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Fóssil raríssimo contém um dinossauro sentado sobre uma ninhada de ovos

Por Carly Cassella
Publicado na ScienceAlert

Uma equipe internacional de cientistas anunciou a descoberta de um ninho fossilizado extraordinário na China, preservando pelo menos oito dinossauros separados de 70 milhões de anos atrás.

A ninhada de ovos antigos pertence a um oviraptor adulto de tamanho médio, e sabemos disso porque a figura parental é, na verdade, parte do fóssil. O esqueleto desse terópode semelhante a uma avestruz está posicionado agachado sobre duas dúzias de ovos, pelo menos sete dos quais estavam prestes a eclodir e que ainda contêm embriões em seu interior.

A cena antiga não tem precedentes e fornece a primeira evidência de que os dinossauros eram pais chocadores, botando seus ovos e incubando-os por um longo tempo.

“Esse tipo de descoberta – em essência, esse comportamento fossilizado – é uma das mais raríssimas nos dinossauros”, disse o paleontólogo Matt Lamanna, do Museu de História Natural do Carnegie (CMNH).

“Embora alguns oviraptorídeos adultos tenham sido encontrados em ninhos de seus ovos antes, nenhum embrião foi encontrado dentro desses ovos”.

Restauração (a parte branca indica ossos preservados no esqueleto adulto). Créditos: Bi et al., Science Bulletin, 2020.

Desde a década de 1980, os paleontólogos descobriram vários ninhos de dinossauros contendo ovos fossilizados. Alguns mais raros até foram encontrados com o esqueleto da figura parental sentada em cima. Outros ovos de oviraptores sugerem que eles podem ter tido uma cor azul esverdeada.

Analisar o comportamento a partir desses fósseis, no entanto, tem se mostrado problemático. Embora pareça que os pais dos oviraptores estão chocando em seus ninhos, também é possível que esses dinossauros tenham morrido enquanto botavam ou guardavam seus ovos, não necessariamente os incubando. Isso é mais semelhante a como os crocodilos lidam com seus ninhos, não os pássaros modernos.

O novo espécime foi recuperado da Formação Nanxiong de Ganzhou no sul da China – uma região conhecida pela maior coleção do mundo de ovos de dinossauros fossilizados – mas é diferente de tudo que os cientistas encontraram antes.

A relação entre os pais do dinossauro e o embrião nunca foi tão próxima. O corpo do oviraptor adulto é preservado em “extrema proximidade com os ovos“, com pouco ou nenhum sedimento entre eles.

Em pelo menos sete dos ovos, o material embrionário foi encontrado exposto, incluindo ossos em formas identificáveis.

Um dos ovos pode realmente conter um esqueleto completo, com suas vértebras, costelas dorsais, um úmero, ílio e fêmur e uma tíbia disposta em uma posição enrolada.

Analisando os isótopos de oxigênio desses embriões, os pesquisadores descobriram que a temperatura de incubação estimada era consistente com a temperatura corporal da figura parental, situado em algum lugar entre 30 a 38 graus Celsius.

“No novo espécime, os bebês estavam quase prontos para eclodir, o que nos diz, sem sombra de dúvida, que esse oviraptorídeo cuidava do ninho há bastante tempo”, explicou Lamanna.

“Este dinossauro foi uma figura parental carinhosa que no final das contas deu sua vida enquanto criava seus filhotes”.

Obra de arte do dinossauro oviraptor chocando um ninho de ovos verde-azulados. Créditos: Zhao Chuang / PNSO.

Curiosamente, no entanto, nem todos os embriões estavam nos mesmos estágios de desenvolvimento. Isso sugere que a ninhada pode ter eclodido em momentos diferentes – uma característica que se pensava aparecer muito mais tarde, em apenas alguns tipos de pássaros.

Embora os oviraptores sejam frequentemente considerados um estágio intermediário neste processo evolutivo, parece que eles podem ter ido a um caminho alternativo a eclosão simultânea, e isso sugere que a evolução da reprodução das aves não foi um processo linear simples.

A maioria das aves modernas espera até que todos os seus ovos sejam botados antes de incubá-los – às vezes com a ajuda da mãe e do pai – e isso leva à incubação sincronizada.

Embora os oviraptores também possam ter esperado para incubar até que todos os ovos tivessem sido botados, os autores sugerem que os ovos superiores podem ter estado mais próximos do adulto que chocava e, portanto, poderiam ter se desenvolvido mais rapidamente. Isso, no entanto, é apenas uma ideia. Precisaremos de mais dados para descobrir por que alguns ovos eclodiram mais cedo do que outros.

Em outras formas, no entanto, o oviraptor compartilha características semelhantes às dos pássaros modernos. O sexo da figura parental fossilizada, por exemplo, pode ter sido masculino, o que sugere que o pai também pode ter participado da ninhada, semelhante aos pais avestruzes, que se revezam na incubação de seus filhotes.

O sexo do oviraptor adulto ainda está em debate (pode ser macho ou fêmea com base nos dados disponíveis), mas a ideia vai ao encontro de outras análises de ninhos de terópodes, que sugerem algum nível de cuidado paterno.

Arte do esqueleto do oviraptor adulto; ossos preservados mostrados em branco. Créditos: Andrew McAfee / Museu de História Natural do Carnegie.

Como se toda aquela informação reprodutiva não bastasse, este fóssil notável também nos deu um vislumbre da potencial dieta do oviraptor. Pela primeira vez, os cientistas encontraram pequenas pedras no estômago desse tipo de dinossauro, que provavelmente teriam sido engolidas para ajudar na digestão.

“É extraordinário pensar quanta informação biológica é capturada apenas neste único fóssil”, disse o paleontólogo Xing Xu, do Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia de Vertebrados de Pequim.

“Vamos aprender com este espécime por muitos anos”.

O estudo foi publicado no Science Bulletin.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.