Uma série de novas espécies descobertas no fundo do mar demonstra o quão peculiar é esse mundo desconhecido. Na zona Clarion-Clipperton do Oceano Pacífico, situada entre o México e o Havaí, pesquisadores marinhos identificaram animais nunca antes vistos pela humanidade. Essas criaturas habitam a escuridão constante do abissopelágico, levando vidas muito distintas das conhecidas.
Segundo Thomas Dahlgren, ecologista marinho da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, “Estas regiões são as menos exploradas do planeta. Acredita-se que apenas uma em cada dez espécies animais que vivem aqui tenha sido descrita pela ciência.”
Ele complementa: “É uma das raras ocasiões em que cientistas podem participar da descoberta de novas espécies e ecossistemas, semelhante ao que acontecia no século XVIII. É realmente emocionante.”
Uma equipe internacional de cientistas, trabalhando na missão Seabed Mining And Resilience To EXperimental impact (SMARTEX) do Centro Nacional de Oceanografia do Reino Unido, utilizou um veículo operado remotamente (ROV) para explorar profundidades entre 3.500 e 5.500 metros na zona Clarion-Clipperton. Abaixo dessa profundidade, o oceano se torna extremamente hostil: a pressão da água é esmagadora, a luz solar não penetra e as temperaturas são geladas, apenas alguns graus acima de zero. No entanto, onde os humanos não podem ir, nossa tecnologia pode alcançar.
Para sobreviver, a maioria dos organismos do fundo do mar abissal depende da matéria orgânica que desce dos níveis superiores do oceano, um fenômeno conhecido como neve marinha, além das eventuais carcaças de baleias. Assim, a maior parte da vida lá embaixo é composta por filtradores e alimentadores de sedimentos: animais que conseguem aproveitar ao máximo esse escasso suprimento de alimentos.
Uma das descobertas mais notáveis feitas durante a expedição é um pepino-do-mar transparente, apelidado de ‘unicumber’, pertencente à família Elpidiidae. Na imagem capturada pelo ROV, o trato digestivo do animal é claramente visível, cheio de suas recentes refeições no fundo do mar. Ele também possui uma cauda longa e peculiar, provavelmente usada para nadar.
“Esses pepinos-do-mar foram alguns dos maiores animais encontrados nesta expedição”, explica Dahlgren. “Eles funcionam como aspiradores do fundo do oceano, especializados em encontrar sedimentos que passaram pelo menor número de estômagos.”
Outras criaturas encontradas incluem uma delicada esponja de vidro, um filtro alimentador em forma de copo que detém o recorde de longevidade animal conhecida na Terra, até 15.000 anos; um crustáceo tanaidáceo de corpo comprido, quase como um verme; estrelas-do-mar, corais e anêmonas; e uma impressionante porquinha-do-mar rosa Barbie.
Os porcos-do-mar são um tipo de pepino-do-mar de águas profundas, também da família Elpidiidae. Eles são rechonchudos, inflados e frequentemente rosados, caminhando com adoráveis perninhas atarracadas. A porca-do-mar Barbie, como foi apelidada, pertence ao gênero Amperina. Ela apresenta um tom de rosa particularmente vibrante, com pezinhos delicados nas pontas das pernas.
Os cientistas trabalharão arduamente para aprender mais sobre todas essas criaturas incríveis, mas já sabemos uma coisa: a diversidade da vida no fundo do oceano necessita de mais atenção e proteção.
A área da Zona Clarion-Clipperton explorada pelos pesquisadores é utilizada para mineração em alto mar, o que pode ter um impacto devastador nos habitats marinhos. “A escassez de alimentos faz com que os indivíduos vivam distantes uns dos outros, mas a riqueza de espécies na área é surpreendentemente alta. Observamos muitas adaptações especializadas interessantes entre os animais dessas regiões”, diz Dahlgren numa publicação informativa.
“Precisamos saber mais sobre este ambiente para podermos proteger as espécies que habitam aqui. Atualmente, 30% dessas áreas marinhas estão protegidas, e precisamos determinar se isso é suficiente para garantir que essas espécies não corram risco de extinção.”