Cecílias são criaturas estranhas e misteriosas. Eles se parecem com enormes vermes ou pequenas cobras, mas na verdade são anfíbios sem membros, parentes menos conhecidos de sapos e salamandras. Eles levam vidas secretas, geralmente escondidas no solo ou leitos de riachos.
As mães cecílias desenvolvem uma camada de pele gordurosa para seus bebês arrancarem e comerem. Ele oferece não apenas nutrição para seus filhos, mas também micróbios, fornecendo um kit inicial para o microbioma de seus filhotes, descobriram novas pesquisas.
“Ainda há uma quantidade notável de biologia ceciliana sobre a qual simplesmente não sabemos nada, principalmente porque pode ser difícil de encontrar”, diz o autor sênior David Blackburn, curador de herpetologia do Museu da Flórida. “Até onde sabemos, este é o primeiro estudo publicado de um microbioma ceciliano”.
O pouco que sabemos sobre cecílias desperta mais curiosidade. Eles podem ser pais surpreendentemente amorosos, especialmente para os padrões dos anfíbios. Em algumas espécies, as mães fornecem as refeições de pele para seus filhotes, que têm dentes de leite adaptados de maneira única para ajudá-los a comê-los.
Muitos animais são conhecidos por passar micróbios para a próxima geração através do cuidado parental de alguma forma, mas esta é a primeira evidência direta de que isso acontece em qualquer anfíbio. E de todas as espécies de anfíbios que poderiam ser, os autores do estudo descobriram que isso acontecia em cecílias.
Embora os cecílias sejam enigmáticos, suas habilidades parentais podem torná-los melhores sujeitos para estudar esse fenômeno do que os anfíbios mais conhecidos.
Estudos anteriores de microbiomas de anfíbios produziram poucos resultados conclusivos, explicam os pesquisadores, principalmente porque poucas espécies de sapos e salamandras fornecem qualquer cuidado parental para seus filhos além de botar ovos.
Por outro lado, bebês cecílias podem receber cuidados significativos de suas mães. Mesmo após o término do período de alimentação cutânea (ou dermatofagia materna), uma mãe e seus bebês geralmente permanecem juntos, observam os pesquisadores, enrolando-se juntos como uma família.
“Quando você encontra os ovos, você sempre encontra a mãe”, diz o herpetologista Marcel Talla Kouete, da Universidade da Flórida. “Nunca vi um jovem sem uma mãe responsável.”
Kouete e seus colegas estavam curiosos para saber se a dermatofagia materna poderia ser mais do que apenas um suprimento alimentar, talvez ajudando os bebês cecílias a obter micróbios valiosos de uma forma comparável à forma como os bebês humanos adquirem micróbios do canal de parto e do leite materno.
Eles buscaram respostas estudando a cecília do Congo, Herpele squalostoma, uma espécie da África Central que exibe dermatofagia materna.
Os pesquisadores coletaram amostras da pele e intestinos de vários cecílios – 14 jovens e 15 adultos – e sequenciaram todas as bactérias que ali viviam, juntamente com colônias bacterianas do ambiente circundante.
O estudo descobriu que as bactérias do meio ambiente eram a fonte menos importante para microbiomas de cecílias jovens. Mas todos os juvenis compartilharam pelo menos alguns de seus microbiomas de pele e intestino com suas mães, que obtiveram por meio da alimentação da pele e do enrolamento.
Tal como acontece com os humanos, uma grande motivação para estudar o microbioma de cecílias e outros anfíbios é a esperança de aprender como os micróbios influenciam a saúde geral dos animais.
“Existe uma vantagem evolutiva?” Kouete pergunta . “Se assim for, esses benefícios estão ausentes quando o cuidado parental é contornado?”
Com as cecílias ainda tão envoltas em mistério, novos detalhes como esse podem ajudar muito a expandir nossa compreensão de sua biologia e possivelmente até de seus papéis ecológicos.
“Este estudo é um pouco como sair para o mundo e descobrir todos os sapos que vivem em uma floresta”, diz Blackburn . “Podemos encontrar rãs terrestres, rãs arbóreas e rãs escavadoras; espécies grandes e pequenas; aquelas que se reproduzem desta ou daquela maneira.”
“Com base nessas características, você pode começar a inferir qual o papel que eles desempenham no ecossistema florestal, que é o que gostaríamos de fazer com o microbioma das cecílias”, diz ele.
Traduzido por Mateus Lynniker de ScienceAlert
