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Meteoritos fornecem pistas para um objeto enorme e desconhecido no início do Sistema Solar

Por Peter Dockrill
Publicado na ScienceAlert

Em 2008, algo único caiu do céu sobre o Sudão, explodindo em fragmentos nas vastas extensões áridas do deserto da Núbia.

Este objeto arremessado do espaço tornou-se conhecido como Almahata Sitta: uma coleção de cerca de 600 fragmentos de meteorito, meticulosamente recuperados por pesquisadores e tendo seu nome – ‘Estação Seis’ – de uma estação ferroviária próxima.

O que foi único no Almahata Sitta é que ele representou algo sem precedentes na astronomia: a primeira vez que um impacto de asteroide foi previsto com sucesso por cientistas.

Desde então, os fragmentos desse asteroide – chamado 2008 TC3 – têm sido analisados ​​por pesquisadores, em busca de pistas químicas para as origens deste misterioso e longínquo visitante.

Agora, um novo estudo dá conta dessa intrigante história.

O fragmento AhS 202. (Créditos: Muawia Shaddad)

Olhar para os fragmentos pode nos dizer muito sobre o 2008 TC3, que por sua vez pode nos dizer de onde o próprio 2008 TC3 veio – como uma cadeia astronômica de bonecas Matryoshka aninhadas.

“Nosso resultado surpreendente sugere a existência de um corpo-pai enorme e rico em água”, disse a autora principal e geóloga planetária Vicky Hamilton, do Instituto de Pesquisa do Sudoeste em Boulder, Colorado (EUA).

No novo trabalho, Hamilton e outros pesquisadores não tiveram muito com o que trabalhar, analisando apenas os menores fragmentos dessa rocha espacial notável.

“Recebemos uma amostra de 50 miligramas do Almahata Sitta para estudar”, explica Hamilton. “Montamos e polimos o minúsculo fragmento e usamos um microscópio infravermelho para examinar sua composição.”

A análise espectral revelou algo que os cientistas não esperavam encontrar. Dentro do fragmento – chamado AhS 202 – foi encontrada uma forma extremamente rara de cristais hidratados, conhecida como anfibólio.

Este tipo de mineral requer episódios prolongados de calor e pressão extremos para se formar, de um tipo que normalmente não é possível em meteoritos condritos carbonáceos (CC).

Micrografia mostrando cristais de anfibólio, em laranja. (Créditos: NASA/USRA/Instituto Lunar e Planetário)

As implicações sugerem que o 2008 TC3 provavelmente já pertenceu a um corpo muito, muito maior – algo tão grande, na verdade, que estaria virtualmente na mesma classe de Ceres: o planeta anão, que representa o maior objeto conhecido no principal cinturão de asteroides do Sistema Solar, entre as órbitas de Marte e Júpiter.

“Acredita-se que a maioria dos corpos-mãe CC tenham menos de 100 km de diâmetro e, portanto, não seriam suficientemente grandes para produzir a faixa de condições de pressão e temperatura representada pela conjunção mineral em AhS 202”, explicam os autores em seu estudo.

“Como tal, é nossa interpretação que o corpo original do AhS 202 era provavelmente um objeto desconhecido, potencialmente do tamanho de Ceres (entre 640-1.800 km de diâmetro nas condições mais prováveis).”

Embora se pense que este asteroide gigante e misterioso não exista mais, o fato de que uma vez habitou nosso Sistema Solar sugere que mais de sua espécie poderiam ter feito o mesmo, mesmo que não tenhamos encontrado evidências destes corpos grandes e ricos em água em fragmentos de meteoritos recuperados antes do 2008 TC3.

Da mesma forma que os asteroides Ryugu e Bennu estão revelando algumas surpresas na composição que diferem da maioria dos meteoritos conhecidos, os múltiplos fragmentos do 2008 TC3 estão provando que há mais nas rochas espaciais do que as hipóteses atuais podem explicar completamente.

“Não estamos propondo que o AhS 202 seja um análogo espectral para Bennu ou Ryugu; em vez disso, o AhS 202 é uma fonte acidental de informações sobre os primeiros materiais do Sistema Solar que não são representados por meteoritos inteiros em nossas coleções”, concluem os pesquisadores.

“A diferença entre sua mineralogia e a de meteoritos CC conhecidos sugere que amostras únicas como AhS 202 (e xenólitos em outros meteoritos não-CC) podem ser elos perdidos cruciais em nossa compreensão da diversidade dos asteroides originais.”

As descobertas foram publicadas na Nature Astronomy.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.