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Golfinhos encalhados mostram sinais de Mal de Alzheimer em seus cérebros

Traduzido por Julio Batista
Original de Tessa Koumoundouros para o ScienceAlert

Cientistas descobriram sinais do Mal de Alzheimer nos cérebros de três espécies diferentes de golfinhos encontrados mortos, encalhados na praia.

Evidências de encalhes em massa de cetáceos existem antes de nossa própria história registrada, mas por que golfinhos e baleias encalham em grupos é um mistério duradouro.

Embora tenha sido encontrada uma ligação direta entre o sonar naval e algumas baleias-nariz-de-garrafa, e alguns animais levados para a costa estejam claramente doentes, alguns com a barriga cheia de lixo plástico, a maioria dos encalhes em massa fornece pouca ou nenhuma pista do motivo.

As baleias com dentes (Odontocetos) compartilham uma série de características com os humanos, incluindo a menopausa (em pelo menos cinco espécies que conhecemos). Sua capacidade de viver muito além de seus anos reprodutivos significa que eles também podem ser suscetíveis a doenças de início tardio.

O Mal de Alzheimer é a causa mais comum de incapacidade em humanos idosos, prejudicando gradualmente a memória, o aprendizado e a comunicação. Agora, parece que um mal semelhante também pode afetar nossos parentes mamíferos aquáticos.

“Sempre me interessei em responder à pergunta: só os humanos sofrem de demência?” disse o neurobiólogo Frank Gunn-Moore, da Universidade de St Andrews, na Escócia.

“Nossas descobertas respondem a essa pergunta, pois mostram que a potencial patologia associada à demência não é observada apenas em pacientes humanos”.

A bióloga da Universidade de Leiden, Marissa Vacher, e seus colegas examinaram os cérebros de 22 golfinhos encalhados para procurar os marcadores bioquímicos presentes em humanos com Alzheimer. Isso inclui placas de beta-amilóide, que embora não sejam mais consideradas uma causa direta da doença, ainda estão presentes em números elevados naqueles que a têm; e aglomerados de proteínas tau com hiperfosforilação – quando grupos de fosfato foram adicionados a todos os locais de ligação possíveis na molécula da proteína.

Eles encontraram acúmulos de placas de beta-amilóide e tau hiperfosforilada em três golfinhos, cada um de uma espécie diferente: a baleia-piloto-de-nadadeira-longa (Globicephala melas), o golfinho-de-bico-branco (Lagenorhynchus albirostris) e o golfinho-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus). Esses espécimes também apresentavam sinais de envelhecimento, como dentes desgastados ou perdidos e um aumento na proporção de matéria branca para cinzenta nos tecidos cerebrais.

Além do mais, as localizações das lesões cerebrais encontradas nos golfinhos combinaram com áreas equivalentes observadas em humanos com Alzheimer.

Embora não tenha sido possível para os pesquisadores verificar o diagnóstico de Alzheimer, pois não puderam testar os níveis de comprometimento cognitivo dos animais mortos, não há registro de acúmulos de ambas as proteínas em humanos sem a doença.

“Ficamos fascinados ao ver mudanças cerebrais em golfinhos idosos semelhantes às do envelhecimento humano e do Mal de Alzheimer”, disse a neurocientista da Universidade de Edimburgo, Tara Spires-Jones.

Como os golfinhos são animais altamente sociais, é possível que ajudem outros membros do grupo que começam a ter dificuldades com seus cérebros. Isso significa que há uma chance de que eles sobrevivam por mais tempo, permitindo uma maior progressão da doença do que em espécies solitárias, observaram os pesquisadores.

Os encalhes de golfinhos são comuns em uma das espécies estudadas, G. melas, apoiando a teoria do ‘líder doente‘ para esse comportamento misterioso e fatal.

“Em humanos, os primeiros sintomas da degradação cognitiva associada ao Mal de Alzheimer incluem confusão de tempo e espaço e um senso de direção ruim”, explicaram Vacher e seus colegas em seu paper.

“Se o líder de um grupo de G. melas sofresse de uma degradação cognitiva neurodegenerativa semelhante, isso poderia levar à desorientação, resultando em levar o grupo para águas rasas e um subsequente encalhe”.

No entanto, “se essas alterações patológicas contribuem para o encalhe desses animais é uma questão interessante e importante para trabalhos futuros”, concluiu Spires-Jones.

Esta pesquisa foi publicada no European Journal of Neuroscience.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.