Traduzido por Julio Batista
Original de David Nield para o ScienceAlert
Temos um caso curioso de falsidade ideológica para relatar. Fósseis que se acreditava terem sido deixados por invertebrados aquáticos com tentáculos pré-históricos chamados Bryozoans (briozoários) podem, de fato, ter sido criados por uma fonte diferente: algas marinhas.
Essa é a conclusão de um novo estudo dos restos mortais de 500 milhões de anos, que deu uma nova olhada nos fósseis de Protomelission gateshousei, que se pensava representar os remanescentes mais antigos de briozoários já registrados.
Além de aparentemente esclarecer as coisas, as descobertas novamente mudam o que sabemos sobre a evolução dos briozoários. Até o momento, eles são os únicos animais fossilizados que encontramos logo após a explosão cambriana, quando a vida na Terra realmente começou a se acelerar.
“Nós tendemos a pensar na explosão cambriana como um período único na história evolutiva, no qual todos os esboços da vida animal foram mapeados”, disse o paleontólogo Martin Smith, da Universidade de Durham, no Reino Unido. “A maior parte da evolução subsequente se resume a ajustes em menor escala nesses planos corporais originais.”
“Mas se os briozoários realmente evoluíram após o período Cambriano, isso mostra que a evolução manteve seu poder criativo após este período crítico de inovação – talvez a trajetória de suas vidas não tenha sido registrada na pedra há meio bilhão de anos”.
Os autores do estudo examinaram minúsculos fósseis de P. gateshousei encontrados nas colinas do sul da China, separados do lote que havia sido reconhecido como briozoários, e descobriram evidências inéditas de partes moles em suas amostras.
Essas novas revelações tornam esses fósseis mais adequados como sendo de algas verdes, em um grupo conhecido como Dasycladales, sugere o novo estudo – particularmente nos sinais de uma membrana externa que não estava presente nas outras amostras fósseis.
Isso, por sua vez, pode nos ensinar mais sobre a explosão cambriana: que essas algas possivelmente desempenharam um papel mais significativo do que se pensava no rápido aumento da biodiversidade que aconteceu naquela época.
“Enquanto os fósseis anteriores apenas preservavam a estrutura esquelética desses primeiros organismos, nosso novo material revelou o que estava vivendo dentro dessas câmaras”, disse o paleontólogo Zhang Xiguang, da Universidade de Yunnan, na China.
“Em vez dos tentáculos que esperávamos ver em briozoários, descobrimos flanges simples semelhantes a folhas – e percebemos que não estávamos olhando para fósseis de animais, mas algas marinhas”.
Isso significa que os primeiros fósseis de briozoários sobre os quais os especialistas têm mais certeza não aparecem até o período geológico após o Cambriano, o Ordoviciano – cerca de 40 milhões de anos após o ponto em que esses fósseis foram datados.
O misterioso caso da lacuna de fósseis de briozoários aparentemente foi novamente aberto. Por que essa classe de criatura é a única a não aparecer em uma das mais repentinas explosões de vida na história dos organismos?
Uma resposta pode ser que ainda não encontramos as evidências certas. É possível que as primeiras formas de briozoários tivessem partes mais moles, o que significa que não teriam deixado fósseis nos primeiros estágios de sua evolução.
“Um número crescente de fósseis cambrianos… exibe características que podem ser reconciliadas com uma afinidade briozoária – mas com base no material atualmente disponível, nenhum táxon pode ser interpretado com certeza suficiente para documentar uma origem pré-ordoviciana de briozoários”, escreveram os pesquisadores em seu paper publicado.
A pesquisa foi publicada na Nature.