Traduzido por Julio Batista
Original de Michelle Starr para o ScienceAlert
Se você quiser atrair um bando de sapos pré-históricos para um fim trágico, a melhor maneira é a promessa de nheco-nheco anfíbio.
Essa é a conclusão a que os paleontólogos chegaram depois de estudar os restos de centenas de sapos antigos que morreram em um pântano há cerca de 45 milhões de anos, no que hoje conhecemos como Alemanha.
As descobertas oferecem uma solução clara para o mistério de por que os sapos morreram, o que tem sido um quebra-cabeça desde que foram descobertos no leito fossilizado décadas atrás.
“Até onde podemos dizer, os sapos fossilizados eram saudáveis quando morreram, e os ossos não mostram sinais de predadores ou carniceiros – também não há evidências de que eles foram levados durante as inundações ou morreram porque o pântano secou”, disse o paleontólogo Daniel Falk, do Colégio Universitário de Cork, na Irlanda.
“Por processo de eliminação, a única explicação que faz sentido é que eles morreram durante o acasalamento.”
O leito fossilizado em que os sapos foram descobertos é um dos sítios fósseis mais excepcionais do mundo.
É encontrado em Geiseltal, que já foi um campo de carvão do qual o lignito foi extraído como combustível fóssil. O lignito, um depósito sedimentar, também é incrível na preservação de vestígios antigos.
Mais de 50.000 fósseis foram recuperados de Geiseltal, incluindo pequenos mamíferos, morcegos, pássaros, crocodilos, répteis e peixes, às vezes até com tecidos moles e órgãos preservados.
E, claro, há sapos. Muitos e muitos sapos. Isso é um problema – porque a camada em que os sapos foram encontrados era uma floresta subtropical pantanosa, no Eoceno Médio, há pouco menos de 50 milhões de anos.
Você pode estar pensando: “E daí? Muitos sapos vivem em condições úmidas!” Mas muitos outros sapos não, e a maioria dos sapos identificáveis no lignito de Geiseltal parecem pertencer a esta última categoria. O trabalho meticuloso de Falk e seus colegas categorizou a maioria desses sapos como pertencentes à família Pelobatidae.
Um único gênero desses sapos vive hoje e não é aquático. Vive em terra firme, retornando à água apenas para a época de acasalamento. Isso pode ser uma empreitada bastante perigosa para os sapos – pelo menos para as fêmeas, que podem literalmente sufocar sob a atenção de admiradores fogosos.
“As fêmeas de sapos correm maior risco de se afogar, pois muitas vezes são submersas por um ou mais machos – isso geralmente acontece em espécies que se envolvem em congregações de acasalamento durante a curta e explosiva temporada de reprodução”, disse a paleontóloga Maria McNamara, do Colégio Universitário de Cork.
Isso pode parecer contra-intuitivo e não particularmente propício ao acasalamento bem-sucedido, mas não é necessariamente um problema no mundo dos sapos.
Uma espécie de sapo moderna, a Rhinella proboscidea da Amazônia, pode extrair ovos de uma fêmea morta apertando-a e, em seguida, pode fertilizar os ovos com sucesso. Isso não foi observado em Pelobatidae modernos, mas não está totalmente fora do reino das possibilidades.
De qualquer forma, a nova análise pode nos ajudar a entender a evolução dos sapos ao longo dos tempos e a contextualizar antigos leitos fossilizados de sapos.
“O que é realmente interessante é que sapos fossilizados de outros locais também mostram essas características, sugerindo que os comportamentos de acasalamento dos sapos modernos são realmente muito antigos e existem há pelo menos 45 milhões de anos”, disse McNamara.
A pesquisa foi publicada em Papers in Paleontology.