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Fatos, crenças e identidade: as sementes do ceticismo da ciência

Tradução por Thomas Victor Conti de texto da Phys.org publicado em 22 de Janeiro de 2017.

Pesquisadores de psicologia estão trabalhando para entender os processos cognitivos, ideologias, demandas culturais e crenças conspiratórias que fazem com que as pessoas inteligentes resistam às mensagens científicas. Usando questionários, experimentos, estudos de observação e meta-análises, os pesquisadores identificaram uma fronteira teórica-emergente com objetivo de tornar a comunicação científica mais inteligente e eficaz.

Protegendo “Crenças de Estimação”

Uma característica surpreendente das pessoas que mantém visões céticas da ciência é que elas comumente são tão educadas e tão interessadas na ciência quanto o resto de nós. O problema não é sobre a exposição delas à informação, mas se a informação é processada de forma balanceada. Ela se manifesta no que Matthew Hornsey (University of Queensland) descreve como “pensando como um advogado”, no sentido das pessoas escolherem a dedo (cherry-pick) quais pedaços de informação deve-se prestar atenção “para chegar nas conclusões que elas querem que seja verdade.”

“Nós descobrimos que as pessoas fugirão dos fatos para proteger todos os tipos de crença, incluindo suas crenças religiosas, políticas e até mesmo crenças pessoas tais como se elas são boas em escolher um navegador de internet”, diz Troy Campbell (University of Oregon).

Dan Kahan (Yale University) concorda. Na pesquisa dele, encontrou que “a disposição é para a construção de evidências de forma identidade-congruente ao invés de verdade-congruente, um estado de desorientação que é bastante simétrico entre todo o espectro político.”

Mudando mentes

Simplesmente falar sobre “evidência” ou “dados” tipicamente não vai mudar a mente de um cético sobre tópicos particulares, seja ele o aquecimento global, organismos geneticamente modificados, ou vacinas. As pessoas usam a ciência e os fatos para apoiar sua opinião particular e vão desvalorizar aquilo que eles não concordam.

“Onde houve conflito sobre riscos sociais – da mudança climática para a segurança da energia nuclear, ao impacto do controle de armas, ambos os lados vão invocam o mantra da ciência”, diz Kahan.

“Na nossa pesquisa, nós encontramos que as pessoas são mais propensas a tratar os fatos como relevantes quando os fatos tendem a apoiar suas opiniões,” diz Campbell. “Quando os fatos são contra suas opiniões, eles não necessariamente negam os fatos, mas eles dizem que os fatos são menos relevantes.”

Uma abordagem para lidar com o ceticismo diante da ciência é identificar as motivações subjacentes ou “raízes de atitude”, como Hornsey descreve na sua pesquisa recente  (American Psychologist, no prelo).

“Ao invés de lidar com as atitudes de superfície das pessoas diretamente, personalize a mensagem para que ela se alinhe com a motivação deles. Então com céticos do clima, por exemplo, encontre o que eles conseguem acreditar e então molde as mensagens sobre o clima para alinhar com isso.”

A pesquisa recente de Kahan mostra que o nível de curiosidade científica de uma pessoa poderia promover um engajamento de mente mais aberta. Eles descobriram que pessoas que gostavam de encontrar resultados surpreendentes, mesmo se contrários a suas crenças políticas, eram mais abertas à nova informação. Como observam Kahan e seus colegas, seus achados são preliminares e requerem mais pesquisa.

Hornsey, Campbell, Kahan e Robbie Sutton (University of Kent) apresentarão sua pesquisa no simpósio Rejection of Science: Fresh Perspectives on the Anti-Enlightenment Movement. As falas acontecem no Sábado, 21 de Janeiro de 2017, na SPSP Annual Convention. Mais de 3.000 cientistas atendem a conferência em San Antonio entre 19 e 21 de Janeiro.

Thomas Conti

Thomas Conti

28 anos, mestre em economia, professor assistente no Insper, docente na Especialização em Direito e Economia (Law & Economics) da Unicamp, consultor, pesquisador, programador em R e doutorando em economia pela Unicamp. Faço hora extra como divulgador científico e defendendo políticas públicas baseadas em evidências.