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NASA lançou uma nave espacial em um asteroide e não foi exatamente como o esperado

Traduzido por Julio Batista
Original de Michelle Starr para o ScienceAlert

Em setembro do ano passado, após anos de planejamento e desenvolvimento cuidadosos, a NASA lançou uma espaçonave contra uma rocha à deriva no Sistema Solar que estava vagando por aí sem se meter com ninguém.

Não era pelo puro ódio às rochas espaciais ou pelo entretenimento de ver uma grande colisão; o motivo por trás desse experimento era testar nossa capacidade de desviar um asteroide de seu curso, o que seria bem interessante para a segurança planetária da Terra. E agora sabemos que estamos no caminho certo. Os resultados das análises estão disponíveis e o curso da rocha mudou significativamente mais do que o esperado.

Uma série de cinco papers descrevendo esse desvio de curso e os mecanismos por trás dele foram publicados na Nature.

Neste momento, o planeta sob nossos pés parece estar navegando serenamente pelo espaço vazio. Mas acontece que existem muitas rochas espaciais grandes lá fora, e se uma delas nos atingir, passaremos por maus bocados. Basta perguntar aos dinossauros.

Uma maneira de desviar qualquer grande asteroide que venha em nossa direção é colidir com rochas que se aproximam com uma espaçonave em alta velocidade. A transferência de momento da espaçonave para o asteroide poderia alterar sua trajetória pelo espaço apenas o suficiente para desviá-la de seu destino com a superfície da Terra.

O Double Asteroid Redirection Test (DART) foi uma tentativa de ver se isso era viável. O alvo foi cuidadosamente escolhido: Dimorphos, uma lua orbitando um asteroide maior chamado Didymos. Como o período orbital dos dois objetos foi bem caracterizado, qualquer mudança na trajetória de Dimorphos seria detectável como uma mudança em seu período orbital.

Com cerca de 160 metros de diâmetro, Dimorphos orbita o asteroide Didymos de 780 metros de largura aproximadamente uma vez a cada 11,9 horas. Esperava-se que o impacto do DART alterasse esse período orbital em cerca de 7 minutos.

Conforme descrito em um paper liderado pela astrônoma planetária Cristina Thomas, da Universidade Nordeste do Arizona, EUA, a mudança no período orbital foi muito mais dramática: Dimorphos agora orbita Didymos 33 minutos mais rápido do que antes do impacto. Duas análises separadas da órbita usando métodos diferentes encontraram o mesmo resultado.

Essa mudança maior do que o esperado no período orbital do sistema binário de asteroides não pode ser explicada apenas pela transferência de momento da espaçonave DART.

Um paper liderado pelo astrônomo Jian-Yang Li, do Instituto de Ciências Planetárias, apresentou um estudo detalhado do material que foi ejetado do asteroide como resultado do impacto explosivo. Não foi apenas o “cabum” imediato: por quase duas semanas após o impacto, Dimorphos continuou a expelir caudas de poeira, como um cometa muito seco.

Um terceiro paper, liderado pelo astrônomo Ariel Graykowski, do Instituto SETI nos EUA, estudou a luz refletida em Dimorphos antes, durante e depois do impacto. Um pouco mais de três semanas após a colisão, o brilho de Dimorphos voltou aos níveis normais pré-impacto. O nível de brilho durante esse período sugere que o asteroide perdeu 0,3 a 0,5% de sua massa total.

De acordo com um paper liderado pelo astrônomo Andrew Cheng, do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, EUA, esse material ejetado foi responsável pela maior parte da mudança na órbita do asteroide binário. Esse material que escapou transferiu mais impulso para Dimorphos do que foi transferido pela espaçonave DART durante seu momento de impacto.

“O impacto do DART”, eles escreveram, “demonstra que a transferência de momento para um asteroide alvo pode exceder significativamente o momento incidente do impactador cinético, validando a eficácia do impacto cinético para prevenir futuros impactos de asteroides na Terra”.

Finalmente, uma equipe liderada pelo cientista planetário Terik Daly, do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, reconstruiu o evento de impacto a partir dos dados coletados, incluindo a linha do tempo que antecedeu o impacto, uma caracterização detalhada do local do impacto e o tamanho e a forma de Dimorphos.

Suas descobertas são promissoras. A humanidade pode desviar com sucesso um asteroide de seu curso com conhecimento limitado de sua composição e condições de superfície, sem conduzir primeiro uma missão de reconhecimento cara e demorada.

Uma missão de deflexão de asteroides, idealmente, seria conduzida décadas antes do impacto projetado. Felizmente, o tempo é um recurso que temos de sobra agora: nenhum asteroide que conhecemos ameaçará a Terra por pelo menos 100 anos. Isso nos dá tempo para uma série de missões de reconhecimento para quaisquer ameaças periféricas, o que aumentaria as chances de deflexão bem-sucedida caso algo mudasse no futuro distante.

Diante disso, as informações que temos do DART são inestimáveis. Isso contribuirá para modelar e planejar futuras deflexões de asteroides, se necessário, para melhores previsões dos resultados do impacto explosivo de naves espaciais em rochas espaciais.

“O impacto bem-sucedido da espaçonave DART com Dimorphos e a mudança resultante na órbita de Dimorphos”, escreveram Daly e sua equipe, “demonstra que a tecnologia do impactador cinético é uma técnica viável para potencialmente defender a Terra, se necessário”.

Os trabalhos de pesquisa foram publicados na Nature. Eles podem ser encontrados aquiaquiaquiaquiaqui.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.