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Esta galáxia extremamente estranha está jogando plasma em sua amiga

Traduzido por Julio Batista
Original de Michelle Starr para o ScienceAlert

Não sabemos o que uma galáxia chamada RAD12-B fez, mas deve ter sido algo hediondo.

Isso porque sua galáxia companheira lançou um jato de plasma quente diretamente sobre ela, no que parece (se formos antropomórficos sobre isso) um ataque direcionado.

Descoberto durante observações por uma equipe liderada pelo astrônomo Ananda Hota, da Universidade de Mumbai, na Índia, este é o sexto par de galáxias encontrado envolvido nesse tipo de atividade de rajada de plasma. Mas o sistema RAD12 é único por vários motivos, e os astrônomos não sabem ao certo por quê.

Por um lado, é a primeira vez que vemos uma galáxia disparando um jato de plasma em uma galáxia maior do que ela.

Por outro lado, há apenas um jato. Vimos muitas, muitas galáxias lançando jatos de plasma no espaço, e normalmente esses jatos vêm em pares. O motivo de RAD12 ter apenas um é um mistério.

Jatos de plasma de alta velocidade que emitem radiação em comprimentos de onda de rádio são um tanto comuns no Universo. Elas são conhecidas como radiogaláxias, e os jatos são emitidos pelo núcleo galáctico. Os cientistas acreditam que o buraco negro supermassivo no centro da galáxia é o responsável.

Buracos negros supermassivos galácticos são frequentemente cercados por grandes quantidades de material, que gira em torno de um disco e cai no buraco negro da borda interna do disco. Esse processo de acreção é confuso; nem todo o material da borda interna do disco segue além do horizonte de eventos.

Imagem das observações do Optical Legacy sobreposta com contornos de emissão de rádio do jato. (Créditos: Hota et al., MNRAS, 2022)

Parte dele é desviado e acelerado ao longo das linhas do campo magnético ao redor do buraco negro. É levado para os polos do buraco negro, onde é lançado no espaço a velocidades próximas à da luz no vácuo, perfurando grandes distâncias através do meio intergaláctico, agindo como um síncrotron para acelerar elétrons que então emitem ondas de rádio.

Há muita coisa sobre esse processo que ainda não entendemos, mas é normalmente visto em galáxias elípticas – aquelas que são bolhas difusas e sem forma, em oposição às formas altamente estruturadas de galáxias espirais. Galáxias elípticas não tendem a ter muita formação estelar; a maioria das estrelas dentro delas é velha e não contém tanto material de formação estelar. Acredita-se que os jatos desempenhem um papel nisso, fornecendo “feedback” que extingue a formação estelar.

O sistema RAD12 pode ajudar os astrônomos a entender esses processos, uma vez que os seus resultados atípicos impõem restrições ao que certas classes de objetos podem ou não fazer. Além disso, os raros sistemas galácticos nos quais o jato de um colide com o outro podem apresentar feedback positivo, nos quais a galáxia sendo bombardeada mostra sinais de feedback positivo ou maior atividade de formação estelar.

Os cientistas sabiam que havia algo incomum sobre o RAD12, localizado a cerca de um bilhão de anos-luz de distância, desde a década de 1990, mas não foi até um projeto de ciência cidadã para analisar dados coletados usando o Radiotelescópio Gigante de Ondas Métricas (GMRT, na tradução livre) na Índia chamado RAD@home que toda a extensão de sua estranheza foi revelada.

Uma imagem óptica do Legacy mostrando as “camadas que se assemelham a conchas” das estrelas. (Créditos: Hota et al., arXiv, 2023)

As duas galáxias do sistema estão em processo de fusão, com seus dois núcleos separados por uma distância de 414.000 anos-luz. Juntas, toda a estrutura tem 440.000 anos-luz de comprimento, muito maior do que a galáxia hospedeira do jato (embora não seja incomum que jatos de rádio excedam em comprimento o diâmetro de sua galáxia hospedeira).

Isso significa que o jato está colidindo com RAD12-B, mas ao contrário dos outros cinco sistemas galácticos desse tipo, RAD12-B não mostra sinais de feedback positivo, ou seja, maior atividade de formação estelar.

E o jato único da galáxia hospedeira é um verdadeiro quebra-cabeça. É possível que algo tenha impedido sua fuga, como “camadas parecidas com conchas” de estrelas ao redor da galáxia criadas por uma fusão passada que prenderam o meio interestelar e resultaram em regiões de maior densidade. Também vimos casos em que jatos de rádio são dobrados e desviados por poderosos campos magnéticos no espaço.

Descobrir exatamente o que está acontecendo com RAD12 vai dar mais trabalho, incluindo observações com vários telescópios, mas promete ser um caso realmente fascinante.

A pesquisa foi publicada no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society no ano passado e foi aceita para publicação no The Multimessenger Chakra of Blazar Jets: Proceedings of the 375th Symposium of the International Astronomical Union.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.