Por Mindy Weisberger
Publicado na Live Science
Tenha pena dos sapos que encontrarem cobras kukri asiáticas na Tailândia.
Essas cobras usam dentes largos em forma de faca em suas mandíbulas superiores para cortar e estripar sapos, mergulhando suas cabeças nas cavidades abdominais e se banqueteando de seus órgãos um de cada vez enquanto os sapos ainda estão vivos, deixando o resto do cadáver intocado.
Enquanto você está se recuperando do horror dessa descrição que fizemos acima, “talvez você fique satisfeito em saber que as cobras kukri são, felizmente, inofensivas para os humanos”, disse em um comunicado o herpetologista amador e naturalista Henrik Bringsøe, autor principal de um novo estudo que descreve essa técnica horrível.
Esse terrível hábito de alimentação era até então desconhecido nas cobras. Enquanto algumas arrancam pedaços de suas presas, a maioria das cobras engole suas refeições inteiras.
Os cientistas nunca haviam visto uma cobra mergulhar a cabeça dentro do corpo de um animal para comer órgãos – às vezes, levando horas para fazer isso, relataram Bringsøe e seus colegas.
As vítimas desse horrível processo eram sapos venenosos chamados Duttaphrynus melanostictus, também conhecidos como sapos-comuns asiáticos ou sapos-manchados asiáticos. Eles são encorpados e de pele grossa, medindo cerca de 57 a 85 milímetros de comprimento, de acordo com Animal Diversity Web (ADW), um banco de dados de vida selvagem mantido pelo Museu de Zoologia da Universidade de Michigan (EUA).
Durante a batalha mortal, os sapos lutaram “vigorosamente” por suas vidas, com alguns secretando defensivamente uma substância branca tóxica, de acordo com o estudo.
A terrível estratégia de evisceração das cobras pode ser uma forma de evitar as secreções venenosas do sapo enquanto desfruta de uma refeição saborosa, escreveram os pesquisadores.
As cobras Kukri do gênero Oligodon são assim chamadas porque seus dentes cortantes se assemelham ao kukri, um facão curvado para frente típico do Nepal.
Embora as cobras kukri não sejam uma ameaça para as pessoas, seus dentes podem causar lacerações dolorosas que sangram muito, porque as cobras secretam um anticoagulante especial de suas glândulas orais, de acordo com o estudo.
“Esta secreção, produzida por duas glândulas, chamadas glândulas de Duvernoy e localizadas atrás dos olhos das cobras, são provavelmente úteis enquanto as cobras passam horas extraindo órgãos de sapos”, explicou Bringsøe.
Refeição Macabra
Os pesquisadores descreveram três observações na Tailândia de cobras kukri (Oligodon fasciolatus), que podem medir até 115 centímetros de comprimento, consumindo sapos comuns asiáticos.
No primeiro incidente, ocorrido em 2016, o sapo já estava morto quando as testemunhas descobriram a cena, “mas o solo ao redor dos dois animais estava ensanguentado, indicando que houve uma luta que acabou matando o sapo”, escreveram os cientistas.
A cobra cortou o corpo do sapo balançando a cabeça de um lado para o outro. Em seguida, inseriu lentamente a cabeça na ferida “e, posteriormente, retirou órgãos como fígado, coração, pulmão e parte do trato gastrointestinal”.
Em um segundo evento, uma batalha épica entre uma cobra kukri e um sapo em 22 de abril de 2020 durou quase três horas. A cobra atacou, recuou-se e atacou novamente, detida apenas temporariamente pelo veneno de defesa do sapo.
Depois de finalmente dominar o sapo, a cobra extraiu e engoliu órgãos enquanto o sapo ainda respirava, de acordo com o estudo.
Em 5 de junho de 2020, uma cobra kukri adotou uma abordagem diferente e não estripou o sapo, em vez disso, devorou-o inteiro. Mas em uma quarta observação neste ano, em 19 de junho, a cobra eviscerou um sapo, cortando o abdômen para alcançar sua refeição de órgãos internos.
Sapos jovens potencialmente produzem menos veneno do que adultos, o que pode ter permitido à cobra na observação de 5 de junho engoli-lo inteiro com segurança. Outra possibilidade é que as cobras kukri sejam imunes às toxinas dessas espécies de sapo, mas elas estripam adultos de qualquer maneira porque os sapos são simplesmente grandes demais para engolirem, relataram os pesquisadores.
No entanto, ainda não há dados suficientes para responder a essas perguntas, disse Bringsøe no comunicado.
“Continuaremos a observar e relatar essas cobras fascinantes na esperança de descobrir outros aspectos interessantes de sua biologia”, disse ele.
As descobertas foram publicadas online em 11 de setembro na revista Herpetozoa.