Por Carlos Eduardo Cherem
Publicado no Universo Online
Pesquisadores da UFTM (Universidade Federal do Triângulo Mineiro) apresentaram nesta sexta-feira (14), em Uberaba (MG), o esqueleto de um crocodilo que habitou o Triângulo Mineiro há 80 milhões de anos. Batizado como “Caipira mineiro”, ou Caipirasuchus mineirus, o crocodilo não rastejava: andava como um cão, era muito veloz e tinha certa de 70 cm de comprimento, entre cabeça e cauda. Um artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista científica PeerJ.
Segundo especialistas da UFMT, o animal pré-histórico é “primo” de três espécies do gênero crocodiloforme (crocodilo) encontradas na região de Monte Alto (SP) e classificadas no início da década de 2010: o Caipirasuchus paulistanus, o Caipirasuchus montealtensis e o Caipirasuchus estemagmate.
O crocodilo caipira mineiro era um predador ágil. Herbívoro (comia plantas) e onívoro (e carne), o animal tinha quatro patas altas, e sua postura e forma de caminhar tinha semelhanças com os cachorros modernos. O caipira mineiro usava sua velocidade, maior que a de outros animais do gênero, para atacar suas presas, e alcançar vegetações mais altas para se alimentar. A espécie era terrestre, ao contrário de outros crocodilos que habitavam a região no período.
“A diferença para os jacarés modernos é que ele possuía hábitos terrestres e um andar ereto. Com sua porção ventral distante do solo, tinha um andar mais para cachorro do que para os jacarés modernos, que praticamente rastejam-se”, diz o geólogo da UFMT, Luiz Carlos Borges Ribeiro, que participou dos estudos de classificação do animal.
“Ele é primo dos crocodilos encontrados em São Paulo. Não é a mesma espécie porque alguns ossos têm formatos diferentes e a couraça típica do animal, que reveste placas ósseas do crocodilo, estão espalhadas por todo o corpo no animal mineiro, e não somente na região do tórax como os exemplares encontrados em São Paulo”, afirma.
“Além disso, a cauda é mais curta e em forma cilíndrica. Isso tudo, e o fato de ser terrestre, nos fizeram concluir que se tratava de uma nova espécie que habitou o Brasil Central no período”, diz o pesquisador.
O animal não deixou herdeiros, explica o especialista. Ele habitou a região no período Cretáceo Superior, há 80 milhões de anos, e sua espécie foi dizimada no evento KT, 65 milhões de anos atrás, quando 70% dos animais terrestres e aquáticos do planeta sucumbiram a um cometa que explodiu no golfo do México, a 7 mil quilômetros da região de Uberaba.