Traduzido por Julio Batista
Original de Harry Baker para a Live Science
Fósseis bizarros e mutilados na Irlanda provavelmente foram deformados por fluidos superaquecidos que explodiram abaixo da crosta terrestre há cerca de 300 milhões de anos. Os fluidos superquentes foram liberados quando os antigos continentes do planeta colidiram para formar o supercontinente Pangeia, mostrou um novo estudo.
Os fósseis, que consistem principalmente de um grupo de tetrápodes semelhantes a anfíbios do gênero Keraterpeton, foram descobertos em 1866 presos dentro de uma camada de carvão na Assembleia de Jarrow, um sítio paleontológico de fósseis no Condado de Kilkenny, no sul da Irlanda. Keraterpeton eram criaturas do tamanho da palma da mão, em forma de salamandra, com chifres pontiagudos semelhantes a dragões, de acordo com Colégio Universitário de Cork na Irlanda. Os fósseis datam de cerca de 320 milhões de anos atrás, durante o período Carbonífero (359 a 299 milhões de anos atrás).
Todos os fósseis da Assembleia de Jarrow compartilham uma característica única: eles foram deformados e grandes seções deles foram substituídas pelo carvão circundante. Isso torna muito difícil distinguir os fósseis de seus arredores e revelar como os fósseis se pareciam originalmente. Os fósseis também contêm uma quantidade incomum de cristais de apatita, ou minerais de fosfato encontrados nos ossos da maioria dos animais, bem como muitas rochas vulcânicas.
Até agora, a principal teoria sobre os fósseis deformados era que eles foram enterrados em solo ácido, que dissolveu a maior parte dos ossos e permitiu que o carvão tomasse seu lugar. No entanto, no novo estudo, publicado em 7 de dezembro na revista Paleontology, os pesquisadores analisaram os ossos e descobriram que a apatita dentro dos ossos provavelmente se formou 20 milhões de anos após a morte dos antigos anfíbios – na época em que uma super colisão continental estava formando Pangeia.
“Quando olhamos para a química da apatita nos ossos de Jarrow, descobrimos que essa apatita foi formada por fluidos aquecidos dentro da Terra”, disse o coautor do estudo Gary O’Sullivan, um paleogeólogo da Colégio Universitário de Dubin, na Irlanda, em um comunicado. Esses fluidos superaquecidos provavelmente foram liberados à medida que os antigos continentes se moviam e poderiam ter transformado os fósseis nos restos deformados que vemos hoje, acrescentou.
Os continentes da Terra fazem parte da crosta terrestre. A crosta e a parte superior do manto, ou a segunda camada da Terra, formam placas tectônicas que flutuam sobre a rocha fundida do manto médio. Nos últimos bilhões de anos, os continentes foram remodelados e transportados pelo globo à medida que as placas tectônicas deslizam, colidem umas com as outras e se sobrepõem. Em certos pontos da história, os continentes antigos se juntaram para formar supercontinentes, como a Pangeia. Este processo é conhecido como deriva continental.
A análise dos pesquisadores da apatita dentro dos fósseis data os cristais em cerca de 300 milhões de anos atrás, quando todos os continentes antigos da Terra estavam se chocando para criar a Pangeia, que eventualmente se separou entre 195 e 170 milhões de anos atrás. A equipe acredita que a apatita dentro dos fósseis provavelmente vem de fluidos superaquecidos que foram liberados durante essa colossal colisão.
“À medida que esses continentes colidiram, eles formaram cinturões de montanhas com fluidos subterrâneos superaquecidos fluindo deles”, disse o principal autor do estudo Aodhán Ó Gogáin, um paleogeólogo da Colégio Universitário de Dulbin, no comunicado. “São esses fluidos superaquecidos, que fluíram por toda a Irlanda, que cozinharam e derreteram os ossos desses fósseis, causando a alteração que vemos hoje” (um cinturão de montanhas é um grupo de cadeias de montanhas que se originam do mesmo limite de placa tectônica).
A equipe está feliz por finalmente ter estabelecido a origem dos fósseis de Jarrow e espera que as descobertas também possam ser usadas para aprender mais sobre a formação da Pangeia.
“A assembleia de Jarrow é de grande importância científica e é um elemento significativo do patrimônio geológico da Irlanda”, disse o coautor do estudo Patrick Wyse Jackson, geólogo do Trinity College Dublin, no comunicado. “É ótimo que finalmente a questão sobre o que alterou os ossos fósseis desses animais tenha sido resolvida.”