante é que um dos crânios foi aberto enquanto o jovem ainda estava vivo, em um caso de trepanação.
A cirurgia cerebral rudimentar pode ter sido uma tentativa de tratar seu corpo doente, mas ele morreu durante ou logo após a cirurgia. A pesquisa da equipe descrevendo os esqueletos foi publicada em fevereiro no PLoS One.
“Temos evidências de que a trepanação tem sido esse tipo de cirurgia universal e difundida há milhares de anos”, disse Rachel Kalisher, arqueóloga da Universidade Brown e principal autora do estudo, em um comunicado da universidade. “Mas no Oriente Próximo, não vemos isso com tanta frequência – há apenas cerca de uma dúzia de exemplos de trepanação em toda a região.”
Os irmãos foram enterrados em Megiddo, um antigo assentamento que teria atravessado a Via Maris, uma rota que ligava regiões importantes como o Egito e a Mesopotâmia. Com base na qualidade dos bens enterrados com os dois homens e nos evidentes cuidados médicos que receberam, os pesquisadores acreditam que os irmãos podem ter sido membros abastados ou membros da elite da comunidade de Megiddo.
A trepanação é feita para aliviar o acúmulo de pressão no crânio. Neste caso, um dos irmãos (com uma altura estimada de 1,67 m e 21 a 46 anos quando morreu) teve um pedaço de aproximadamente 6,5 centímetros quadrados de seu crânio cortado. Embora possa ter ajudado com a pressão, claramente não o beneficiou muito: com base na análise da equipe, o homem morreu poucos dias após a operação, se não durante ela.
A julgar pela forma como os restos mortais dos irmãos foram depositados, a equipe suspeita que o segundo indivíduo (o irmão mais novo, mesmo que apenas por alguns anos) morreu um ou dois anos antes de seu irmão.
É importante ressaltar que os dois irmãos aparentemente não foram excluídos da sociedade, apesar de suas doenças graves, observou a equipe no paper. “Na antiguidade, havia muito mais tolerância e muito mais cuidado do que as pessoas imaginam”, disse Kalisher no comunicado. “Temos evidências literalmente desde a época dos neandertais de que as pessoas cuidaram umas das outras, mesmo em circunstâncias desafiadoras”.
“Não estou tentando dizer que tudo eram flores – havia divisões baseadas em sexo e classe”, acrescentou Kalisher. “Mas no passado, as pessoas ainda eram pessoas.”