Publicado na Scientific American
Assim como o amor, o sexo, o jogo, a música e as drogas ativam o circuito de recompensa do cérebro, as experiências religiosas também podem ativá-lo, segundo um estudo feito por cientistas da Escola de Medicina da Universidade de Utah, em Salt Lake City (EUA), publicado nesta semana na revista Social Neuroscience. O circuito de recompensa é um grupo de estruturas neuronais de nosso cérebro, relacionado com o desejo, o prazer e o reforço positivo.
“Estamos apenas começando a entender como o cérebro participa das experiências que os crentes interpretam como espirituais, divinas ou transcendentais”, explica Jeff Anderson, coautor do estudo, que destaca que nos últimos anos “a tecnologia de imagem cerebral tem avançado de tal forma que nos podemos tratar de questões que existem há anos”.
Especificamente, os pesquisadores buscaram determinar quais redes neuronais intervêm na representação dos sentimentos espirituais, e, para isso, elegeram um grupo de devotos mórmons que foram submetidos a uma série de estímulos religiosos.
“Cada sujeito foi treinado durante 1 e 2 anos para poder identificar o ‘sentimento de espírito’ em si mesmo e ensinar os outros”, explica Anderson. “Na prática e teologia mórmon, esses sentimentos têm grande importância, porque são meios primários para a comunicação com Deus, uma parte fundamental para tomar decisões vitais e reforçar a sua fé”.
Foi selecionado um total de 19 pessoas – 7 mulheres e 12 homens – que tiveram o cérebro monitorado enquanto realizam diversas tarefas, como visualizar vídeos sobre a sua Igreja, escutar citações de diversos líderes religiosos, rezar, ler passagens bíblicas ou receber outros estímulos audiovisuais.
O método aplicado para a análise foi a técnica de imagem por ressonância magnética funcional (IRMf), um procedimento clínico e de investigação que permite visualizar as regiões cerebrais que efetuam uma determinada tarefa.
Durante as provas, os participantes eram interrogados para saber se “sentiam o espírito”. Podiam responder através de uma escala entre “não senti-lo” até “fortemente senti-lo”, e, além disso, tinha um botão para marcar quando sentiam um pico de intensidade espiritual.
Os pesquisadores colheram detalhadas avaliações dos sentimentos manifestados pelos participantes, que identificaram essas emoções como similares as que sentiam durante uma seção de culto. Descreveram sensações de paz, calor, e, até mesmo, chegaram a chorar de emoção.
“Quando foi indicado para que pensem em um salvador, em estar com suas famílias eternamente, entre outras recompensas celestiais, os seus cérebros e corpos deram uma resposta física”, explica o doutor Michael Ferguson, bioengenheiro que conduziu o estudo na Universidade de Utah.
Em conclusão, usando imagens de IRMf, os cientistas descobriram que os sentimentos espirituais intensos estão associados com a ativação dos nucleus accumbens, um grupo de neurônios no cérebro que desempenha um papel importante no sistema de prazer e recompensa.