Traduzido por Julio Batista
Original de
Um sepultamento da Idade da Pedra na Finlândia contém os restos mortais de uma criança, bem como uma variedade de bens funerários, penas de pássaros, pelos caninos e fibras vegetais, dando aos arqueólogos uma visão das práticas funerárias daquele período.
Descoberto pela primeira vez em 1991 em Majoonsuo, um sítio arqueológico perto da cidade de Outokumpu, no leste da Finlândia, o túmulo contém os dentes de uma criança que, com base em uma análise dentária, morreu entre as idades de 3 e 10. Arqueólogos da Agência de Patrimônios Finlandês, uma instituição cultural e de pesquisa em Helsinque, determinou que era um sepultamento baseado no solo de ocre vermelho – um solo rico em ferro comumente associado a locais de enterro e arte rupestre – que havia marcado uma estrada de cascalho. A equipe de escavação da agência examinou o local em 2018 e determinou que estava “em risco de destruição”, segundo um comunicado.
Com base na forma trapezoidal de duas pontas de flecha feitas de quartzo, os arqueólogos determinaram que a sepultura data do período mesolítico, ou Idade da Pedra Média, cerca de 8.000 anos atrás. Depois de analisar amostras de solo, os pesquisadores descobriram bárbulas das penas de aves aquáticas que poderiam ter sido usadas para criar uma cama de penas para a criança; eles também encontraram um único fragmento de pena de falcão. Esta pena de falcão pode ter sido uma pena que ajudou a guiar uma flecha, ou talvez uma decoração em uma roupa, disseram os pesquisadores.
Na base do enterro estavam 24 fragmentos de pelos de mamíferos. Enquanto muitos dos pelos estavam muito degradados, os pesquisadores determinaram que três vieram de um canino, possivelmente um lobo ou um cachorro que pode ter sido colocado aos pés da criança como parte do sepultamento. Também é possível que os pelos canídeos tenham vindo de roupas, como calçados feitos de pele de cachorro ou de lobo, usados pela criança, observaram as equipes.
“Cães enterrados com os mortos foram encontrados, por exemplo, em Skateholm, um famoso cemitério no sul da Suécia que remonta a cerca de 7.000 anos”, disse Kristiina Mannermaa, pesquisador e professor associado do Departamento de Culturas da Universidade de Helsinque, no comunicado. “A descoberta em Majoonsuo é sensacional, embora não haja nada além de pelos do animal ou animais – nem mesmo dentes. Nós nem sabemos se é um cachorro ou um lobo.”
Ela acrescentou: “O método usado demonstra que vestígios de pelos e penas podem ser encontrados mesmo em sepultamentos com milhares de anos, inclusive na Finlândia”.
Além disso, os arqueólogos desenterraram fibras vegetais, possivelmente de salgueiros ou urtigas, que poderiam ter sido usadas para fazer roupas ou redes de pesca. Como o solo nesta área da Finlândia é altamente ácido, os arqueólogos ficaram surpresos com o quão bem alguns dos restos orgânicos duraram ao longo dos séculos.
“O trabalho é muito lento e realmente fez meu coração pular quando encontrei fragmentos minúsculos de roupas e móveis antigos, especialmente na Finlândia, onde todos os ossos não queimados tendem a se decompor”, disse o autor principal do estudo Tuija Kirkinen, pesquisador de pós-doutorado no Departamento de Culturas da Universidade de Helsinque, à CNN. “Tudo isso nos dá uma visão muito valiosa sobre os hábitos funerários na Idade da Pedra, indicando como as pessoas prepararam a criança para a jornada após a morte”.
As descobertas foram publicadas em 27 de setembro na revista PLOS One.