Pular para o conteúdo

Derretimento do gelo no Alasca ameaça desencadear um megatsunami sem precedentes, alertam cientistas

Por Peter Dockrill
Publicado na ScienceAlert

Cientistas temem que um tsunami gigante e catastrófico no Alasca, desencadeado por um deslizamento de terra que ficou instável após o degelo da geleira, ocorrerá nas próximas duas décadas, temem os cientistas – e isso pode acontecer nos próximos 12 meses.

Um grupo de cientistas alertou sobre as perspectivas desse desastre iminente na Enseada do Príncipe Guilherme em uma carta aberta ao Departamento de Recursos Naturais do Alasca (ADNR) em maio.

Embora os riscos potenciais de tal deslizamento de terra sejam muito sérios, ainda existem muitas incógnitas sobre como ou quando essa calamidade poderia ocorrer.

O que está claro é que o recuo da geleira na Enseada do Príncipe Guilherme, ao longo da costa sul do Alasca, parece estar impactando as encostas das montanhas acima da baía de Barry Arm, cerca de 97 quilômetros a leste da cidade de Anchorage.

A análise de imagens de satélite sugere que, à medida que a Geleira Barry se desloca da baía de Barry Arm devido ao derretimento contínuo, uma grande cicatriz rochosa chamada escarpa está surgindo na face da montanha acima dela.

Isso indica que um deslizamento de terra progressivo e lento já está ocorrendo acima do fiorde, mas se essa face da rocha ceder repentinamente, as consequências podem ser terríveis.

Embora seja remota, esta é uma área frequentada por barcos comerciais e recreativos, incluindo navios de cruzeiro.

Linhas pálidas na escarpa (scarp) acima da geleira Barry (Barry Glacier). Ao lado, as geleiras Cascade (Cascade Glacier) e Coxe (Coxe Glacier). Créditos: Lauren Dauphin / Observatório da Terra da NASA / USGS.

“Foi difícil acreditar nos números no início”, disse um dos pesquisadores, o geofísico Chunli Dai, da Universidade do Estado de Ohio (EUA), ao Observatório da Terra da NASA.

“Com base na elevação do depósito acima da água, o volume de terra que estava deslizando e o ângulo da encosta, calculamos que um colapso liberaria 16 vezes mais detritos e 11 vezes mais energia do que o deslizamento de terra da Baía de Lituya no Alasca em 1958 que provocou um megatsunami”.

Se os cálculos da equipe estiverem corretos, tal resultado beira o impensável, porque o episódio de 1958 – comparado por testemunhas à explosão de uma bomba atômica – costuma ser considerado a maior onda de tsunami dos tempos modernos, atingindo a elevação máxima de 524 metros.

Um evento de falha de encosta muito mais recente de 2015 em Fiorde de Taan, a leste da Baía de Lituya, produziu um tsunami que atingiu 193 metros e os pesquisadores dizem que essas falhas podem ser formadas por várias causas.

“Encostas como esta podem mudar de um deslizamento lento para um deslizamento de terra rápido por conta de uma série de possíveis gatilhos”, explica o relatório de maio.

“Frequentemente, chuvas intensas ou prolongadas são uns dos fatores. Terremotos geralmente causam falhas. O clima quente que leva ao degelo do pergelissolo, neve ou gelo glaciar também pode ser um gatilho”.

Na imagem, o fiorde da Baía de Barry Arm (Barry Arm Fjord); os deslizamentos de terra (landslide) A e B; a Geleira Barry (Barry Glacier); e a encosta com sua face para o noroeste (northwest-facing slope). Crédito: Gabe Wolken.

Desde o lançamento do relatório no início do ano, a análise subsequente do deslizamento de terra analisou pouco ou nenhum movimento das massas de terra na encosta, embora por si só isso não nos diga muito, uma vez que a pesquisa mostra que a face da rocha tem mudado desde pelo menos 50 anos atrás, em alguns pontos acelerando, enquanto diminuindo em outros.

Embora esses tipos de variações sutis ainda estejam sendo investigados, a visão geral é que a velocidade do recuo da geleira aumenta a probabilidade de falhas mais dramáticas em taludes.

“Quando o clima muda, a paisagem leva tempo para se ajustar”, disse o coautor da carta e geólogo Bretwood Higman, da organização sem fins lucrativos Ground Truth Alaska ao The Guardian.

“Se uma geleira recuar muito rapidamente, ela pode pegar as encostas ao redor de surpresa – elas podem falhar catastroficamente em vez de se ajustar gradualmente”.

O monitoramento contínuo por várias organizações – incluindo o ADNR, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional estadunidense e o Serviço Geológico dos Estados Unidos – está acompanhando os desenvolvimentos na Enseada do Príncipe Guilherme, para rastrear movimentos acima da geleira Barry e para aprimorar as previsões das consequências de um megatsunami.

Projeções de tsunami. Na imagem: no vermelho mais escuro, temos a área do deslizamento de terra (landslide) atrás da Geleira Barry (Barry Arm); no segundo tom mais escuro de vermelho estão as zonas de maior perigo, com um tsunami severo mesmo se houver uma falha parcial, abrangendo quase 24 km (15 miles), formando bancos de areia (shoals) e passando Fiorde Harriman (Harriman Fiord) e pela Baía de Barry Arm; por fim, no vermelho mais claro, temos as zonas de perigo reduzido, com impacto variável do tsunami que depende de fatores locais, abrangendo boa parte do Porto Wells (Port Wells) e a formação de um banco de areia (shoal). Créditos: Briggs et al., carta aberta ao ADNR, maio de 2020.

A modelagem preliminar do relatório de maio, que ainda não foi revisada por pares, sugere que um tsunami atingindo centenas de metros de elevação ao longo da costa resultaria de uma falha massiva repentina, propagando-se por todo a Enseada do Príncipe Guilherme e em baías e fiordes distantes da fonte do deslizamento.

Talvez a maior conclusão seja que os impactos do movimento relativamente rápido das geleiras na era das mudanças climáticas podem representar tipos semelhantes de ameaças de deslizamento de terra e tsunami em muitos outros lugares do mundo, não apenas no Alasca.

“É realmente assustador”, disse Higman ao blog GlacierHub da Universidade Columbia (EUA) em maio, comparando os riscos ambientais aos vulcões – algo que a humanidade tem entendido como um perigo geográfico imprevisível e perigoso por muito mais tempo.

“Talvez estejamos entrando em uma época em que precisamos olhar para as paisagens glaciais com os mesmos olhos”.

Os resultados estão disponíveis no site do ADNR.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.