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Já faz 53 anos desde que uma mulher ganhou o Nobel de Física. Por que a demora?

Publicado no Washington Post

Quando os ganhadores do Prêmio Nobel de Física foram anunciados na última terça (4), algumas pessoas da comunidade científica ficaram desapontadas pelo fato da honraria não ter sido entregue aos pesquisadores por trás da histórica detecção das ondas gravitacionais que aconteceu no começo deste ano. Teria sido um grande e espetacular prêmio para uma descoberta tão notável — e um caso raro de premiação quase imediata.

Mas pelo fato dos resultados dos estudos das ondas gravitacionais terem sido publicados após o prazo para as nominações do Prêmio Nobel de 2016, o comitê tem uma desculpa válida. As pessoas por trás da detecção (ou três das mais de mil) sem dúvida serão premiadas pelo seu trabalho em algum momento. Ano que vem, talvez, ou quando pesquisas sobre buracos negros estiverem em alta graças ao seu trabalho inovador.

Não lamentem pela não premiação das ondas gravitacionais. Elas ficarão bem. Agora vamos tirar um tempo para falar um pouco sobre Vera Rubin.

Rubin e seu colega Kent Ford forneceram a primeira evidência real da matéria escura — sim, matéria escura, a invisível, incognoscível, misteriosa matéria que compõe mais de um quarto do universo — décadas atrás. Seu tempo no centro das atenções do Nobel está atrasado.

“A existência da matéria escura tem revolucionado completamente nosso conceito do Universo e de toda a nossa área de estudo; o esforço contínuo para entender o papel da matéria escura tem gerado sub áreas inteiras dentro da Astrofísica e da Física de Partículas,” Emily Levesque, Astrônoma da Universidade de Whashington em Seattle, contou à Astronomy.com. “O testamento de Alfred Nobel descreve o prêmio da Física como o reconhecimento das mais importantes descobertas dentro da área. Se a matéria escura não se encaixa nessa descrição, então eu não sei o que se encaixa.”

Embora Rubin, que obteve seu PhD em Astronomia pela Universidade de Georgetown, tem sido a favorita para ganhar o Nobel há alguns anos, ela tem perdido repetidamente — para o diodo emissor de luz azul em 2014, neutrinos em 2015 e agora para os estudos de estados exóticos da matéria.

O Prêmio Nobel não é justo. Vários homens que mereciam o prêmio também nunca receberam aquela ligação de Estocolmo no começo da manhã. Mas alguém (ou dois, ou três) tem que ganhar o prêmio todo ano. Seria legal que o comitê consagrasse mulheres de vez em quando.

Sim, há mais homens do que mulheres na Física — principalmente mais velhos e mais experientes grupos com maiores quantidades de descobertas. Mas isso não significa que não existam mulheres merecedoras esperando pelo reconhecimento. Em 2014, Slate foi dar uma procurada entre os círculos de pessoas da Física e conseguiu uma lista das mulheres não menos merecedoras do prêmio do que os homens consagrados pelo diodo emissor de luz azul, mostrando que há várias candidatas excelentes.

Assim como Matthew Francis escreveu na Forbes em 2015, o Prêmio Nobel não está certo e nós deveríamos nos sentir mal por isso. Ele pega descobertas que precisaram de dezenas, ou centenas, ou até mesmo milhares de pesquisadores e resumo em um avanço de apenas algumas mentes brilhantes. No esforço para colocar apenas três (ou menos) laureados no pódio, o comitê negligencia contribuições de outros pesquisadores.

Alguns podem argumentar que Rubin, uma candidata óbvia e de longa data ao Nobel, deveria esperar até a matéria escura ser oficialmente detectada para assim ser consagrada com o prêmio. Mas Rubin está com mais de 80 anos, e o Nobel não pode ser dado postumamente. Seu trabalho com a matéria escura tem gerado ramos inteiramente novos da pesquisa científica, e o tempo está se esgotando para ela. Este deveria ter sido seu ano.

A saúde de Rubin não está boa o suficiente para ela conseguir dar entrevistas. Mas há algumas décadas atrás, ela falava sem mágoas sobre todas as vezes em que não foi escolhida pela premiação. “A fama é passageira”, Rubin falou à Discover Maganize em 1990. “Meus números significam mais para mim do que meu nome. Se os astrônomos ainda estiverem usando meus dados futuramente, esta será minha maior alegria.”

Camila Durdyn

Camila Durdyn

Estudante de bacharelado em Física na UFPR, tem afinidade com as áreas de Astrofísica, Cosmologia e Física de Partículas. É apaixonada pelo conhecimento, sempre buscando se aprimorar. Viciada em livros - os clássicos, em geral, e os russos - e em aprender novas línguas.