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Milhares de esqueletos humanos revelam a guerra evolucionária entre o homem e as doenças

Por David Nield
Publicado na ScienceAlert

Enquanto o mundo luta contra uma pandemia global, um estudo de dezenas de milhares de esqueletos antigos revelou como o corpo humano evolui para lutar contra as doenças e como as doenças também evoluem para se tornarem menos mortais com o tempo. Suas conclusões podem ensinar aos especialistas mais sobre como nos adaptaremos para lidar com doenças no futuro.

Os pesquisadores por trás do novo estudo dizem que ele mostra como os germes sofrem mutação para se replicar e garantir a sobrevivência no maior número possível de hospedeiros humanos – mas que esse comportamento também reduz a gravidade da doença com o tempo. No final, os microrganismos ou patógenos nocivos acabam chegando a uma espécie de trégua com o corpo humano.

Hanseníase, tuberculose e treponematoses (um grupo de doenças que inclui a sífilis) foram as doenças analisadas na pesquisa. Todos elas podem deixar marcas em ossos e dentes que indicam infecção e, graças aos restos mortais e aos registros médicos disponíveis, podem ser rastreadas até 200 gerações.

“Cada uma dessas três doenças mostra um declínio na prevalência resultante da coadaptação que é mutuamente benéfica para a doença e o hospedeiro humano”, disse o antropólogo Maciej Henneberg, da Universidade Flinders, na Austrália.

“Nos últimos 5.000 anos, antes do advento da medicina moderna, os sinais nos ossos da tuberculose se tornaram menos comuns, as manifestações nos ossos da hanseníase na Europa diminuíram após o final da Idade Média, enquanto os sinais nos ossos de treponematoses na América do Norte diminuíram, especialmente na últimos anos antes do contato com invasores europeus”.

Os pesquisadores analisaram três estudos anteriores das três doenças, abrangendo 69.379 esqueletos no total. Em todos os estudos examinados, as idades desses esqueletos variaram desde 7250 a.C. até os dias atuais.

Nem todos esses esqueletos eram de pessoas com tuberculose, treponematoses ou lepra, e nem todos os esqueletos de pessoas que tinham essas doenças mostraram sinais físicos nos ossos. Embora isso signifique que o novo estudo não é uma meta-análise epidemiológica estrita, significa que o tamanho da amostra foi grande o suficiente para a equipe fazer algumas especulações úteis.

Nenhuma das três doenças mata seus hospedeiros humanos imediatamente, o que ajuda os patógenos a sobreviver e se espalhar. Mas o declínio estatisticamente significativo na prevalência da tuberculose, das treponematoses ou da hanseníase ao longo do tempo sugere que os humanos se tornaram mais imunes ou tolerantes ou que a doença se tornou menos prejudicial.

“De uma perspectiva evolutiva, faz sentido para um patógeno causar menos danos ao hospedeiro do qual depende para sua sobrevivência, então altos níveis de transmissão parecem ser um traço evolutivo temporário que se reduz com o passar do tempo quando olhamos para a hanseníase, tuberculose e sífilis”, disse o antropólogo Teghan Lucas, da Universidade Flinders.

Embora haja algumas ressalvas a serem mencionadas – como as diferentes maneiras como os três estudos relataram seus respectivos resultados e a necessidade de considerar outros fatores que podem afetar a propagação de doenças além daqueles destacados – é uma visão geral interessante do progresso das doenças ao longo do tempo.

O coronavírus da COVID-19 está conosco há pouco tempo, mas já vimos o vírus se transformar várias vezes para garantir sua sobrevivência e chegar a mais hospedeiros humanos. Mesmo que as vacinações controlem a propagação do vírus, os especialistas terão que ficar de olho em como ele evoluirá no futuro.

A nova pesquisa faz parte do crescente campo da paleopatologia, o estudo de antigas doenças humanas por meio de evidências como esqueletos, restos mumificados, documentos, literatura e arte antigas.

“A paleopatologia está se tornando uma disciplina cada vez mais popular que permite que doenças que se manifestam em tecidos duros sejam estudadas em populações passadas porque as doenças se preservam enquanto existirem os restos do esqueleto”, disse Lucas.

“Devido à preservação dos sinais patológicos nos esqueletos, é possível rastrear o processo de coevolução das três principais doenças infecciosas desde que os espécimes foram encontrados”.

A pesquisa foi publicada na PLOS One.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.