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Cogumelos parecem ter ‘conversas’ elétricas depois que chove

Traduzido por Julio Batista
Original de Russel McLendon para o ScienceAlert

Uma floresta muitas vezes ecoa com os sons de seus habitantes, especialmente após a chuva. Pássaros arrulham e grasnam, insetos gorjeiam e zumbem, sapos coacham.

Mas nem todas as conversas na floresta são audíveis – e nem todas incluem animais.

Em um novo estudo, cientistas no Japão encontraram indícios intrigantes de que a chuva pode levar alguns fungos a se comunicarem usando sinais elétricos subterrâneos.

Os pesquisadores se concentraram em pequenos cogumelos castanhos chamados Laccaria bicolor, que eles encontraram crescendo no chão de uma floresta mista secundária no Centro de Ciências de Campo Kawatabi da Universidade de Tohoku, no Japão.

L. bicolor é um fungo ectomicorrízico que forma relações simbióticas com certas plantas, incluindo muitas árvores grandes como carvalhos e pinheiros. Aumenta o fornecimento de água e nutrientes em troca de carboidratos.

Pesquisas anteriores até sugerem que L. bicolor pode ajudar algumas árvores a se alimentarem indiretamente de animais, atraindo parentes de insetos chamados colêmbolos e matando-os possivelmente com uma toxina, compartilhando o nitrogênio do animal com suas árvores hospedeiras.

Enquanto alguns fungos micorrízicos penetram nas paredes celulares de suas plantas hospedeiras, fungos ectomicorrízicos como L. bicolor constroem “bainhas” subterrâneas ao redor do exterior das raízes de uma árvore.

Essas bainhas são feitas de hifas, os filamentos semelhantes a raízes que alimentam o crescimento de um fungo. Quando as hifas dos fungos micorrízicos se ligam no subsolo, elas formam sistemas interconectados conhecidos como redes micorrízicas. Essas redes subterrâneas foram propostas como uma espécie de “rede interna”, onde florestas inteiras se comunicam por meio de sinais químicos nas raízes das árvores e fungos micorrízicos.

Embora as redes de micorrizas sejam reais, há muito pouca evidência para saber se elas atingem a escala e a complexidade geralmente atribuídas às redes internas. Muitos relatos populares desse fenômeno são exagerados, segundo alguns cientistas.

No entanto, este estudo contribui para um crescente corpo de pesquisa que investiga os detalhes desses relacionamentos, revelando detalhes fascinantes sobre como eles funcionam.

Estudos anteriores mostraram que fungos produzem variações em potenciais elétricos aparentemente em resposta a mudanças em seu ambiente, com pistas sugerindo que esses sinais servem como uma forma de comunicação.

Um estudo de 2022, por exemplo, encontrou padrões de atividade elétrica semelhantes a nervos em alguns fungos que parecem comparáveis ​​à estrutura da fala humana. O estudo identificou até 50 “palavras” diferentes, ou grupos de picos de atividade elétrica, gerados por redes fúngicas.

Pesquisas anteriores também descobriram que as plantas podem enviar sinais elétricos secretos para o subsolo, possivelmente mesmo sem a ajuda de fungos micorrízicos.

Embora picos de potencial elétrico tenham sido observados em fungos antes, às vezes em resposta à água ou a outros estímulos, a maioria dos estudos se concentrou em tipos limitados de fungos cultivados em meios artificiais ou coletados no campo em condições de laboratório, observam os autores do novo estudo.

No novo estudo, os pesquisadores anexaram eletrodos a um aglomerado de seis cogumelos L. bicolor que encontraram crescendo ao lado de uma trilha na floresta.

Os cogumelos foram localizados perto de um carvalho-jolcham (Quercus serrata) e uma Carpinus laxiflora, ambas espécies de árvores simbióticas potenciais para L. bicolor.

Cogumelos de Laccaria bicolor. (Créditos: Dick Culbert/Flickr/CC BY-2.0)

Os pesquisadores monitoraram o potencial elétrico dos cogumelos, medido em milivolts (mV), por cerca de dois dias no final de setembro e início de outubro de 2021. O local do estudo estava inicialmente ensolarado e seco, tendo recebido pouca chuva nos doze dias anteriores, relataram.

Isso mudou em 1º de outubro, no entanto, quando o tufão Mindulle trouxe 32 milímetros de chuva. Uma a duas horas após a chuva, os cogumelos começaram a mostrar novos sinais de atividade.

“No começo, os cogumelos exibiam menos potencial elétrico, e reduzimos isso à falta de precipitação”, disse o ecologista microbiano Yu Fukasawa, da Universidade de Tohoku. “No entanto, o potencial elétrico começou a oscilar após a chuva, às vezes passando de 100 mV.”

Essa flutuação se correlacionou com mudanças tanto na precipitação quanto na temperatura, de acordo com Fukusawa e seus colegas, cuja análise sugere que o sinal elétrico após a chuva mostrou evidências de transporte de sinal entre os cogumelos.

Esse transporte de sinal foi especialmente forte entre os cogumelos localizados mais próximos um do outro no chão da floresta, relataram os pesquisadores, e demonstrou direcionalidade.

Embora o novo estudo esteja longe de ser definitivo, ele acrescenta outra peça intrigante ao quebra-cabeça do papel que os fungos desempenham nos ecossistemas muitas vezes negligenciados, escondidos sob o solo da floresta.

“Nossos resultados confirmam a necessidade de mais estudos sobre os potenciais elétricos dos fungos em um verdadeiro contexto ecológico”, disse Fukasawa.

O estudo foi publicado na revista Fungal Ecology.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.