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Como os robôs podem ser usados para melhor compreender o ‘senso de si’ em humanos

Robótica e robôs

Em um artigo de revisão publicado recentemente na Science Robotics, um roboticista cognitivo, um psicólogo cognitivo e um psiquiatra discutem o conceito de “senso de si” em humanos e exploram como os robôs podem ser usados para melhor entender o fenômeno.

A experiência de ser, ou ter, um eu – contido dentro de nossos corpos e capaz de agir no mundo – é natural para todos nós como seres humanos, juntamente com o sentimento de ser o mesmo eu dia após dia e de ver os outros também como sendo eus. Os robôs poderiam ser usados ​​tanto como modelos corporizados do eu (e seus subcomponentes) quanto como plataformas de teste para experimentos psicológicos. Os autores sugerem a possibilidade de gerar em robôs alguns dos processos que contribuem para o “senso de si” em humanos.

A investigação origina-se da ideia de que o senso de si em humanos está intrinsecamente ligado a ter um corpo, senti-lo e experimentar ações e interações. Uma ideia-chave emergente dos estudos de pesquisa atuais em cognição humana é que o senso de si humano não é apenas uma coisa, mas é composto de muitos processos contínuos, como o senso de “posse” de um corpo e o senso de ter “agência”, ou seja, o sentimento de controle sobre as próprias ações.

Hoje, os roboticistas estão buscando construir robôs que possam distinguir de forma confiável seus próprios corpos (a distinção eu-outro) e detectar as consequências de suas próprias ações (agência). Desta perspectiva, os robôs podem servir como modelos corporizados dos processos cognitivos humanos subjacentes ao senso de si. No entanto, os robôs também podem ser usados ​​como sondas experimentais para explorar o senso de si, pois possuem corpos e podem interagir tanto com humanos quanto com seu ambiente.

Os três autores exploram o uso de robôs dessas duas maneiras específicas.

A primeira é programar robôs para simular processos dentro da mente e do cérebro humanos relacionados à experiência do eu, conforme entendido pela psicologia e neurociência. Estudos de pesquisa atuais sugerem que, em humanos, o senso de si se desenvolve como a melhor explicação do cérebro de sua experiência sensorial e de seu próprio papel na geração desses sinais sensoriais. Um robô, sendo um ator fisicamente incorporado, é uma plataforma adequada para testar essas teorias.

A segunda abordagem é usar robôs em experimentos psicológicos onde humanos interagem com eles enquanto os robôs exibem capacidades sociais, como comunicação através da linguagem ou atenção conjunta. Esses experimentos poderiam permitir uma análise de se as pessoas experimentam esses robôs como outros sociais e se os estados mentais que eles têm sobre os robôs são semelhantes aos que eles têm quando interagem com outras pessoas.

Alguns experimentos conduzidos pelo grupo de Wykowska no IIT já mostraram que, às vezes, os humanos desenvolvem um senso de agência conjunta com robôs, quando agem juntos como uma equipe e quando o robô é percebido como um agente intencional.

Os autores também traçam uma conexão entre o desenvolvimento do senso de si em humanos ao longo da vida e a possibilidade de transferir algumas de suas características para os robôs. Por exemplo, aos 4 anos de idade, as crianças têm um senso de si mesmas como existindo ao longo do tempo e de outras pessoas como também tendo eus.

Esses aspectos do eu estão começando a ser investigados em robôs por meio da criação de sistemas de memória para robôs semelhantes à memória autobiográfica humana. No entanto, este trabalho está em estágio inicial; os robôs atuais não têm consciência de si mesmos como persistindo dia a dia, nem estão conscientes de outros (humanos ou robôs) como sendo eus.

O artigo também destaca futuras direções e desafios abertos no entendimento do senso de si através da robótica, especialmente quando este está comprometido em pessoas devido a condições específicas, como esquizofrenia ou autismo. Ao entender essa diversidade, os autores esperam que os cientistas possam obter novos insights sobre os blocos de construção da experiência do eu.

Brendon Gonçalves

Brendon Gonçalves

Sou um nerd racionalista, e portanto, bastante curioso com o que a Ciência e a Filosofia nos ensinam sobre o Universo Natural... Como um autodidata e livre pensador responsável, busco sempre as melhores fontes de conhecimento, o ceticismo científico é meu guia em questões epistemológicas... Entusiasta da tecnologia e apreciador do gênero sci-fi na arte, considero que até mesmo as obras de ficção podem ser enriquecidas através das premissas e conhecimentos filosóficos, científicos e técnicos diversos... Vida Longa e Próspera!