Artigo traduzido de New Scientist. Autor: Ken Croswell.
Vamos falar de um relacionamento de longa distância. Um par de estrelas tem os eclipses mais longos e mais raros já vistos – e uma estrela pode estar devorando a outra.
Quando estrelas de um par orbitam uma à outra de modo que uma estrela periodicamente bloqueia a luz da sua parceira do nosso ponto de vista na Terra chamamos de binária eclipsante. A primeira do tipo foi a Algol, ou “vampiro” em árabe, e os astrólogos medievais a consideravam a estrela mais perigosa no céu. Mesmo a olho nu, você pode ver uma do par Algol desaparecer a cada poucas noites quando sua parceira passa na frente dela.
Até agora, o binário com o maior intervalo entre eclipses foi Epsilon Aurigae. Também é visível a olho nu, mas seus eclipses ocorrem apenas uma vez a cada 27,1 anos.
Versão extrema
Agora Joseph Rodriguez, da Universidade Vanderbilt, em Nashville, Tennessee, e seus colegas descobriram uma binária eclipsante chamada TYC 2505-672-1, na constelação de Leão Menor, com um período recorde de 69,1 anos. “É realmente uma versão extrema” de Epsilon Aurigae, diz ele.
Através da combinação de 120 anos de dados históricos com dados contemporâneos de pesquisas em curso, Rodriguez e seus colegas mostraram que a estrela principal, uma gigante vermelha, desapareceu uma vez durante a segunda guerra mundial e novamente de 2011 a 2014. Os eclipses duraram notáveis 3,45 anos – também um novo recorde.
O outro objeto é uma pequena estrela branca incorporada em um enorme disco opaco, que é o responsável pelo longo eclipse. A estrela branca costumava ser uma gigante vermelha também, mas Rodriguez diz que a gravidade da sua estrela companheira arrancou seu material para criar o disco.
Muito distantes
Ed Guinan, da Universidade de Villanova, na Pensilvânia, prefere um cenário menos violento. “As estrelas estão muito distantes para uma estrela arrancar o material da outra”, diz ele. Eles estão separados por mais ou menos a mesma distância entre o Sol e Urano.
Em vez disso, Guinan pensa o disco opaco pode ser o resultado da antiga gigante vermelha derramando sua camada exterior – que acabou se tornando uma nebulosa planetária como a Nebulosa do Anel.
O próximo eclipse deve nos dizer mais, mas ele não ocorrerá até 2080. Mas Rodriguez, hoje com 27 anos, espera viver o suficiente para vê-lo.
Periódico de referência: Astronomical Journal, arxiv.org/abs/1601.00135.