Pular para o conteúdo

Dois lagartos africanos usam diferentes estratégias de sobrevivência para enganar os mesmos predadores

Por Neil Heideman
Publicado no The Conversation

Aptidão, o modo que o naturalista Charles Darwin conceituou, refere-se a habilidade dos organismos de sobreviver e se reproduzir com sucesso.

Sucesso reprodutivo reside na habilidade da espécie de ter proles que também sejam capazes de sobreviver e se reproduzir, assim como as suas proles destas proles e assim por diante na linha de descendência.

Espécies otimizam as suas aptidões Darwinianas – e a sua sobrevivência a longo prazo – de formas diferentes. Ambos adultos e proles experienciam desafios para a sua sobrevivência nos ambientes onde vivem, e espécies têm desenvolvido estratégias para lidar com essas pressões do ambiente.

Esses processos evolucionários são direcionados pela seleção natural, que favorece os indivíduos mais bem equipados para sobreviver e se reproduzir. Seus números na população aumentam com as gerações. Os números de indivíduos mal equipados diminui com as gerações.

Uma pressão ambiental experimentada por espécies, em geral, é a predação. Eliminando os indivíduos menos aptos com o tempo, a predação pode levar a população a aumentar a sua aptidão em termos de sobrevivência e sucesso reprodutivo.

Esse parece ser o caso em duas espécies de répteis que estudamos por vários anos na Namíbia. As duas espécies de agamídeos africanos (uma família de lagartos) do sul da África, tem estratégias de sobrevivência e reprodução completamente diferentes. A razão pode estar nos seus predadores.

Diferentes adaptações

A primeira espécie, Agama planiceps, a maior das duas, é facilmente vista de longe pelo seu corpo colorido. Vive em grupos em formações rochosas em áreas de savana. Machos defendem agressivamente os seus territórios durante a época de reprodução.

Durante esse tempo, a sua cabeça, garganta e cauda ficam laranja-avermelhado brilhante, e o seu corpo e pernas roxo brilhante. Fêmeas não passam por mudanças na sua aparência normal, com a cabeça com pintas amarelas e o corpo preto.

Cada macho defende um território com pelo menos outras duas fêmeas adultas e junto a vários subadultos machos e fêmeas.

Agama aculeata, por outro lado, é uma espécie solitária e bem camuflada pela cor do seu corpo. Vivem em áreas planas e arenosas da savana. Os machos também defendem territórios, embora de forma menos agressiva que os machos planiceps.

Machos e fêmeas formam pares reprodutores monogâmicos. A cabeça e garganta de machos ficam azul escuro, enquanto fêmeas desenvolvem uma coloração azul claro na cabeça e manchas marrons no tronco quando carregam ovos.

Apesar de muitos aspectos da sua biologia ser similar, as duas espécies de agamídeos tem diferentes comportamentos sociais e características reprodutivas. Acreditamos que essas diferenças provavelmente evoluíram em resposta aos diferentes níveis de predação que as espécies sofreram.

Baseado nas suas diferenças de coloração do corpo, pode ser deduzido que eles não são igualmente detectados por predadores que caçam pela visão e, portanto, devem diferir no que diz respeito a pressão predatória que sofrem.

Na área que o estudo foi conduzido, o mangusto-amarelo e o peneireiro-vulgar foram dois dos predadores que caçavam ambas as espécies.

Em lagartos, caudas machucadas são sinais de predação – mas também de uma fuga bem sucedida. A porcentagem de caudas machucadas nos altamente visíveis Agama planiceps foi o dobro do menos visível Agama aculeata. Isso, na nossa visão, indica maior pressão ambiental de predação na espécie Agama planiceps.

As fêmeas planiceps são maiores que as fêmeas aculeata. Mas elas carregam em média somente metade do número de ovos. A massa total da ninhada como uma porcentagem da sua massa corporal foi também metade das fêmeas aculeata. Os ovos das planiceps são maiores que do que os das fêmeas aculeata; bem como os jovens recém-nascidos.

Então quais vantagens adaptativas essas diferenças oferecem as duas espécies em termos de lidar com a pressão predatória e maximizar a sua sobrevivência e o seu sucesso reprodutivo?

O que tudo isso significa

No caso do colorido planiceps, ser mais social deve dar a vantagem de vigilância em grupo e a oportuna detecção de predadores. A camuflagem e o comportamento solitário dos aculeata, por outro lado, deve significar que é mais difícil que os predadores os detectem.

O maior tamanho dos planiceps machos, fêmeas e filhotes pode proporcionar a eles maior velocidade em corridas contra ataques predatórios.

É provável que o planiceps maximizem as perspectivas de sobrevivência dos genes masculinos pela sua distribuição entre os ovos de várias fêmeas. Fêmeas, por sua vez, devem se beneficiar de ter uma prole que carregue os genes de machos fortes e saudáveis, bem como viver em territórios com bons recursos em termos de alimentação (principalmente insetos) e abrigo.

A monogamia do solitário aculeata, em contrapartida, deve reduzir a detecção por predadores à medida que a espécie se move menos. Isso iria maximizar a sua sobrevivência. E o número alto de prole que elas produzem deve maximizar o seu sucesso reprodutivo.

Uma ninhada mais leve carregada pela fêmea planiceps pode garantir que ela seja capaz de correr rápido o suficiente para escapar de ataques predatórios. Filhotes maiores também podem correr mais rápido para escapar de predadores.

Os filhotes permanecem em grupos, o qual pode dar a eles a vantagem de confundir predadores por se espalhar em todas direções durante o ataque.

Dada a suposição que a camuflagem e o comportamento solitário protege os aculeata contra predadores ao invés da velocidade para correr, não é uma surpresa que as fêmeas da espécie carregam ovos muito mais pesados do que as fêmeas planiceps.

Frequentemente, as fêmeas aculeata ficam tão sobrecarregadas que mal conseguem correr. Seus filhotes menores e camuflados são também solitários e extremamente difíceis de encontrar, até mesmo para olhos treinados.

Eles geralmente permanecem parados e só correm para abrigos quando algo se aproxima demais, o que deve ser útil para lidar com predadores.

Dadas essas descobertas sobre os seus comportamentos sociais e características reprodutivas, e as diferenças nas caudas danificadas encontradas entre eles, há um grande caso de que a predação é o que moldou as suas estratégias de sobrevivências e sucesso reprodutivo.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.