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Físicos acabaram de alcançar uma nova menor medida da massa de uma partícula fantasma

Por Michelle Starr
Publicado na ScienceAlert

O decaimento radioativo de isótopos de hidrogênio acaba de nos dar a menor medida já feita da massa de um neutrino.

Ao medir a distribuição de energia dos elétrons liberados durante o decaimento beta do trítio, físicos determinaram que o limite superior para a massa do antineutrino do elétron é de apenas 0,8 elétron-volt. Isso é 1,6 × 10–36 quilogramas, algo muito, muito, muito pequeno.

Embora ainda não tenhamos uma medida precisa, reduzi-la nos aproxima de entender essas partículas estranhas, o papel que elas desempenham no Universo e o impacto que podem ter em nossas teorias atuais da física. A conquista foi feita no Karlsruhe Tritium Neutrino Experiment (KATRIN – Experimento de Neutrino de Trítio do Karlsruhe, na tradução livre) na Alemanha.

“A segunda iniciativa de medição de massa de neutrinos do KATRIN, apresentada aqui, atingiu a sensibilidade subelétron-volt”, escreveram os pesquisadores em seu estudo. “Combinado com a primeira iniciativa, definimos um limite superior refinado de mν<0,8 elétron-volts. Portanto, reduzimos a faixa permitida de modelos de massa de neutrinos quase degenerados e fornecemos informações independentes do modelo sobre a massa de neutrinos, que permite o teste de modelos cosmológicos não padronizados”.

Neutrinos são muito peculiares. Eles estão entre as partículas subatômicas mais abundantes do Universo, semelhantes aos elétrons, mas sem carga e quase sem massa. Isso significa que eles raramente interagem com a matéria normal; na verdade, bilhões estão passando pelo seu corpo agora.

É por isso que os chamamos de partículas fantasmas. Também os torna incrivelmente difíceis de detectar. Temos alguns métodos de detecção – como detectores de neutrinos Cherenkov – mas estes são indiretos, captando os efeitos dos neutrinos que passam, em vez dos próprios neutrinos.

Tudo isso significa que medir a massa próxima de zero dessas partículas é um desafio particularmente difícil. Mas, se pudermos obter uma medida dessa propriedade, haverá muito mais que podemos aprender sobre o Universo. Infelizmente, você não pode simplesmente pegar uma pequena balança, colocar um neutrino nela e tá tudo feito.

KATRIN aproveita o decaimento beta de um isótopo radioativo instável de hidrogênio chamado trítio para sondar a massa de um neutrino. Dentro da câmara de 70 metros, o gás trítio decai em hélio, um elétron e um antineutrino de elétron, enquanto um espectrômetro enorme e sensível sonda os resultados.

Como os neutrinos são tão fantasmagóricos, não é possível medi-los. Mas os físicos têm certeza de que uma partícula e sua antipartícula distribuem massa e energia uniformemente; portanto, se você medir a energia dos elétrons, poderá derivar a energia do neutrino.

Foi assim que a equipe obteve o limite superior de 1 elétron-volt para a massa do neutrino em 2019. Para refinar esse resultado, a equipe combinou um aumento no número de decaimentos de trítio com métodos para reduzir a contaminação de outros tipos de decaimento radioativo, resultando em seu limite superior refinado.

“Esse trabalho árduo e complicado foi a única maneira de excluir um viés sistemático de nosso resultado devido a processos distorcidos”, disseram os físicos Magnus Schlösser, do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe, e Susanne Mertens, do Instituto Max Planck de Física, na Alemanha. “Estamos particularmente orgulhosos da nossa equipe de análise que aceitou este enorme desafio com grande empenho e foi bem sucedida”.

O resultado marca a primeira vez que as medições de um neutrino ficaram abaixo do limiar de 1 elétron-volt. É um resultado importante que, embora ainda não tenha uma massa exata, permitirá aos cientistas refinar modelos físicos do Universo.

Enquanto isso, a colaboração continuará fazendo tentativas de refinar as medições da massa do neutrino.

“Mais medições da massa de neutrinos continuarão até o final de 2024”, disseram os pesquisadores. “Para esgotar todo o potencial deste experimento exclusivo, aumentaremos constantemente as estatísticas de eventos de sinal e desenvolveremos e instalaremos continuamente atualizações para reduzir ainda mais a taxa de fundo”.

Os resultados foram publicados na Nature Physics.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.