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Esta criatura antiga usou um tridente para guerrear por sexo há 400 milhões de anos

Traduzido por Julio Batista
Original de David Nield para o ScienceAlert

Um estranho exemplo de um antigo invertebrado conhecido como trilobita pode ter usado a distinta estrutura semelhante a um tridente em sua cabeça para ‘lutar’ pelo direito de acasalar com as fêmeas, espetando e virando de cabeça para baixo rivais no fundo do mar para colocá-los fora de ação.

Pesquisadores da Universidade Bloomsburg da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e do Museu de História Natural, no Reino Unido, chegaram à conclusão de que a ferramenta da cabeça tinha um propósito sexual e não crítico para a vida depois de encontrar um fóssil adulto com um tridente disforme.

O artrópode marinho em questão é uma espécie de Walliserops, um artrópode marinho que viveu no fundo do oceano há mais de 400 milhões de anos. Muitos de seu tipo desenvolveram todos os tipos de espetos, espinhos e protuberâncias para proteção, mas neste gênero a característica de destaque era uma forquilha plana de três pontas que se projetava da frente.

Se fosse realmente usado para desafiar rivais por potenciais parceiras sexuais, a estranha anatomia poderia ser um novo registro para a evidência mais antiga de combate sexual no reino animal.

“A extraordinária trilobita do Devoniano Walliserops carregava um tridente gigante e único em sua cabeça, cujo propósito há muito tempo é um mistério”, disse o paleontólogo Richard Fortey, do Museu de História Natural do Reino Unido. “Acreditamos agora que era usado para duelos entre machos que lutavam pelo domínio.”

“A evolução da competição sexualmente motivada em animais é centenas de milhões de anos mais velha do que pensávamos.”

A nova hipótese é baseada em um fóssil incrivelmente preservado de Walliserops trifurcatus em exibição no Museu de História Natural de Houston, EUA: um espécime malformado que tem quatro pontas em seu tridente, em vez das três usuais.

A forma modificada causada pelo quarto dente teria tornado o tridente disforme menos eficaz em servir ao seu propósito. Se esse propósito fosse crítico para a vida e o animal nascesse com ele, todos os dias teria dependido da sorte para a sobrevivência.

O fato dessa criatura ter sobrevivido até a idade adulta mostra que o tridente provavelmente não contribuiu para uma tarefa essencial, como detectar fontes de alimento ou defender-se de ataques – que já foram sugeridas como possibilidades.

O fóssil de Walliserops trifurcatus, com um tridente de quatro pontas. (Créditos: Alan Gishlick)

Ao comparar os tridentes dos Walliserops com criaturas vivas, a equipe encontrou o exemplo moderno mais próximo de uma ferramenta de combate sexual em besouros rinocerontes: eles também usam ferramentas em suas cabeças para lutar e, em alguns casos, duelar com rivais sexuais.

“A projeção do tridente de Walliserops se encaixa melhor com a morfologia de uma arma usada em comportamentos de escavação”, afirmaram os pesquisadores. “Ele tem uma extensão longa e de ponta larga que se inclina para fora em sua ponta.”

Existem muitos exemplos de seleção sexual na natureza, desde as penas coloridas do pavão até os chifres do cervo. Este tridente também parece ter sido fundamental no processo de acasalamento das trilobitas Walliserops.

O que ainda não está claro é se esses invertebrados eram sexualmente dimórficos – com machos e fêmeas com aparência diferente. Até o momento, nenhuma fêmea de Walliserops foi identificada de forma conclusiva, embora possam ter tridentes menores, ou nenhum.

Claro que é difícil fazer julgamentos conclusivos sobre animais extintos, porque só temos seus restos fossilizados para trabalhar. No entanto, as evidências apresentadas neste estudo podem ter resolvido o mistério do tridente de Walliserops.

Walliserops fornece o exemplo mais antigo no registro fóssil de comportamento de combate, muito provavelmente ritualizado na competição por parceiros”, escreveram os pesquisadores.

“Embora os hábitos de vida fóssil sejam difíceis de provar, a consiliência da morfologia, teratologia e dados biométricos apontam para a mesma interpretação, tornando-o um dos exemplos mais robustos de especulação paleoecológica”.

A pesquisa foi publicada no PNAS.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.