Uma pequena lesma pode ter encontrado uma forma surpreendente de sobreviver à ação de seus predadores e, ainda, ajudar na propagação de sua espécie diferentes regiões. A estratégia, desenvolvida pela minúscula Tornatelides boeningi, é incomum porque não envolve nenhuma camuflagem ou substância venenosa. Ao invés de bater de frente com os pássaros muito maiores que seu 0,25 centímetro, a lesma muito comum na ilha Hahajima (mil quilômetros ao sul de Tokyo) pode ter se adaptado para sobreviver ao processo de digestão das aves.
É o que sugere um estudo realizado pela Tohoku Univesity, do Japão. A pesquisa teve como ponto de partida os dados coletados por outros pesquisadores que, ao analisar as fezes de aves japonesas conhecidas como Olhos-brancos, encontraram um número surpreendente de conchas de lesmas intactas, especialmente as de T. boeningi.
Luz no fim do túnel
Com base nesses dados preliminares, um estudante de graduação chamado Shinichiro Wada juntou seus colegas e deu 119 lesmas de comer para Olhos-brancos cativos, além de 55 para aves conhecidas como Bulbul de orelhas castanhas, outro predador comum na vida das pequenas T. Boeningi. Como resultado, cerca de 15% das lesmas sobreviveu à aventura e uma delas, aliás, deu à luz filhotes assim que saiu do intestino do pássaro.
Além de sobreviver ao ataque de um predador muito maior, as lesmas podem estar aproveitando essa carona para se espalharem geograficamente. Isso porque a viagem pelo sistema digestivo das aves pode durar entre 30 minutos e duas horas e durante esse tempo o predador pode voar para regiões diferentes.
A equipe de pesquisa descobriu que a população de T. boeningi é melhor distribuída do que o grupo de lesmas cujas conchas não conseguem sobreviver ao processo de digestão das aves. Em outras palavras, os animais que não possuem a habilidade de pegar esse tipo curioso de carona não tendem a alcançar novos locais para viver.
Estratégia de sobrevivência
Mesmo com esses dados, a tática exata usada pelas lesmas para sobreviver após serem comidas ainda não está bem clara. O tamanho pequeno pode evitar que as conchas da T. boeningi sejam quebradas, mas não justificam a sobrevivência no ambiente inóspito que é encontrado durante o processo de digestão.
A chave para isso, aponta Wada, estaria na habilidade que essa e outras lesmas têm de selar seus corpos com uma mucosa. Para ele, esse seria um fator importante para a resistência maior ao contato com os fluidos digestivos.
O estudo sobre a T. boeningi foi publicado em 2011 no Journal of Biogeography. Você pode acessar o resumo do artigo (em inglês) pelo link: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1365-2699.2011.02559.x/abstract
Fonte: National Geographic Daily News.
Foto: Shinichiro Wada.