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Fósseis misteriosos podem ser alguns dos sinais mais antigos de vida animal já encontrados

Por Tessa Koumondouros
Publicado na ScienceAlert

Dentro dos restos de recifes microbianos de 890 milhões de anos – um mundo dominado por bactérias e algas -, encontram-se possíveis sinais de vida animal multicelular, 90 milhões de anos antes que se pensasse haver oxigênio suficiente na atmosfera da Terra para sustentar tal vida.

Todos nós, pessoalmente, sabemos que o oxigênio é vital para nós como animais – uma vez inalado, nosso sistema respiratório passa a molécula preciosa para cada canto do nosso corpo, para que nossas células possam usá-la para produzir sua energia química.

Portanto, não se sabia ao certo se animais multicelulares (metazoários) poderiam existir antes que o oxigênio da Terra tivesse atingido o nível necessário para permitir que esse processo crítico de respiração celular animal ocorra. Em geral, acredita-se que esse marco tenha ocorrido durante o Evento Neoproterozoico de Oxigenação.

Padrão do fóssil (à esquerda) em comparação com o padrão de um esqueleto de esponja moderna (à direita). Créditos: Turner, Nature, 2021.

Antes desse evento, entre 800 a 540 milhões de anos atrás, o oxigênio dissolvido nos oceanos era provavelmente muito baixo para sustentar metazoários – exceto perto dos recifes onde moravam micróbios produtores de oxigênio.

Mas as evidências genéticas de animais contradizem isso. Os relógios moleculares sugerem que o reino da vida Animalia começou bem antes da era Neoproterozoica.

Agora, a paleobióloga Elizabeth Turner da Universidade Laurentiana, no Canadá, encontrou evidências fósseis em potencial para apoiar isso – dentro de recifes que já foram oásis de oxigênio.

Examinando camadas finas de rochas dos recifes de Little Dal no Canadá com micrografia de luz transmitida, Turner identificou seções raras contendo ramificações complexas, túbulos de 20-30 micrômetros, repousando em fendas dentro e ao redor das antigas formações de recifes.

Os recifes foram construídos principalmente por cianobactérias fotossintetizantes e podiam atingir quilômetros de diâmetro, mas as estruturas misteriosas foram encontradas em bordas expostas, dentro de depressões da área de crescimento do recife e em aberturas sombreadas.

Isso sugere que, ao contrário dos construtores de recifes que buscam a luz do sol, o que quer que tenha formado os vestígios fossilizados não precisa de luz, mas pode resistir à exposição nas bordas do recife, e também não gosta de se fixar no recife.

O padrão fossilizado não corresponde à ramificação vista em fungos e outros micróbios, ou aos padrões geológicos conhecidos, mas “se assemelha a ambas as redes de fibras esponjosas de esponjas ceratósicas modernas”, explica Turner em seu estudo.

Exemplo de uma esponja ceratósica moderna. Créditos: Philippe Bourjon / Wikipedia.

Já suspeitamos há algum tempo que o surgimento dos metazoários provavelmente começou com as esponjas – ou algo muito parecido com elas – já que são os animais mais básicos conhecidos.

Você seria perdoado por pensar que essas estranhas criaturas estão mais intimamente relacionadas a um cacto do que a um gato, dada sua estranha morfologia vegetativa e existência sedentária.

São basicamente um saco perfurado de tecido macio, preso ao solo em uma das extremidades, que filtra a água. Mas eles, como nós, produzem espermatozoides e óvulos para se reproduzir, têm células sem as paredes celulares encontradas nas plantas e seu DNA as coloca firmemente como um parente inicial de todos os outros animais.

Este fóssil é “talvez exatamente o que se deveria esperar dos primeiros fósseis de um corpo metazoário”, escreveu Turner.

Até agora, o fóssil de esponja indiscutível mais antigo é do Cambriano, cerca de 550 milhões de anos atrás, mas se esta nova descoberta puder ser confirmada, isso sugere que os primeiros animais surgiram antes que as condições de oxigênio na Terra fossem ideais para nós – e sobreviveram às severas eras glaciais 720 e 635 milhões de anos atrás.

Todos nós podemos vir de um estoque muito mais resistente do que imaginamos.

A pesquisa de Turner foi publicada na Nature.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.