Traduzido por Julio Batista
Original de Carly Cassella para o ScienceAlert
Oito anos depois que a tecnologia foi aprovada pelas autoridades governamentais, pode-se relatar que pelo menos uma criança com DNA de três pessoas diferentes nasceu no Reino Unido.
O anúncio não é exatamente um conhecimento ‘novo’, mas os repórteres do The Guardian conseguiram obter uma confirmação oficial com um pedido de liberdade de informação.
A Universidade de Newcastle, em colaboração com o Newcastle Fertility Center, são pioneiros no que é conhecido como terapia de substituição mitocondrial (TSM), uma forma especial de fertilização in vitro (FIV) projetada para prevenir doenças genéticas graves em futuros bebês.
Assim como qualquer outra pessoa, os bebês concebidos por esse método nascem da fertilização de um único espermatozoide e um único óvulo.
Onde eles diferem é na relação entre o material nuclear que abriga a grande maioria dos genes responsáveis pela formação de um ser humano e a pequena quantidade de DNA não nuclear que ajuda a fabricar as unidades de energia da célula, chamadas mitocôndrias.
Na maioria das pessoas, o óvulo da mãe fornece o núcleo e um grande número de mitocôndrias. Nessas crianças, no entanto, um óvulo doado é responsável por fornecer-lhes o suprimento de mitocôndrias.
Ao todo, apenas cerca de 0,1 por cento do DNA da criança será do doador. Mas essa pequena contribuição pode fazer a diferença entre a vida e a morte, permitindo que pessoas com doenças mitocondriais graves tenham um filho biológico sem medo de transmitir genes mitocondriais mutantes que podem ter dificuldades para fornecer energia suficiente para corpos saudáveis e em crescimento.
O Reino Unido foi a primeira nação do mundo a aprovar o uso da TSM, mas para proteger a segurança e a privacidade de todos os envolvidos, os casos foram mantidos em sigilo.
A Autoridade de Fertilização Humana e Embriologia (HFEA) agora confirmou que menos de cinco bebês nasceram usando o procedimento; de acordo com seu site, 32 pacientes receberam aprovação para o tratamento.
Nenhuma informação adicional foi fornecida.
“A equipe de Newcastle envolvida na realização dos procedimentos é cautelosa e deseja incluir pelo menos alguns dados de acompanhamento dos bebês, além de proteger a privacidade das famílias”, disse o biólogo de células-tronco e geneticista do desenvolvimento Robin Lovell-Badge do Instituto Francis Crick, que não esteve envolvido nos casos.
“Este é um desafio em si. Será interessante saber o quão bem a técnica da TSM funcionou em nível prático, se os bebês estão livres de doenças mitocondriais e se há algum risco deles desenvolverem problemas mais tarde na vida ou, se for do sexo feminino, se seus filhos correm o risco de contrair a doença”.
Um pequeno número de casos em estudos de prova de conceito, por exemplo, sugere que o DNA mitocondrial da mãe ainda pode dominar em bebês nascidos com TSM.
Apesar de liderar o caminho na terapia, os pesquisadores no Reino Unido não foram os primeiros a relatar trazer um bebê de ‘três pessoas’ ao mundo. Cientistas trabalhando no México anunciaram em 2016 que uma criança havia nascido com DNA de três pessoas.
Em 2017, outro bebê de ‘três pessoas’ nasceu na Ucrânia e, em 2019, outra criança nasceu na Grécia.
No Reino Unido, no entanto, os casos são mantidos em sigilo e os pesquisadores estão agindo com cautela.
“O HFEA possui uma estrutura robusta que garante que a doação mitocondrial seja fornecida de maneira segura e ética”, disse Peter Thompson, diretor executivo do HFEA.
“Todos os pedidos de tratamento são avaliados individualmente em relação aos testes estabelecidos na lei e somente após aconselhamento independente de especialistas. Ainda é cedo para um tratamento de doação mitocondrial e o HFEA continua a revisar os desenvolvimentos clínicos e científicos.”
Um porta-voz da equipe de Newcastle disse ao The Guardian que mais informações estão chegando, mas que estão em processo de revisão científica por pares.