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Múmias sul-americanas foram brutalmente assassinadas, revela tomografia computadorizada

Traduzido por Julio Batista
Original de David Nield para o ScienceAlert

Um segredo do passado que pode ser revelado através do estudo de crânios e esqueletos é a frequência com que a violência estava presente entre nossos ancestrais.

No entanto, com seus tecidos moles preservados, os restos mumificados podem ser um indicador ainda mais revelador do que os ossos sozinhos.

Isso nos leva a uma nova análise de três múmias sul-americanas pré-colombianas, realizadas com tomografia computadorizada 3D (TC 3D) que usa raios X para visualizar o estado interno dos restos mortais sem precisar abri-los.

A pesquisa revela que duas dessas três pessoas foram brutalmente mortas.

A múmia masculina de Marburgo. (Créditos: AM Begerock, R Loynes, OK Peschel, J Verano, R Bianucci, I Martinez Armijo, M González, AG Nerlich)

Estes são corpos naturalmente mumificados, criados em ambientes secos quando o fluido é absorvido pelos arredores de um corpo mais rapidamente do que a taxa de decomposição. Essas condições são comuns na parte sul da América do Sul.

“Aqui mostramos trauma letal em duas das três múmias sul-americanas que investigamos com tomografia computadorizada 3D”, disse o patologista Andreas Nerlich, da Clínica Bogenhausen de Munique, na Alemanha.

“Os tipos de trauma que encontramos não seriam detectáveis ​​se esses restos humanos fossem meros esqueletos”.

A múmia masculina da Universidade Phillips de Marburgo, na Alemanha, originalmente pertencia à cultura Arica no que hoje é o norte do Chile.

Ele provavelmente morava em uma comunidade de pescadores e apresentava sinais de tuberculose grave nos pulmões. Com idade entre 20 e 25 anos, a datação por radiocarbono sugere que este homem morreu entre 996 e 1147 d.C.

Quanto às múmias masculinas e femininas do Museu de Arte e História de Delémont, na Suíça, elas provavelmente vieram da região de Arequipa, no que hoje é o sudoeste do Peru. Acredita-se que o homem tenha morrido entre 902 e 994 d.C., e a mulher entre 1224 e 1282 d.C.

Sinais de “violência interpessoal” foram identificados pelos pesquisadores nas duas múmias masculinas, violência que os teria matado no local.

Parece que a múmia de Marburgo morreu com um forte golpe na cabeça e uma facada nas costas, que pode ter vindo de um ou dois agressores.

Quanto à múmia masculina de Delémont, o estudo observa “trauma maciço contra a coluna cervical, que provavelmente representa a causa da morte” – então um duro golpe na parte de trás do pescoço provavelmente o levou a encontrar seu fim.

Embora a múmia feminina de Delémont também tenha danos no esqueleto, acredita-se que isso tenha ocorrido após a morte, provavelmente durante o sepultamento.

“A disponibilidade de tomografias computadorizadas modernas com a oportunidade de reconstruções em 3D oferece uma visão única de corpos que de outra forma não teriam sido detectados”, disse Nerlich.

“Estudos anteriores teriam destruído a múmia, enquanto raios-x ou tomografias computadorizadas mais antigas sem funções de reconstrução tridimensional não poderiam ter detectado os principais recursos de diagnóstico que encontramos aqui”.

As múmias de Delémont. (Créditos: AM Begerock, R Loynes, OK Peschel, J Verano, R Bianucci, I Martinez Armijo, M González, AG Nerlich)

Por mais assustadoras que as descobertas do estudo possam ser, aprender sobre essas mortes e esses tipos de violência são incrivelmente úteis para obter uma imagem melhor de como essas civilizações antigas viviam e se davam bem – ou não se davam bem.

Embora os restos mumificados não sejam tão comuns quanto os esqueletos, ainda há muitos que foram recuperados e preservados em museus e que podem receber o mesmo tipo de tratamento de detetive científico.

“É importante ressaltar que o estudo de material mumificado humano pode revelar uma taxa muito maior de trauma, especialmente trauma intencional, do que o estudo de esqueletos”.

“Existem dezenas de múmias sul-americanas que podem trazer benefícios ao campo com uma investigação semelhante à que fizemos aqui”, disse Nerlich.

A pesquisa foi publicada na Frontiers in Medicine.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.