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Lobos-terríveis podem ter sido os únicos sobreviventes de uma linhagem antiga

Por Michelle Starr
Publicado na ScienceAlert

O antigo e extinto lobo-terrível pode ter estado entre os lobos mais solitários – tão geneticamente distinto de seu parente lobo mais próximo que não podia mais cruzar, forçando-o a um beco sem saída evolutivo quando morreu há 13.000 anos.

Essa é a descoberta baseada em um novo estudo, a análise aprofundada de DNA recuperado de antigos ossos de lobo-terrível de toda a América do Norte. Uma vez que os lobos-terríveis (Canis dirus) divergiram dos lobos cinzentos milhões de anos atrás, eles parecem nunca mais se misturarem.

Na verdade, sua linhagem genética é tão diferente de outros canídeos que a equipe de pesquisa propõe que lobos-terríveis sejam colocados em outro gênero completamente diferente – mais especificamente, que eles sejam reclassificados como Aenocyon dirus, como foi proposto pela primeira vez em 1918.

“Lobos-terríveis às vezes são retratados como criaturas míticas – lobos gigantes rondando paisagens congeladas e isoladas – mas a realidade acaba sendo ainda mais interessante”, disse o paleobiólogo Kieren Mitchell, da Universidade de Adelaide, na Austrália.

“Apesar das semelhanças anatômicas entre lobos cinzentos e lobos-terríveis – sugerindo que eles talvez possam estar relacionados da mesma forma que os humanos modernos e os neandertais – nossos resultados genéticos mostram que essas duas espécies de lobo são muito mais parecidas com primos distantes, como humanos e chimpanzés.”

Restos de lobos-terríveis podem ser encontrados no registro fóssil de 250.000 a cerca de 13.000 anos atrás, e parecem ter dominado a cena carnívora durante a última Idade do Gelo no que hoje é a América do Norte.

Somente nos famosos poços de piche de La Brea, os lobos-terríveis escavados superam em número o ligeiramente menor lobo cinzento (Canis lupus) mais de cem vezes.

Mas como eles divergiram, evoluíram e, por fim, foram extintos no final do Último Período Glacial, cerca de 11.700 anos atrás, tem sido um desafio descobrir. Assim, uma equipe internacional de cientistas começou a trabalhar em uma das únicas pistas que temos: ossos.

“Lobos-terríveis sempre foram uma representação icônica da última era glacial nas Américas, mas o que sabemos sobre sua história evolutiva se limita ao que podemos ver pelo tamanho e formato de seus ossos”, disse a arqueóloga Angela Perri, de Universidade de Durham (Reino Unido).

Mas às vezes os vestígios paleontológicos podem conter outras informações dentro: DNA suficientemente bem preservado para ser sequenciado. E foi isso que a equipe investigou.

Eles obtiveram cinco amostras de DNA de lobo-terrível de mais de 50.000 anos a 12.900 anos atrás, de Idaho, Ohio, Wyoming e Tennessee, e as sequenciaram.

Em seguida, eles as compararam com dados genômicos de oito canídeos que vivem hoje, obtidos de um banco de dados genômico: lobo cinzento, coiote (Canis latrans), lobo-dourado-africano (Canis lupaster), cão-selvagem-asiático (Cuon alpinus), lobo-etíope (Canis simensis), cão-selvagem-africano (Lycaon pictus), raposa-andina (Lycalopex culpaeus) e raposa-cinzenta (Urocyon cinereoargenteus).

Eles também geraram novas sequências de genoma para o lobo cinzento, o chacal-de-dorso-negro (Canis mesomelas) e o chacal-listrado (Canis adustus).

Eles descobriram que, ao contrário de outros lobos que migraram entre as regiões, o lobo-terrível permaneceu onde estava, nunca se afastando da América do Norte.

E, o que é fascinante, embora eles tenham compartilhado espaço com coiotes e lobos cinzentos por pelo menos 10.000 anos, eles nunca parecem ter cruzado com eles para produzir híbridos.

“Quando começamos este estudo, pensamos que os lobos-terríveis eram apenas lobos cinzentos grandões, então ficamos surpresos ao saber como eles eram geneticamente diferentes, tanto que provavelmente não poderiam ter cruzado”, disse o geneticista molecular Laurent Frantz da Universidade de Munique Ludwig-Maximilians na Alemanha e Queen Mary Universidade de Londres no Reino Unido.

“Isso deve significar que lobos-terríveis estiveram isolados na América do Norte por um longo tempo para se tornarem geneticamente distintos.”

Na verdade, de acordo com a análise da equipe, os lobos-terríveis e lobos cinzentos devem ter divergido de um ancestral comum há mais de 5 milhões de anos. Quando você considera que cães e lobos divergiram entre 15.000 e 40.000 anos atrás, isso é realmente muito tempo.

O cruzamento entre espécies de canídeos cujos territórios se sobrepõem é bastante comum. O híbrido de coiote e lobo é tão comum que tem um nome – coylobo – e os híbridos de cachorro-lobo também são conhecidos (embora criá-los como animais de estimação seja extremamente controverso nos Estados Unidos). Portanto, o fato dos lobos-terríveis terem passado tanto tempo em proximidade com canídeos sem cruzar é algo altamente incomum.

E, embora a equipe não tenha explorado essa possibilidade, o isolamento genético pode ter contribuído para a extinção da antiga fera, já que ela era incapaz de se adaptar a um mundo em mudança e com novas características.

“Embora os humanos antigos e os neandertais pareçam ter cruzado, assim como os lobos cinzentos e coiotes modernos, nossos dados genéticos não forneceram evidências de que lobos-terríveis cruzaram com qualquer espécie canina viva”, disse Mitchell. “Todos os nossos dados apontam para o lobo-terrível sendo o último membro sobrevivente de uma linhagem antiga distinta de todos os caninos vivos.”

A pesquisa foi publicada na Nature.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.