Traduzido por Julio Batista
Original de Jennifer Nalewicki para a Live Science
Os restos mortais de uma anacoreta medieval – essencialmente uma eremita religiosa – enterrada em uma posição encolhida incomum em um local da igreja na Inglaterra revela que ela morreu com sífilis e artrite, descobriram os arqueólogos.
As descobertas levantam questões sobre como uma eremita religiosa poderia ter adquirido uma infecção sexualmente transmissível (DST), mas podem potencialmente explicar sua posição incomum no sepultamento.
O esqueleto foi desenterrado em 2007 durante uma escavação na Igreja de Todos os Santos, em York. Arqueólogos acreditam que os restos mortais possivelmente pertençam a Lady Isabel German, que viveu uma vida reclusa dentro de um único cômodo da igreja durante o século 15, de acordo com um estudo publicado em 16 de dezembro na revista Medieval Archaeology.
O que impressionou os arqueólogos foi como a mulher foi enterrada em uma posição encolhida dentro de uma pequena sala localizada atrás do altar da igreja. O posicionamento estranho do corpo é considerado uma raridade para sepultamentos durante este período de tempo.
“A localização do esqueleto na abside sugere que se tratava de uma mulher de alto status”, disse a primeira autora do estudo, Lauren McIntyre, osteoarqueóloga da Oxford Archaeology Limited, na Inglaterra, em um comunicado, “mas a posição encolhida do sepultamento é extremamente incomum para o período medieval.”
O novo estudo sugere que o posicionamento de Lady Isabel pode ter sido causado por sua artrite ou pelo espaço apertado que lhe foi atribuído. Também é possível que ela tenha morrido nessa posição e que o rigor mortis se manifestou antes que ela pudesse ser enterrada, escreveram os autores no estudo.
Depois de fazer a datação por radiocarbono e analisar os restos mortais, os pesquisadores determinaram que a anacoreta “estava vivendo com artrite séptica e também sífilis venérea avançada. Isso significaria que ela viveu com sintomas graves e visíveis de infecção afetando todo o corpo e, posteriormente, causando declínio neurológico e de saúde mental”, disse McIntyre.
Os pesquisadores do estudo notaram a possibilidade de que o único osso que exibia sífilis – uma parte do crânio que ficava separada do indivíduo – pode ter vindo de um esqueleto diferente cujos restos foram “encontrados no lado oposto do cemitério”. No entanto, eles encontraram várias lesões em outras partes do esqueleto que sugeriam sífilis, de acordo com o estudo.
Embora os pesquisadores possam apenas especular sobre como ela adquiriu uma DST enquanto vivia uma vida de reclusão, eles acham que é possível que a doença tenha permanecido inativa durante os 28 anos em que Lady German viveu no local, de acordo com documentação contemporânea, ou que, ao se isolar, ela acreditava que estava fazendo penitência por adquirir a DST muitas vezes desfigurante, que pode se revelar na forma de feridas e erupções cutâneas que marcam o corpo, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA.
“Não temos informações sobre as circunstâncias em que isso ocorreu. O contato sexual pode ter ocorrido durante relações consensuais ou ocorrências não consensuais, como estupro”, escreveram os autores no estudo.
“Lady German viveu em um período da história em que normalmente pensamos na existência de uma forte associação entre doenças visíveis e desfigurantes e pecado, com esse tipo de sofrimento visto como um castigo de Deus”, disse McIntyre no comunicado. “Embora seja muito tentador sugerir que alguém com uma doença desfigurante visível seria rejeitado ou desejasse se comprometer a viver como anacoreta como forma de se esconder do mundo, esta pesquisa mostrou que esse pode não ser o caso. Uma doença tão grave também poderia ter sido visto positivamente, sendo enviado por Deus para conceder o status de mártir a alguém especial.”