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Não, a NASA não está atrás de um protetor da Terra contra ameaças aliens

Opa, parece que vocês caíram num click bait bem feio da BBC.

A NASA realmente abriu uma vaga de emprego para o programa de proteção planetária, mas não “com a tarefa de defender a Terra contra ameaças de aliens”. Isso é tão absurdo quanto chocante.

Acontece que as agências ao redor do mundo querem evitar a contaminação biológica no espaço, sobretudo em outros planetas. Isso é muito óbvio num tempo em que sabemos que uma grande leva de microrganismos sobrevive muito bem ao ambiente espacial.

A NASA mantém um protocolo rigoroso quanto a isso. Desde as missões Apollo, que levaram humanos a Lua, os cientistas começaram a perceber que havia muito mais coisas envolvendo a vida terrestre e o espaço que eles ainda não sabiam. A saúde dos astronautas é um dos pontos chaves pois o comportamento do corpo humano em condições espaciais pode levar a alguns problemas sérios como perda da densidade óssea, problemas cardíacos e má circulação sanguínea.

Isso leva, também, ao ponto da sobrevivência dos microrganismos no espaço: a Estação Espacial Internacional da NASA (ISS) possui um protocolo de limpeza diário e mesmo assim não é difícil encontrar bactérias e fungos, por exemplo, vivendo tranquilamente por lá. Eles são levados não propositalmente no corpo dos astronautas, mas rendem pesquisas fascinantes na ISS.

Além de ser totalmente incrível, isso acende o sinal de alerta: se eles sobrevivem bem na ISS, como seria num ambiente ainda mais inóspito quanto Marte, por exemplo? Para não correrem riscos, há muito investimento no programa de proteção planetária para políticas mais fortes e ações contra a contaminação espacial. Além disso, muitas tecnologias são desenvolvidas para identificação e catalogação destes seres visando uma futura viagem mais longa.

Quando falamos ‘proteção planetária’ não estamos nos referindo, automaticamente, ao planeta Terra. Estamos falando principalmente de outros mundos, luas e demais corpos celestes que um dia desejamos pousar para estudar e que há a grande chance de contamina-los sem querer.

O que a NASA quer com o seu futuro novo funcionário – que o pagará muito bem para isso – é que ele seja “responsável pela liderança da capacidade de proteção planetária da NASA, manutenção de políticas de proteção planetária e supervisão de sua implementação pelas missões de voo espacial da NASA” dentre outras coisinhas mais.

Bastava 15 minutos no Google pra achar o comunicado OFICIAL da NASA EM QUE NÃO DIZ, EM NENHUMA LINHA, SOBRE AMEAÇAS ALIENÍGENAS.

Algum tipo de ameaça seria provável se alguma amostra fosse trazida a Terra e, mesmo assim, as chances seriam poucas visto que hoje as agências fazem muitos ótimos testes no espaço mesmo.

Na matéria da BBC até fala sobre a questão da sobrevivência dos microrganismos, mas destoa do título feito unicamente para clicar e dar uma impressão errada ao leitor do que realmente está sendo feito. Não é uma guerra ou caça aos aliens como dá para entender. É só uma maneira de tornar a proteção planetária mais rigorosa.

Interessante que nenhum desses grandes portais, como o próprio G1, não se interessou em fazer uma pesquisa simples prévia. Estiveram mais interessado nos cliques.

Para saber mais sobre a questão da sobrevivência dos microrganismos no espaço e a proteção planetária, leia:

De olho nos microrganismos da ISS 

Os ambientes de Marte antes cheios de água

Micróbios desconhecidos no espaço? NASA quer tentar descobrir — Missão Genes in Space 3

Plantação espacial: conheça o Protótipo Lunar/Marciano Greenhouse 

As análises sobre os efeitos das viagens espaciais no sistema imunológico

Estudando a cristalização no espaço para melhorar remédios na Terra

Células troncos no espaço: mais ajuda para a saúde na Terra 

Yara Laiz Souza

Yara Laiz Souza

Estudante de Ciências Biológicas na Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Divulgadora Científica nas redes sociais, escreve para diversos sites e revistas online, tem uma modesta página no Facebook (Ciência em Pauta - Por Yara Laiz Souza) e, nas horas vagas, cultua fotos do Benedict Cumberbatch no celular.