Misteriosos fragmentos de osso fossilizado que se acredita pertencerem a uma criatura que se aproxima do tamanho de uma baleia azul poderiam tecnicamente ter sido deixados por qualquer um dos vários gigantes extintos há muito tempo. Cientistas na Alemanha descobriram agora uma forma potencial de identificar que tipo de gigante os deixou, concluindo que já estiveram dentro de verdadeiros leviatãs do mar – répteis marinhos que respiram ar, conhecidos como ictiossauros.
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Os ictiossauros prosperaram nos oceanos há mais de 100 milhões de anos. Esses temíveis predadores pareciam golfinhos sinistros, variando em tamanho de um metro ou dois até o comprimento de um ônibus, com cerca de 20 metros. Descobertos pela primeira vez em Bristol em 1850, seus ossos têm intrigado os cientistas desde então.
A maioria dos ictiossauros gigantes são representados por “material lamentavelmente incompleto, desarticulado e fragmentado”, dizem os especialistas. A menos que por algum acaso super-raro, o esqueleto fossilizado de um ictiossauro apareça excepcionalmente bem preservado, muitas vezes é difícil para os paleontólogos dizer de onde vieram os fósseis fragmentados.
Ainda hoje, nem todos os especialistas aceitam que vários ossos, encontrados por toda a Europa, pertençam a ictiossauros. Alguns sugerem que eles derivam de predadores extintos semelhantes a crocodilos, ou mesmo de dinossauros terrestres, conhecidos ou desconhecidos.
Olhando através de um microscópio especial, os paleontólogos Marcello Perillo e Martin Sander, da Universidade de Bonn, na Alemanha, descobriram uma maneira de perceber a diferença. A microestrutura do tecido do maxilar fossilizado, dizem eles, é uma revelação absoluta.
“Os ossos de espécies semelhantes geralmente têm estrutura semelhante”, explica Perillo, que conduz a pesquisa para sua tese de mestrado.
“A osteohistologia – a análise do tecido ósseo – pode assim ser usada para tirar conclusões sobre o grupo animal de onde se origina a descoberta.”
Para testar essa ideia, Perillo colocou no microscópio vários supostos maxilares de ictiossauro que ainda não haviam sido oficialmente classificados. Eles vieram da França, Alemanha e sudoeste da Inglaterra.
Juntamente com os ossos confirmados do ictiossauro, todas essas mandíbulas “misteriosas” apresentavam longos fios de colágeno fibroso que eram tecidos em um padrão único e compartilhado. Isso sugere que eles vêm do mesmo grupo de animais.
Até mesmo os fósseis de ictiossauros encontrados no Canadá mantinham um padrão semelhante aos encontrados na Europa.
“Essa estrutura não é encontrada em amostras fósseis de outros grupos de animais que estudei”, diz Perillo.
Outros cientistas suspeitaram que este poderia ser o caso, mas os seus argumentos basearam-se principalmente na morfologia, comparando ossos de ictiossauro conhecidos com os suspeitos.
Por exemplo, misteriosos ossos fossilizados da mandíbula que foram encontrados no sudoeste da Inglaterra na era vitoriana foram originalmente atribuídos a dinossauros terrestres, mas agora alguns cientistas acham que eles combinam melhor com os ictiossauros.
Perillo e Sander analisaram agora esses mesmos ossos da mandíbula com mais do que apenas os olhos e chegaram à mesma conclusão.
O padrão microscópico do tecido nos ossos não corresponde aos saurópodes, estegossauros ou outros dinossauros suspeitos de viverem na terra, concluem os pesquisadores.
A estrutura única, acrescentam, mantém semelhanças com materiais reforçados com fibra de carbono, o que proporcionaria grande estabilidade durante o rápido crescimento. Dado que se sugeriu que um dos maiores fragmentos ósseos veio de um animal do tamanho de uma baleia, as mandíbulas do caçador teriam de suportar algumas tensões extraordinárias.
“Essas enormes mandíbulas teriam sido expostas a fortes forças de cisalhamento mesmo quando o animal comia normalmente”, explica Perillo. “É possível que esses animais também tenham usado o focinho para atacar suas presas, de forma semelhante às orcas de hoje. No entanto, isso ainda é pura especulação neste momento”.
O estudo foi publicado em PeerJ.
Traduzido de ScienceAlert