Publicado na Science Daily
O Canabidiol (CBD), um derivado medicinal da maconha, foi efetivo em reduzir a frequência de convulsões e foi bem tolerado e seguro para a maioria das crianças e jovens envolvidos em um estudo de um ano liderado pelos especialistas em epilepsia no Centro Médico NYU Langone.
Esses achados fornecem as primeiras estimativas de segurança, tolerabilidade e eficácia do CBD medicinal em crianças e adultos com epilepsia severa e resistente a tratamentos. Liderado por Orrin Devinsky, MD, professor de neurologia, neurocirurgia e psiquiatria e diretor do Centro de Epilepsia Compreensiva na Universidade de Nova Iorque em Langone, o estudo foi publicado na edição de 23 de dezembro da revista Lancet Neurology. Embora outros achados tenham sido divulgados em encontros médicos anteriores – incluindo a conferência da Academia Americana de Neurologia, em 2015 – estes são os primeiros deste estudo a serem publicados em uma revista especializada.
O estudo foi realizado em 11 centros de epilepsia ao longo do país. Pacientes receberam o tratamento oral do CBD, Epidiolex, em um período de 12 semanas. Os resultados mostraram uma redução média de 36.5% nas convulsões motoras, com a frequência media mensal caindo de 30 convulsões por mês no começo do estudo para 15.8 após as 12 semanas do tratamento. O CBD também mostrou ter uma segurança suficiente e foi bem tolerado por muitos pacientes, apesar de alguns eventos adversos isolados.
“Nós estamos muito encorajados pelos nossos resultados mostrando que CBD foi seguro e bem tolerado pela maioria dos pacientes, e que as convulsões diminuíram significativamente”, diz Devinsky. “Mas antes de criar esperanças para famílias que lidam regularmente com a devastação da epilepsia resistente ao tratamento, mais pesquisa, incluindo estudos através de nosso ensaio randômico controlado, são necessários para recomendar definitivamente o CBD como um tratamento para pacientes com convulsões incontroláveis.”
Como o estudo foi conduzido
O estudo foi um ensaio aberto, que significa que tanto os familiares dos pesquisadores quanto os dos participantes estavam cientes de que eles estavam recebendo CBD, um componente da maconha medicinal que não contém propriedades psicoativas. Entre 15 de janeiro de 2014 e 15 de janeiro de 2015, 214 pacientes entre 1 e 30 anos de idade com epilepsia intratável ou resistente aos tratamentos estavam envolvidos no ensaio. Deste grupo, 162 (76%) teve pelo menos 12 semanas de acompanhamento após a primeira dose de CBD e foram incluídos na análise de segurança e tolerabilidade. Ademais, 137 pessoas do grupo original (64%) foram incluídos na análise para determinar a eficiência da droga
Foi dado aos pacientes um regime oral de CBD de 2-5 mg/kg por dia, com a dose sendo aumentada até que ocorra intolerância ou se chegue a uma dosagem máxima de 25 mg/kg ou 50 mg/kg por dia, dependendo do centro de ensaio. As convulsões eram relatadas por familiares ou cuidadores em diários que eram verificados pela equipe do estudo a cada visita.
Exames laboratoriais também foram conduzidos na linha de partida, e depois de 4, 8 e 12 semanas de tratamento com CBD. O estudo mostrou variabilidade nas respostas de tipos individuais de convulsões para o tratamento. Por exemplo, a mudança média no total de convulsões foi de 34.6%, com a maior redução ocorrendo em pacientes com convulções focais e atônicas seguidas de convulsões tônicas ou tônicas-clônicas. Dois pacientes ficaram livres de qualquer tipo de convulsão durante as 12 semanas.
Eventos adversos foram reportados entre os participantes, incluindo cansaço, perda de apetite, diarreia, fadiga e convulsões. A maioria foi leve para moderado e passageiro, mas 20 pacientes tiveram sérios efeitos colaterais relacionados ao uso do CBD, sendo o aumento da intensidade das convulsões ou diminuição do intervalo entre elas o mais comum. Cinco pacientes tiveram que descontinuar o tratamento devido a esses eventos.
Devinsky está atualmente liderando um ensaio controlado randomizado – considerado o padrão ouro para pesquisas científicas – no qual o CBD ou um placebo são prescritos aleatoriamente para os pacientes, de modo que ajude a eliminar qualquer parcialidade.
“Eu me solidarizo com os familiares que estão procurando por respostas e são capazes de tentar de tudo para ajudar seus filhos que estão sofrendo com os efeitos devastadores da epilepsia intratável. Mas nós devemos deixar a ciência, e não histórias anedóticas de sucesso e o grande interesse midiático, liderar esta discussão nacional”, avisa Devinsky. “tomar CBD em uma instalação médica controlada é vastamente diferente de ir para um estado onde a maconha medicinal é legalizada e experimentar com varias dosagens e variedades.”