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‘Múmias do pântano’ assassinadas da Escócia viajaram centenas de quilômetros para morrer em um banheiro

Por Brandon Specktor
Publicado na Live Science

Pesquisadores descobriram novos detalhes sobre as vidas e mortes violentas das “múmias do pântano” – um grupo de esqueletos medievais descobertos em 1975 em uma antiga latrina da era romana em Cramond, Escócia. (Nesse caso, múmias do pântano é um jogo de palavras. Apesar de existirem as famosas múmias dos pântanos – corpos preservados naturalmente em pântanos –, como o homem de Tollund, o homem de Grauballe e o homem de Lindow, a palavra “bog” que significa “pântano” em inglês também é uma gíria para “banheiro”)

Os indivíduos enterrados, que receberam reconstruções faciais digitais impressionantes com base em seus esqueletos em pesquisas anteriores, incluem nove adultos e cinco bebês que viveram na Escócia no século VI. Agora, uma nova análise dos isótopos (diferentes versões de elementos) nos ossos e dentes dos esqueletos revela que vários membros do grupo viajaram de cantos distantes da Escócia antes de chegar ao seu local de sepultamento definitivo nos antigos banheiros de Cramond.

Essa nova análise pode adicionar mais detalhes aos retratos obscuros de quem eram essas pessoas, onde nasceram e que tipo de vida levaram, de acordo com os autores de um novo estudo, publicado em 24 de março na revista Archaeological and Anthropological Sciences.

“O esmalte dos dentes, principalmente de dentes que se formam entre três e seis anos de idade, agem como pequenas cápsulas do tempo contendo informações químicas sobre onde uma pessoa cresceu”, disse a autora do estudo, Kate Britton, professora de arqueologia da Universidade de Aberdeen, na Escócia, em um comunicado. “A comida e a água consumidas durante a vida [também] deixam uma assinatura específica no corpo, que pode ser rastreada até sua fonte”.

A análise mostrou que seis dos indivíduos apresentavam marcadores químicos sugerindo que eram locais da área de Cramond. (A vila fica no Mar do Norte, a oeste de Edimburgo.) No entanto, dois dos indivíduos – um homem e uma mulher – mostraram evidências de histórias de vida muito diferentes.

De acordo com os pesquisadores, a assinatura isotópica da mulher (a combinação precisa de elementos em seus dentes e ossos) sugere que ela veio da costa oeste da Escócia. Enquanto isso, o homem continha isótopos “mais típicos do Planalto do Sul, Terras Altas do Sul ou da área de Loch Lomond, então é provável que ele tenha vindo de uma área do interior para Cramond”, disse Britton.

Essas assinaturas químicas sugerem que os dois indivíduos cresceram em outro lugar, antes de migrar centenas de quilômetros para Cramond em algum momento posterior, disseram os pesquisadores. Dado que as estradas seriam poucas e distantes entre si na época, essas descobertas podem ter implicações importantes sobre o status socioeconômico dos dois indivíduos que viajaram bastante.

“Estudos anteriores sugeriram que aqueles enterrados aqui eram de alto status social, até nobreza”, disse a principal autora do estudo, Orsolya Czére, pesquisadora de pós-doutorado na Universidade de Aberdeen, no comunicado. “O que podemos dizer com nossas novas análises é que esses eram indivíduos com conexões de alto status, com vidas que os fizeram viajar por todo o país”.

O fato de dois viajantes com origens potencialmente nobres terem acabado em uma vala comum com sete outros homens, mulheres e crianças que podem ter sido completos estranhos para eles ressalta as dificuldades desses tempos, acrescentaram os pesquisadores.

Esse fato é ainda mais acentuado pelos ferimentos presentes em dois dos corpos; de acordo com pesquisas anteriores, uma mulher e uma criança depositadas no local do enterro aparentemente morreram de ferimentos fatais no crânio. Ambos os crânios mostraram evidências de terem sido atingidos por um objeto contundente, possivelmente a ponta de uma lança, que teria matado os indivíduos muito rapidamente, disseram os pesquisadores.

“Esta evidência fornece uma confirmação importante de que o período em questão foi caracterizado por um alto nível de violência”, disse a coautora do estudo, Angela Boyle, osteoarqueóloga da Universidade de Edimburgo, em comunicado.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.