Por Susie Neilson
Publicado no Business Insider
Mais de 12.000 anos atrás, perto do fim da era do gelo, os humanos caçavam mastodontes: antigos mamíferos que se assemelhavam a um cruzamento entre mamutes e elefantes. Mas por volta de 11.600 a.C., os humanos, provavelmente, deixaram os mastodontes fadados à extinção.
Pelo menos, essa é a teoria principal entre muitos paleontólogos. Uma descoberta recente reforça isso: pesquisadores descobriram recentemente milhares de desenhos de uma tribo da era do gelo escondida nas profundezas da floresta amazônica.
Os desenhos estão espalhados por três abrigos rochosos na região da Serranía La Lindosa, na Colômbia. Eles foram pintados pela primeira vez entre 12.600 e 11.800 anos atrás. Só o maior abrigo, conhecido como Cerro Azul, tem desenhos que cobrem mais de 4 quilômetros de sua superfície.
As imagens mostram alguns dos primeiros habitantes da América do Sul e suas interações com animais da era do gelo, incluindo preguiças gigantes, lhamas antigas e cavalos da era do gelo.
Alguns desenhos, como o mostrado abaixo, até retratam o que os especialistas pensam ser caças a mastodontes.
Milhares de imagens antigas e incrivelmente detalhadas
Muitas das imagens mostram níveis de detalhes incomuns para uma arte tão antiga, segundo José Iriarte, professor de arqueologia da Universidade de Exeter (Reino Unido) e líder da equipe que fez a descoberta.
“O cavalo da era do gelo tinha um rosto selvagem e grande”, disse Iriarte ao The Guardian. “É tão detalhado que podemos até ver o pelo do cavalo. É fascinante”.
Os pesquisadores publicaram um estudo sobre os três locais em abril na revista Quaternary International. Mas na segunda-feira, a Universidade de Exeter divulgou um comunicado com informações sobre a descoberta para coincidir com a cobertura dos sites de um episódio de Jungle Mystery: Lost Kingdoms of the Amazon, uma série de documentários que vai ao ar no Reino Unido a partir de sábado e ainda não está disponível no Brasil.
Mark Robinson, um arqueólogo ambiental da Universidade de Exeter e coautor do estudo de abril, disse em um comunicado que as pessoas que produziram essas pinturas, provavelmente, mudaram-se para a América do Sul em um momento de “mudanças climáticas extremas”. A era do gelo estava terminando.
“A Amazônia ainda estava se transformando na floresta tropical que conhecemos hoje”, disse ele. “As pinturas dão um vislumbre vívido e emocionante da vida dessas comunidades. É inacreditável para nós hoje pensar que elas viviam entre e caçavam herbívoros gigantes, alguns do tamanho de um carro pequeno”.
As pinturas são tão vastas e numerosas que, provavelmente, levarão muitos anos para serem estudadas por completo. Além disso, Jeison Lenis Chaparro-Cárdenas, antropólogo da Universidade Nacional da Colômbia e membro da equipe de pesquisa, disse ao Business Insider que “a grande maioria” dos penhascos na região ainda não foi totalmente explorada.
Um olhar mais aprofundado sobre a vida dos amazônicos pré-históricos
Além da megafauna antiga, os desenhos de penhascos e cavernas representam crocodilos, antas, macacos, tartarugas, serpentes e porcos-espinhos. Eles também incluem formas geométricas, bem como cenas do cotidiano que mostram pessoas caçando e interagindo com plantas e árvores.
“Há muitas coisas e momentos de emoção e surpresa”, disse Chaparro-Cárdenas. Ele acrescentou que a maioria das imagens girava em torno de um tema comum: “a majestade da natureza que os rodeava e com a qual interagiam em seu dia a dia”.
A equipe realizou escavações no solo ao redor dos locais de arte rupestre para encontrar pistas sobre como os habitantes raspavam a argila para extrair ocre, um pigmento que usaram para fazer os desenhos.
Essas investigações revelaram restos de animais, provavelmente, comidos pelos povos antigos, incluindo piranhas, tartarugas, tatus e capivaras, segundo Chaparro-Cárdenas. Os habitantes modernos da floresta amazônica ainda comem muitos dos animais encontrados nos locais.
“Isso mostra uma grande variedade de recursos que foram usados pelos habitantes da Amazônia por mais de 12 mil anos”, disse Chaparro-Cárdenas.
Uma jornada perigosa que ‘100% vale a pena’
A equipe começou a estudar a região em 2014, dois anos antes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) firmarem um tratado de paz com o governo da Colômbia. A região da Serranía La Lindosa está sob o território das FARC e entrar com segurança ainda requer negociações cuidadosas com o grupo guerrilheiro, segundo o The Guardian.
A região também apresenta muitos riscos naturais. Cobras venenosas e jacarés habitam a área, que fica a uma hora de viagem da cidade mais próxima.
Em um ponto, uma grande cobra venenosa surucucu bloqueou o caminho da equipe de pesquisa. Eles tiveram que contornar ela, sabendo que estavam longe de qualquer hospital, relatou o The Guardian.
“Você está no meio do nada”, disse Ella Al-Shamahi, uma arqueóloga que trabalhou com a equipe no documentário a ser lançado, ao The Guardian. Mas ela acrescentou que enfrentar os perigos “100%” vale a pena.