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Fumaça de incenso pode prejudicar conexões cerebrais e função cognitiva

A queima de incenso é um ritual religioso comumente praticado em muitas culturas e é popular entre os adultos mais velhos. O incenso é composto por uma mistura de materiais de fragrância e pó de ervas, madeira e adesivo. Quando o incenso é queimado, poluentes, incluindo material particulado, monóxido de carbono, dióxido de carbono, dióxido de enxofre, dióxido de nitrogênio, compostos orgânicos voláteis, aldeídos e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos são liberados no ar.

A queima de incenso é considerada uma das principais fontes de poluição do ar em ambientes fechados. A quantidade de material particulado gerada pelo incenso pode ser de até 4,5 vezes a quantidade dos cigarros. A fumaça do incenso está associada ao câncer, aumento da mortalidade cardiovascular e condições respiratórias.

Nesse contexto, uma pesquisa conduzida pela The Chinese University of Hong Kong, publicada na Scientific Reports, avaliou três situações: 1) os efeitos da queima interna de incenso no sistema cognitivo por mais de 3 anos; 2) os efeitos da queima de incenso interno nos marcadores estruturais de ressonância magnética de atrofia do lobo temporal medial; e 3) se a queima de incenso interno modera as relações entre fatores de risco vasculares e marcadores estruturais de imagem com funções cognitivas.

Este estudo mostrou que a queima regular de incenso interno está associada a um desempenho pior em vários domínios cognitivos ao longo de 3 anos. No entanto, a queima de incenso em ambiente externo não foi associada a um declínio mais rápido nas funções cognitivas.

Além disso, embora os participantes que praticaram queima de incenso em ambientes fechados não tenham mais alterações cerebrais estruturais em termos de lesões, um impacto leve da queima de incenso no cérebro foi evidente no nível de conectividade.

Este estudo sugere que a queima de incenso interno induz alterações funcionais no cérebro que podem reduzir a resiliência cognitiva por meio da alternância da conectividade funcional e, assim, aumentar a vulnerabilidade a declínio cognitivo futuro, hipótese a ser testada em futuros estudos longitudinais. Ademais, embora os usuários de incenso não tenham uma frequência mais alta de diabetes mellitus, hiperlipidemia ou problemas cerebrais, a queima de incenso parece interagir com doenças vasculares para predispor o mau funcionamento cognitivo, destacando o papel potencial da queima de incenso como fator de risco para comprometimento vascular cognitivo. Dada a alta prevalência de carga vascular entre os idosos, a queima interna de incenso deve ser praticada com cautela nessa população vulnerável.

Referência

  • Wong, A., Lou, W., Ho, K. et al. Indoor incense burning impacts cognitive functions and brain functional connectivity in community older adults. Sci Rep 10, 7090 (2020). https://doi.org/10.1038/s41598-020-63568-6
Vitor Engrácia Valenti

Vitor Engrácia Valenti

Graduado em Fisioterapia pela UNESP/Marília. Doutorado em Ciências pela UNIFESP com Sandwich na University of Utah. Pós-Doutor em Fisiopatologia pela USP e Livre-Docente pela UNESP/Marília. É Prof. Adjunto de Fisiologia e Morfofisiopatologia na UNESP/Marília. Membro do corpo editorial da Scientific Reports, da Frontiers in Physiology, da Frontiers in Neuroscience e da Frontiers in Neurology. Coordenador do Centro de Estudos do Sistema Nervoso Autônomo. Contato: vitor.valenti@unesp.br