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‘Gigante irlandês’ finalmente encontra alguma privacidade 200 anos após incidente de roubo de corpos

Traduzido por Julio Batista
Original de David Nield para o ScienceAlert

Depois de mais de 200 anos em exibição pública, o esqueleto de 2,31 metros de altura do ‘gigante irlandês’ Charles Byrne está sendo removido como uma exibição do Museu Hunteriano em Londres.

Byrne tinha um tumor benigno não diagnosticado da glândula pituitária, causando abundância do hormônio de crescimento e gigantismo.

A exibição de seu esqueleto sempre foi controversa – até porque o próprio homem temia tal destino, indicando que ele queria ser sepultado no mar – para colocar seus restos mortais fora do alcance do notório curador de anomalias médicas, John Hunter.

Um sepultamento no mar não vai acontecer, porque o Colégio Real de Cirurgiões, que administra o Museu Hunteriano, diz que vai manter o esqueleto para projetos de pesquisa genuínos. O museu está atualmente fechado para extensas reformas, reabrindo em março.

O esqueleto de Charles Byrne em exposição. (Créditos: Doyal e Muinzer, The BMJ, 2011)

“Durante o período de fechamento do Museu, o Conselho de Curadores da Coleção Hunteriana discutiu as sensibilidades e as diferentes visões em torno da exibição e retenção do esqueleto de Charles Byrne”, disse o museu em comunicado à imprensa.

“Os curadores concordaram que o esqueleto de Charles Byrne não será exibido no Museu Hunterian reconstruído, mas ainda estará disponível para pesquisa médica de boa-fé sobre a condição de acromegalia e gigantismo da hipófise.”

A história de Byrne é cheia de drama e interesse. Ele nasceu em Mid Ulster, na Irlanda do Norte, em 1761, como Charles O’Brien. Depois de chegar a Londres aos 21 anos, ele rapidamente se tornou uma das maiores celebridades da época, entretendo multidões e aparecendo em jornais.

Aos 22 anos, porém, sua saúde estava se deteriorando rapidamente. Ele morreu em 1783 e fez questão de que seu corpo não fosse levado por anatomistas – principalmente pelo cirurgião John Hunter. Hunter era conhecido por coletar espécimes incomuns para exibição e já havia se aproximado e sido rejeitado por Byrne.

Embora Bryne tivesse pago amigos para colocar seus restos mortais em um caixão de chumbo e enterrá-los no oceano, Hunter providenciou para que o corpo fosse tirado do caixão e substituído por pedras pesadas. O cadáver foi então reduzido ao esqueleto e, quatro anos depois, foi exposto no próprio museu de Hunter. Foi comprado pelo Colégio Real de Cirurgiões em 1799.

Essa história de roubo de corpos levou a repetidos apelos para que o esqueleto fosse removido da exibição, tanto por motivos legais quanto éticos – e certamente não é algo que você poderia imaginar ser tolerado hoje.

Entre os que pediram uma reavaliação nos últimos anos estavam Len Doyal, professor de ética médica da Universidade de Londres, e Thomas Muinzer, advogado da Universidade de Aberdeen.

“O fato é que Hunter sabia do medo de Byrne sobre ele e ignorou seus desejos de poupar seu corpo”, escreveram Doyal e Muinzer em um paper de 2011 no The BMJ.

“O que foi feito não pode ser desfeito, mas pode ser retificado moralmente. Certamente é hora de respeitar a memória e a reputação de Byrne: a narrativa de sua vida, incluindo as circunstâncias de sua morte.”

Embora o museu e seus proprietários não estejam fazendo exatamente o que Byrne originalmente desejava, eles estão pelo menos removendo o esqueleto como um espetáculo público. A partir de agora, apenas pesquisadores médicos poderão visualizá-lo.

Os restos mortais serão substituídos no Museu Hunteriano por uma pintura de Hunter do famoso pintor inglês Joshua Reynolds. O retrato inclui um dos ossos da perna de Charles Byrne ao fundo.

A decisão é acertada, segundo o parente distante de Byrne, Brendan Holland: ele tem um ancestral comum com os Byrne e também tem gigantismo. Holland aponta para os avanços que foram feitos em termos de compreensão da condição graças ao esqueleto de Byrne.

“[O estudo de seu esqueleto] beneficiou os vivos. Aqueles com a doença agora sabem por que a têm e como tratá-la”, disse Holland à BBC.

“Acho que se [Byrne] estivesse vivo, ele concordaria com isso, pois pode ser uma ameaça à vida.”

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.