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Crânio mostra que uma adolescente anglo-saxã teve o nariz e os lábios cortados fora 1.100 anos atrás

Por Laura Geggel
Publicado na Live Science

Cerca de 1.100 anos atrás, no início da Inglaterra medieval, uma adolescente teve um fim terrível; seu nariz e lábios foram cortados com uma arma afiada, e ela pode ter sido escalpelada, de acordo com uma nova análise de seu crânio.

Ninguém sabe por que o rosto da jovem foi mutilado, mas seus ferimentos são consistentes com as punições historicamente aplicadas a agressores.

Se as feridas dessa mulher foram uma punição, então ela é a primeira pessoa registrada na Inglaterra anglo-saxônica a receber a punição brutal de desfiguração facial, escreveram pesquisadores em um novo estudo, publicado online ontem na revista Antiquity.

“Podemos apenas especular sobre o que aconteceu neste caso, mas a natureza altamente escandalizada dos ferimentos da mulher sugere penalidades para ações específicas, como desvio sexual, ou pelo menos a percepção que eles tinham disso”, disse o pesquisador líder do estudo Garrard Cole, um membro honorário do Instituto de Arqueologia da Colégio Universitário de Londres, ao Live Science por e-mail.

O crânio foi descoberto originalmente na década de 1960, durante escavações anteriores para a construção de um conjunto habitacional na vila de Oakridge, no condado sul de Hampshire, na Inglaterra.

No entanto, os cientistas não analisaram o crânio na época, e não está claro se os restos do esqueleto também estavam enterrados lá.

Em vez disso, o crânio foi colocado em uma coleção organizada pelo que hoje é o Consórcio Cultural de Hampshire. Recentemente, o crânio foi redescoberto durante uma auditoria dessa coleção, e “o crânio ainda estava coberto de terra, indicando que não havia sido examinado”, disse Cole, que decidiu estudá-lo com seus colegas.

Alguns testes revelaram pistas sobre o indivíduo: uma análise anatômica indicou que o crânio pertencia a uma pessoa de 15 a 18 anos; uma análise de DNA mostrou que o indivíduo era do sexo feminino; a datação por radiocarbono sugere que a adolescente viveu em algum momento entre 776 e 899 d.C.; e uma análise de diferentes isótopos, ou variantes, de elementos de seus dentes sugeriram que ela não cresceu em uma área com colinas de calcário, o que significa que ela não nasceu ou não foi criada na maior parte de sua vida no centro ou no leste do sul da Inglaterra. (Elementos da água e alimentos consumidos eventualmente acabam parando nos dentes.)

Em essência, ela pode ter sido uma adolescente estrangeira.

Acima: uma visão close-up do trauma encontrado no crânio do adolescente. Isso inclui (a) uma marca de corte em sua abertura nasal, (b) marcas de corte na parte frontal de seu nariz e, também, (c) na parte de cima, (d) na mandíbula, (e) por baixo do nariz, e (f) um corte afiado no lado direito do crânio. Créditos: G. Cole / Antiquity Publications Ltd.

A equipe também avaliou as feridas no crânio. As marcas ao redor do nariz e da boca eram graves.

“Houve pelo menos dois cortes no osso marcando a lateral da abertura nasal e no osso entre o nariz e os dentes frontais superiores”, disse Cole.

“Ambos os ferimentos parecem ter sido feitos por uma arma afiada de lâmina fina. Por se do período anglo-saxão [entre 410 e 1066], é mais provável que tenha sido uma faca de ferro. A outra arma de lâmina afiada – a espada – seria muito pesada e maciça para isso”.

Os pesquisadores também notaram um corte raso na testa da adolescente, “que interpretamos como uma evidência de remoção de pelos”, disse Cole. Normalmente, o escalpelamento deixa várias marcas de corte, mas é possível que a má preservação do crânio ao longo de centenas de anos tenha obliterado as outras marcas de corte, disse ele.

A adolescente provavelmente não sobreviveu a esse evento traumático, já que as partes das feridas não mostram sinais de cura, escreveram os pesquisadores no estudo.

Mesmo se não considerarmos a remoção dos lábios e do couro cabeludo, “a lesão no nariz do indivíduo poderia ter sido suficiente para causar sua morte, já que a ferida provavelmente teria danificado a rede de artérias na parte de trás de seu nariz”, escreveram os pesquisadores.

Uma vez cortadas, essas artérias teriam jorrado sangue, e ela pode ter morrido sufocada, escreveram.

Os eventos que levaram à sua morte permanecem um mistério. Uma multidão enfurecida a puniu por uma suposta ofensa? As autoridades locais a sentenciaram a uma punição severa por supostamente cometer algum tipo de transgressão ou desvio? Sem mais evidências, os arqueólogos podem nunca saber.

No entanto, “a mutilação facial para mulheres e paralelamente a castração para homens parecem ser uma prática mundial há muito tempo estabelecida”, disse Cole. E embora os governantes anglo-saxões tenham documentado posteriormente essa punição em seus códigos de leis formais durante o século 10, este caso aconteceu antes disso.

“Agora sabemos que a prática aconteceu, mas não temos ideia da frequência com que foi aplicada”, disse Cole.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.