Por Miguel Jorge
Publicado na Gizmodo
Existem alguns organismos fascinantes, possivelmente na lista dos mais “raros” conhecidos pela ciência, que são indestrutíveis e podem até sobreviver ao vácuo frio do espaço. Essas criaturas são os tardígrados, e agora uma nova espécie foi descoberta na superfície de concreto de um estacionamento.
Ocorreu no Japão, e o homem que descobriu esse incrível achado é o pesquisador Kazuharu Arakawa, da Universidade de Keio, que alugou um apartamento na cidade de Tsuruoka quando coletou uma amostra de musgo do estacionamento do prédio para realizar uma análise.
Os tardígraos normalmente habitam musgos, líquens e folhas, então encontrá-lo sob o musgo na superfície de concreto não é tão improvável (embora seja tremendamente complicado). Após um exame subsequente no laboratório, ele encontrou 10 metazoários microscópicos que viviam na amostra. Eles foram extraídos e transferidos para o cultivo em cinco pares separados.
Posteriormente, um desses pares proliferou em sua placa e, com uma análise microscópica e genômica, relevou uma nova espécie de tardígrado Macrobiotus shonaicus, pertencente ao grupo Macrobiotus hufelandi.
Aparentemente, o que diferencia o M. shonaicus são seus ovos, que possuem uma superfície sólida e filamentos flexíveis que se projetam para fora, semelhantes aos de duas outras espécies descritas recentemente, a M. Paulinae, da África, e. a M. Polypiformis, da América do Sul.
O M. shonaicus é a décima quarta espécie identificada no Japão, entre as mais de 1.200 espécies reconhecidas dentro do phylum tardigrada, mas em termos de M. paulinae, é um marco. Como Arakawa explicou à mídia:
“Esse é o primeiro relatório de uma nova espécie neste complexo do leste da Ásia. Ainda precisamos investigar mais amplamente seu ambiente no Japão e na Ásia para entender a diversidade total e como essas espécies se adaptaram aos ambientes locais”.
Outra coisa que distingue o M. shonaicus é sua dieta. Para os cultivos, os pesquisadores alimentaram os organismos com algas, mas a maioria das espécies de Macrobiotidae são carnívoras e se alimentam de rotíferos (filo de animais pseudocelulares microscópicos). Além disso, há também a questão do sexo:
“O M. shonaicus tem dois sexos, onde outros tardígrados que são cultiváveis nos laboratórios têm sido principalmente partenogenéticos (as fêmeas reproduzem sozinhas sem uma população masculina). Portanto, é um modelo ideal para estudar o mecanismo de reprodução sexual e os comportamentos dos tardígrados”.
Em qualquer caso, o mesmo Arakawa lembra que, por fascinantes que sejam várias de suas características, se algo tem sido tão “incomum” nos tardígrados é sua capacidade de superar a adversidade ambiental, uma medida fisiológica que os cientistas ainda não entendem por completo.
Os tardígrados podem perder toda sua água corporal à medida que o ambiente seca e, nesse estado anhidobótico, um tardígrado não está realizando nenhuma função bioquímica e não tem metabolismo. É por isso que é tão fascinante, “essas criaturas voltam à vida após a reidratação, e isso desafia a atual compreensão da vida e da morte”, conclui o pesquisador.