Traduzido por Julio Batista
Original de Evan Gough para o Universe Today
É sempre um dia triste quando uma missão chega ao fim. E é ainda mais triste quando a missão nunca foi realmente iniciada.
É a situação que encontra a sonda InSight da NASA. A missão inteira ainda não acabou, mas o chamado Mole (Toupeira, em português), o instrumento projetado e construído pelo Centro Aeroespacial Alemão, foi declarado morto.
O Mole é parte do Fluxo de Calor e do Pacote de Propriedades Físicas (HP3) da missão. É um instrumento projetado para medir o calor que flui do interior de Marte para a superfície. Toda a missão InSight (abreviação de Interior Exploration using Seismic Investigations, Geodesy and Heat Transport) foi focada em descobrir mais sobre o interior de Marte.
O HP3 é provavelmente o instrumento mais importante e complicado do módulo de pouso. Portanto, perdê-lo é um grande impacto negativo para a ciência. Mas sua implementação sempre seria complicada, e os projetistas de missão sabiam disso.
O trabalho do Mole era cavar na superfície marciana a uma profundidade de até 5 metros. Uma corda conectaria o Mole ao módulo de pouso e, ao longo dessa corda, estariam os sensores de calor uniformemente espaçados. Ao estudar as propriedades térmicas do interior do planeta, os cientistas poderiam ter aprendido muito sobre sua história geológica.
Mas colocar o instrumento no chão seria sempre algo complicado. O Mole é um instrumento que “martela a si mesmo” e foi projetado para descer lentamente até a superfície.
As limitações de peso e energia da missão significavam que uma forma mais potente e enérgica de enfiar o instrumento no solo não era viável
Desde o início de sua implantação em março de 2019, o Mole enfrentou problemas. No início fez algum progresso mas, depois de penetrar alguns centímetros, parou.
Inicialmente, a equipe da missão achou que o instrumento estava sendo bloqueado por uma pedra.
A Universe Today cobriu a saga do Mole em uma série de artigos. Houve sinais de progresso e sinais de desespero ao longo do caminho. Mas, com o tempo, ficou claro o que impedia o Mole de cumprir seu potencial.
A superfície de Marte, onde a sonda InSight está situada, é coberta por um tipo de solo chamado duricrust. É uma camada compactada de solo que não cai no buraco feito pelo Mole à medida que o instrumento desce. Isso é um problema.
O Mole depende do atrito entre ele e seus arredores. Mas, como o duricrust é muito sólido e não flui para o orifício, ele não fornece o atrito necessário.
A equipe da missão tentou de tudo para suprir o atrito que faltava. Eles usaram a concha do braço do instrumento para pressionar o Mole. Eles usaram a concha para fornecer pressão lateral no Mole. E eles a usaram para tentar colocar a terra necessária no buraco. Cada método fornecia alguma esperança, mas no final, o Mole não conseguia se aprofundar o suficiente para fazer a ciência.
Agora, o Mole foi declarado morto, após 500 “marteladas” finais e, infelizmente, inúteis, em janeiro.
“Demos tudo o que tínhamos, mas Marte e nosso heroico Mole continuam incompatíveis”, disse o principal investigador da HP3, Tilman Spohn da Centro Aeroespacial Alemão.
Mas nem tudo está perdido.
Os outros instrumentos da sonda, incluindo seu sismômetro, ainda estão funcionando. Portanto, a missão ainda tem valor científico. E embora o Mole tenha falhado, apesar dos melhores esforços da equipe da NASA e do Centro Aeroespacial Alemão, o fracasso pode servir como uma semente para o sucesso no futuro.
“Felizmente, aprendemos muitas coisas que irão beneficiar as missões futuras que tentam cavar o subsolo”, disse Spohn.
Esta é a primeira vez que uma missão tenta cavar a superfície marciana dessa forma, então todo o trabalho foi em território desconhecido. Não havia como saber o que de fato aconteceria com o Mole. Mas foi um episódio fascinante, pois os membros da equipe do Mole tentavam descobrir cada passo adiante.
“Estamos muito orgulhosos de nossa equipe que trabalhou duro para fazer a InSight estudar mais a fundo o planeta. Foi incrível vê-los solucionando os problemas a milhões de quilômetros de distância”, disse Thomas Zurbuchen, administrador associado de ciência na sede da agência em Washington.
“É por isso que corremos riscos na NASA – temos que empurrar os limites da tecnologia para aprender o que funciona e o que não funciona. Nesse sentido, temos tido sucesso: aprendemos muito o que beneficiará futuras missões para Marte e em outros lugares, e agradecemos nossos parceiros alemães do Centro Aeroespacial Alemão por fornecer este instrumento e por sua colaboração.”
Outras missões nos deram uma visão clara da superfície marciana. Os projetistas da missão pensaram que o design do martelo do Mole lhe daria a melhor chance de cumprir sua missão. Pelas aparências, foi a escolha certa. Mas o duricrust foi uma surpresa e provou ser um obstáculo grande demais para ser superado. Embora tenha falhado, todo esforço foi algo sem precedentes desde o início.
“O Mole é um dispositivo pioneiro. O que tentamos fazer – cavar tão fundo com um dispositivo tão pequeno – não tem precedentes”, disse Troy Hudson, cientista e engenheiro do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA no sul da Califórnia que liderou os esforços para fazer o Mole ir mais fundo na crosta marciana.
“Ter tido a oportunidade de levar isso até o fim é a maior recompensa.”
As outras partes da missão do InSight estão em andamento. O SEIS (Seismic Experiment for Interior Structure, ou Experimento Sísmico para Estrutura Interna, na tradução livre) ainda está ocupado analisando martemotos e outros eventos, e o instrumento RISE (Rotation and Interior Structure Experiment, ou Experimento de Rotação e Estrutura Interior, na tradução livre) ainda está trabalhando para descobrir o tamanho do núcleo rico em ferro de Marte. A estação meteorológica do módulo de pouso também está funcionando.
O InSight foi lançado em maio de 2018 e pousou em Marte em 26 de novembro de 2018. O Mole foi implantado em 12 de fevereiro de 2019. A missão foi estendida até dezembro de 2022.