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DNA de mulher antiga é recuperado de pingente de colar de 20.000 anos

Traduzido por Julio Batista
Original de Carly Cassella para o ScienceAlert

Um pingente feito de dente de veado revelou-se um verdadeiro medalhão de informação genética deixado por uma anciã que viveu na Sibéria há cerca de 20.000 anos.

Antropólogos evolutivos do Instituto Max Planck, na Alemanha, encontraram uma maneira de sondar seguramente artefatos antigos em busca de DNA ambiental sem destruí-los e aplicaram-no a uma peça encontrada na famosa Caverna Denisova, na Rússia, em 2019.

Além dos fragmentos de seus cromossomos, nenhum vestígio da mulher em si foi descoberto, embora os genes absorvidos pelo pingente com seu suor e células da pele levem os especialistas a pensar que ela pertencia a um antigo grupo de indivíduos da Eurásia do Norte que estava por lá desde os tempos paleolíticos.

A incrível descoberta abre a ideia de que outros artefatos pré-históricos feitos de dente e osso são fontes inexploradas de material genético antigo. Eles poderiam muito bem esconder informações sobre como nossos ancestrais usaram, carregaram ou vestiram objetos no passado distante.

“Nosso trabalho redefine como os registros culturais e genéticos podem ser vinculados na arqueologia pré-histórica”, escreveram os autores da análise.

O pingente de dente de veado perfurado de uma caverna na Sibéria. (Créditos: Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva)

Praticamente todos os seres vivos deixam leves vestígios de DNA ao seu redor, à medida que se desfazem das células e se decompõem. Nos últimos anos, os cientistas se tornaram surpreendentemente bons em encontrar esses remanescentes de DNA ambiental – ou eDNA – no ar e no solo.

Com apenas um traço de material genético, os especialistas agora podem detectar a presença de populações ameaçadas que, de outra forma, seriam impossíveis de rastrear usando técnicas tradicionais.

Eles podem até descobrir sinais de espécies que há muito tempo se mudaram de um local ou foram extintas completamente. Em dezembro de 2022, uma equipe internacional de cientistas usou com sucesso a análise de eDNA para decodificar o material genético mais antigo de todos os tempos, datado de 2 milhões de anos.

Esta última inovação na extração de eDNA usa uma mistura especial de produtos químicos para penetrar em um artefato poroso, como aqueles feitos de dentes ou ossos, liberando fragmentos de DNA escondidos dentro.

“Pode-se dizer que criamos uma ‘máquina de lavar’ para extrair informações de artefatos antigos dentro de nosso laboratório”, explicou a antropóloga evolutiva Elena Essel, do Instituto Max Planck.

“Ao lavar os artefatos a temperaturas de até 90°C, conseguimos extrair o DNA das águas do processo de lavagem, mantendo os artefatos intactos.”

Após anos de testes, esta técnica de ‘máquina de lavar’ foi usada em um pingente de dente de veado encontrado em uma caverna onde hoje é a Sibéria russa.

“A quantidade de DNA humano que recuperamos do pingente foi extraordinária”, disse Essel, “quase como se tivéssemos amostrado um dente humano”.

Ilustração artística do colar de dente de veado com uma cadeia de dupla hélice fictícia. (Créditos: Myrthe Lucas)

O número de cromossomos X no DNA humano sugere que ela era uma mulher. Combinadas com registros de pessoas contemporâneas, as sequências eram mais semelhantes a duas populações que viviam mais a leste na Sibéria, cerca de 17.000 e 24.000 anos atrás. Comparado com as populações modernas, o material genético se alinhava mais com os nativos americanos.

Em teoria, se essa mulher usasse o pingente como imaginado, provavelmente teria absorvido as células de sua pele, suor, sangue ou saliva ao longo do tempo – tornando-se um medalhão de seu DNA sem que ela soubesse.

“Os cientistas forenses não ficarão surpresos com o fato de o DNA humano poder ser isolado de um objeto que foi muito manuseado”, disse o bioquímico Matthias Meyer, “mas é incrível que isso ainda seja possível depois de 20.000 anos”.

A equipe de Max Planck agora planeja usar sua técnica não invasiva em mais objetos pré-históricos feitos de ossos ou dentes.

Com a análise de eDNA, a esperança é revelar outros cenários negligenciados do passado.

O estudo foi publicado na Nature.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.