A informação não circula pelo nosso cérebro da mesma forma que acontece no cérebro de outros animais, de acordo com um novo estudo, e pode nos ensinar algo importante sobre a forma como a nossa espécie evoluiu.
Uma equipe liderada por pesquisadores do Instituto Federal Suíço de Tecnologia em Lausanne (EPFL), na Suíça, usou técnicas avançadas de análise de dados além de exames de ressonância magnética funcional (fMRI) para analisar a atividade cerebral em humanos, ratos e macacos.
Comparando os “mapas de tráfego” cerebrais resultantes, os pesquisadores descobriram que o cérebro humano utiliza múltiplos caminhos paralelos para transferir informação de uma região para outra, enquanto os cérebros dos ratos e dos macacos utilizam apenas canais únicos.
“A novidade do nosso estudo é a utilização de dados multimodais em um único modelo que combina dois ramos da matemática: a teoria dos grafos, que descreve os roteiros polissinápticos; e a teoria da informação, que mapeia a transmissão (ou tráfego) de informações pelas estradas”, diz Alessandra. Griffa, engenheira biomédica da EPFL.
“O princípio básico é que as mensagens transmitidas de uma fonte para um destino permanecem inalteradas ou são ainda mais degradadas a cada parada ao longo da estrada, como o jogo do telefone que jogávamos quando crianças”.
Para usar outra analogia, o tráfego de informações que circula pelo cérebro é como o tráfego que percorre uma estrada com múltiplas paradas ao longo do caminho. Nossos cérebros parecem estar programados para usar simultaneamente múltiplas estradas para levar o comboio de sinais ao seu destino.
Além do mais, os pesquisadores descobriram que esses caminhos paralelos são tão únicos quanto as impressões digitais: estudar a maneira específica como a informação flui ao redor do cérebro pode distinguir sistemas nervosos individuais.
“Esse processamento paralelo em cérebros humanos foi levantado como hipótese, mas nunca foi observado antes ao nível de todo o cérebro”, diz Griffa.
Como esses múltiplos canais afetam o processamento do pensamento, e por que os temos quando outros animais não os têm, está além do escopo deste estudo. No entanto, os cientistas pensam que os nossos cérebros maiores permitiram padrões de conectividade mais complexos.
Também pode adicionar algum nível de resiliência ao cérebro humano, sugerem os pesquisadores. Se um canal for bloqueado ou danificado, é possível que as informações sejam redirecionadas através de outro canal.
Mais adiante, a pesquisa poderá nos ajudar a determinar como os danos causados por lesões cerebrais poderiam ser reparados ou como poderíamos nos proteger contra o desenvolvimento de condições como a demência.
“Poderíamos levantar a hipótese de que esses fluxos de informação paralelos permitem múltiplas representações da realidade e a capacidade de realizar funções abstratas específicas dos humanos”, diz Griffa.
“Observamos como a informação viaja, então um próximo passo interessante seria modelar processos mais complexos para estudar como a informação é combinada e processada no cérebro para criar algo novo”.
Publicado em ScienceAlert
Traduzido por Mateus Lynniker