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Neandertais caçavam elefantes gigantes muito maiores do que os de hoje

Traduzido por Julio Batista
Original de David Nield para o ScienceAlert

Uma nova análise de ossos de 125.000 anos de idade de cerca de 70 elefantes levou a algumas novas revelações intrigantes sobre os neandertais da época: eles podiam trabalhar juntos para abater deliberadamente grandes presas e se reuniam em grupos maiores do que se pensava anteriormente.

Os ossos pertenciam a elefantes-de-presas-retas (Palaeoloxodon antiquus), uma espécie agora extinta que tinha quase 4 metros de altura dos pés até os ombros. Isso é quase o dobro do tamanho dos elefantes-africanos que estão vivos hoje, e cerca de 4 toneladas de carne teriam sido retiradas de cada carcaça.

Os pesquisadores estimam que uma equipe de 25 pessoas levaria de 3 a 5 dias para esfolar e depois secar ou defumar a carne do elefante. Isso indica que um grande grupo de neandertais estava por perto ou que eles tinham maneiras de preservar o volume colossal de carne.

Em ambos os casos, esses primeiros humanos começam a parecer mais sofisticados do que imaginávamos.

A pesquisadora Sabine Gaudzinski-Windheuser com uma reconstrução em tamanho real de um elefante-de-presas-retas macho adulto. (Créditos: Lutz Kindler, MONREPOS)

“Este é um trabalho realmente difícil e demorado”, disse Lutz Kindler, zooarqueólogo do Centro de Pesquisa Arqueológica MONREPOS, na Alemanha, à Science.

“Por que você mataria o elefante inteiro se vai desperdiçar metade da carne?”

Evidências de fogueiras de carvão ao redor do sítio arqueológico sugerem que a carne teria sido seca, o que é uma forma de fazê-la durar mais tempo. A caça teria sido suficiente para alimentar 350 pessoas por uma semana, ou 100 pessoas por um mês, de acordo com os pesquisadores – o que contraria a narrativa convencional de Neandertais vivendo em grupos menores de cerca de 20 pessoas.

As idades dos animais também são reveladoras. Eram quase todos machos adultos – se os hominídeos estivessem comendo carne de elefantes mortos, seriam de se esperar crianças e fêmeas. Aqui, parece que eles visaram deliberadamente os machos maiores para a carne extra, talvez emboscando-os na lama ou prendendo-os em fossos.

Marcas de cortes profundos no osso do calcanhar de um elefante macho. (Créditos: Sabine Gaudzinski-Windheuser et al., Science Advances, 2023)

Quase todos os ossos examinados mostraram evidências de abate cuidadoso. As marcas deixadas por outros animais eram poucas e distantes entre si, o que indica que não havia muita carne ou gordura nesses ossos quando os neandertais terminaram de usar eles.

“Isso constitui a evidência inequívoca mais antiga para o direcionamento e processamento sistemático de elefantes-de-presas-retas, os maiores mamíferos terrestres do Pleistoceno que já existiram”, escreveram os pesquisadores em seu paper publicado.

“Isso tem implicações importantes para nossas visões dos tamanhos, mobilidade e cooperação dos grupos locais neandertais”.

Cerca de 3.400 ossos de elefantes foram estudados no total, com os pesquisadores encontrando traços claros de marcas de corte e raspagem deixadas por ferramentas de sílex. É incomum encontrar evidências diretas de marcas de corte como essa, tornando-a uma descoberta importante.

O local de onde esses ossos foram retirados fica perto da cidade de Neumark-Nord, na Alemanha, e foi descoberto por mineradores de carvão na década de 1980. É um dos locais mais ricos que temos para estudar as atividades neandertais do último período interglacial (Eemiano), cerca de 130.000 a 115.000 anos atrás.

Nossos primos hominídeos são frequentemente retratados como menos inteligentes ou cultos do que os seres humanos modernos que eventualmente os substituíram, mas este estudo é o mais recente de uma pilha crescente de evidências de que havia mais nos neandertais do que poderíamos imaginar.

“Os neandertais não eram simples escravos da natureza, ou hippies originais que viviam da terra”, disse o arqueólogo Wil Roebroeks, da Universidade de Leiden, na Holanda, à Associated Press.

“Eles estavam realmente moldando seu ambiente, pelo fogo… e também por ter um grande impacto sobre os maiores animais que existiam no mundo naquela época.”

A pesquisa foi publicada na Science Advances.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.